“O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,a vida presente”. Carlos Drummond de Andrade
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
A sociedade
feudal
• Uma sociedade dividida
Um bispo do século XI, chamado Adalberón de Laon, resumiu em um poema a estrutura da sociedade feudal: havia os que oravam (clero), os que lutavam (nobreza) e
os que trabalhavam (campesinato).
Segundo
o bispo, essa estrutura era reflexo da estrutura celeste, representada pelo
Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo.
Alterar
essa ordem seria o mesmo que ir contra a vontade de Deus. Por essa razão, os que nasciam numa família de servos ou de nobres deveriam permanecer nessa condição para sempre,
o mesmo acontecendo com as gerações
seguintes.
« Os que lutam
Em geral, os nobres eram os únicos que podiam receber
feudos. A nobreza dividia-se em vários graus
de importância, determinada pelo título do nobre
(conde, duque, marquês e cavaleiro) . Esses
títulos passavam de pai para filho. O rei era o mais importante dos
nobres.
As
ocupações diárias dos nobres incluíam a
administração da justiça e a vigilância dos
servos a eles subordinados. Entre os nobres a
guerra era vista como fonte de riqueza e
ocupação. Em tempos de paz, eram promovidos torneios que simulavam combates.
Com o passar do tempo, a Igreja criou regras para esses torneios, a fim de evitar a perda de vidas e a destruição das plantações.A alimentação dos nobres, embora
mais nutritiva que a dos camponeses, era pouco variada.
Compunha-se principalmente de carne, peixe,
queijo, cebola, nabo, cenoura, feijão, ervilha, maçãs
e pêras. O açúcar só se tornou conhecido a
partir do século
XII e, mesmo assim, era tão caro que sóentrava nas cozinhas dos nobres mais poderosos.[
• Os que oram
O clero
dividia-se em dois grupos principais: o alto e o baixo clero.
O alto clero era formado,
em sua maioria, por pessoas nascidas nas
famílias nobres. Seus membros tinham muito poder e terras, e assumiam as seguintes tarefas. Cuidar da administração dos feudos, pois
eram, em geral,os únicos alfabetizados.
Por serem considerados
intermediários entre os homens eDeus, eram responsáveis por conduzir as almas
no caminho da salvação.
Ao baixo
clero cabia o trabalho braçal nas paróquias e o atendimento aos pobres e necessitados das vilas e regiões próximas da paróquia
ou do monastério.
" Os que
trabalham
O servo ou servo da gleba era a
principal força de trabalho do sistema feudal. Ele
estava preso à terra para o resto da vida. Em troca de proteção e do usufruto da terra, o servo devia cultivar os terrenos recebidos e as terras pessoais do senhor. Além disso, pagava impostos e fazia várias outras tarefas, como consertar
pontes, estradas etc.
A relação entre
os servos apoiava-se na solidariedade. Era comum várias famílias reunirem-se para construir a casa de um servo re-cém-casado, por exemplo, ou compartilharem os animais para a lavoura, já que poucos tinham cavalos e bois.
Outra categoria era a dos vilões, camponeses livres que viviam nas vilas. Eles se originaram dos trabalhadores livres do Império Romano que conseguiram adquirir pequenos lotes de terras. Com o passar do tempo, muitos desses vilões foram obrigados a ceder suas propriedades para os senhores em troca de proteção.
A escravidão era
pequena e restrita. Os escravos trabalhavam principalmente nos afazeres
domésticos dos castelos senhoriais.
A economia feudal e sua transformação: Uma economia agrária
A agricultura era a fonte de sustento
da maior parte da população. As
aldeias tendiam a ser auto-suficientes, ou seja, a produzir quase tudo que era necessário ao consumo dos moradores.
A base da alimentação eram os cereais, especialmente o
trigo e aveia (com o que faziam os
pães), as verduras e as leguminosas cultivadas
nas hortas. Alguns trabalhadores criavam galinhas, bois, carneiros e outros animais, que proporcionavam
leite, ovos, queijo e lã.No entanto, embora a agricultura de subsistência
tenha sido a base da economia feudal, o comércio
e o artesanato não desapareceram.
• O comércio. Apesar de escasso, o comércio local, praticado nas
proximidades dos castelos, sobreviveu por toda a Idade Média. O uso de dinheiro nessas transações comerciais era
reduzido, pois prevalecia a troca
direta de produtos, o chamado
escambo. Por exemplo, nas trocas que se faziam, um saco de grão-de-bico valeria cinco quilogramas de carne de
boi.
O comércio também foi muito desigual
em toda a Europa. Na região da
Escandinávia, onde estão hoje
Noruega, Suécia e Finlândia, e na Península Itálica já encontrávamos, no século
X, centros de comércio a longa
distância com mercadores europeus
e orientais.
• O artesanato. Nas vilas e nos feudos, também havia a atividade dos
artesãos, que produziam tecidos,
móveis, utensílios domésticos, ferramentas de trabalho (enxadas, foices etc.) e vários outros produtos. A maior parte desses artigos destinava-se ao consumo dos senhores feudais, mas também, em menor escala, ao uso dos camponeses, que os adquiriam por meio do escambo.
No entanto, foi a partir do século XI que o
comércio, o uso do dinheiro e a produção
artesanal em grande escala tornaram-se atividades regulares e numerosas, marcando o revigoramento da vida
urbana.
• As
transformações no feudalismo
A partir do
século X, inovações nas técnicas agrícolas e no emprego da
energia possibilitaram o aumento da produção de alimentos e o crescimento
populacional, transformando o feudalismo
europeu.Entre as inovações do período,
podemos citar:
Arado
de ferro (charrua), que substituiu o de madeira.Como
o arado de ferro é mais resistente e pesado que o de madeira, foi
possível arar mais fundo, revolvendo mais a terra,
tornando-a mais fofa e apropriada ao plantio. Com isso, solos mais
difíceis passaram a ser trabalhados, aumentando a quantidade
de terra disponível para o cultivo.
A
rotação trienal das culturas aumentoumuito a produtividade da
terra e a qualidade das plantas cultivadas. O trigo, por exemplo, que
rendia em média dois grãos por espiga, passou para cinco — um
aumento de 150% na
quantidade de trigo disponível para consumo (atualmentetemos em média 40 grãos por espiga).
quantidade de trigo disponível para consumo (atualmentetemos em média 40 grãos por espiga).
Uso
do cavalo para puxar o arado. Um novo sistema de tração
possibilitou usar o cavalo maltratando-o menos. Sendo o cavalo mais
ágil que o boi, foi possível cultivar áreas maiores, aumentando muito a produtividade
do campo.
Aprimoramento
e difusão dos moinhos acionados por rodas d'água ou por cata-ventos. Com
os novos moinhos, podia-se moer o trigo com muito mais eficiência e
rapidez.
O crescimento populacional
As
melhorias técnicas praticadas a partir do século X, a redução
das guerras feudais e o fim das invasões externas possibilitaram
uma produção maior de alimentos, originando assim um excedente
agrícola.
Esse
excedente teve dois efeitos muito importantes:
Possibilitou
o crescimento populacional. As inovações técnicas
permitiram o aumento da produção agrícola e a consequente melhoria na
alimentação. Com isso reduziu-se o número de mortes por fome e doenças, e abriu-se a possibilidade de as famílias sustentarem um número
maior de filhos. Esses fatores
levaram a uma explosão demográfica na
Europa. No século XIII, a população
europeia saltou de 23 milhões para 55 milhões de habitantes.
Possibilitou
o revigoramento do comércio e das cidades.Por toda a
Europa surgiram feiras comerciais, muitas das quais se
transformaram em cidades, que revitalizaram o comércio e o
uso do dinheiro.
• A expansão comercial e urbana
O
crescimento populacional trouxe consigo a necessidade de se obter mais espaço tanto
para plantar como para acomodar as
pessoas. Desse modo, houve uma intensa corrida por mais terras, levando ao desmatamento de florestas, ocupação
de terrenos alagadiços e abandonados e aterro de porções da
costa. Essa expansão permitiu que milhares
de servos fossem libertos ou
fugissem dos feudos, dirigindo-se às novas terras ou às cidades, fazendo-as crescer rapidamente. O comércio, por sua vez, cresceu em duas
direções: o local e o de longa
distância. Como os camponeses tinham um excedentede alimentos, passaram a trocá-los,
nas vilas e cidades, por produtos
que não possuíam (roupas, utensílios,
sapatos, móveis etc.). O comércio
local, portanto, valorizou o
trabalho artesanal, que se tornou,
junto com a atividade mercantil, o
centro dinâmico do desenvolvimento
das cidades.
O comércio
de longa distância, realizado principalmente pelas cidades italianas, como
mostra o mapa ao lado, era um comércio de artigos de luxo, baseado nas especiarias trazidas do Oriente. Esse comércio visava abastecer os senhores feudais enriquecidos com o crescimento agrícola e comercial e a própria burguesia.
Fonte: ?
O Brasil antes do Brasil
A velha história dos índios não
civilizados que habitavam nosso território quando os portugueses aqui chegaram
está dando lugar a outra sobre importantes civilizações. Pesquisas recentes
mostram que o país tem um passado bem mais rico do que se pensava. Em vários sítios arqueológicos são estudados
vestígios de antigos povos que remontam um cenário incrível. De norte a sul,
nossas terras abrigavam grupos organizados em classes e que ocupavam espaços
planejados.
Pesquisas arqueológicas feitas na
Amazônia descrevem o auge de sociedades formadas por indígenas de diversas
etnias que se tornaram auto-suficientes e criaram pólos de agricultura e
cerâmica entre 1000 e 2000 A.P. antes do presente, datação usada por
arqueólogos para se referir à pré-história que, nas Américas, segue divisão
diferente do restante do mundo.
O homem se adaptava de modo
sofisticado ao ambiente: usava a terra sem destruí-la e aumentava a
biodiversidade. Essas civilizações eram diferentes das de outras partes do
mundo, mas nem por isso mais simples.
Hoje também se sabe mais sobre os
sambaquis, comuns no litoral. Muito
além de amontoados de conchas e restos mortais como são descritos , esses
monumentos eram edificados para servir de moradia. Cai por terra, assim, a
idéia de que nossos ancestrais faziam parte de tribos distribuídas a esmo pela
floresta. Nesse mesmo sentido, estudos na área de Paleontologia revelam que há
10 mil anos habitavam áreas de todo o país animais de grande porte, como a
preguiça-gigante. Com eles conviviam antepassados humanos, como Luzia. A
mulher, cuja face com traços africanos foi reconstituída há dez anos, por meio
do crânio, passou a ocupar as páginas dos livros de História, mostrando que não
somos descendentes apenas de asiáticos. A humanidade evoluiu e sobreviveu a
mudanças geológicas, criou seu espaço e gerou riquezas culturais e ecológicas,
como a biodiversidade de hoje.
Assim como a pluralidade de
plantas e a fértil terra preta da Amazônia não são obras divinas, o modo de
vida dos ribeirinhos amazonenses não é uma invenção atual. Ambos são herança de
uma ocupação humana milenar. Acredita-se que diferentes partes da região, de
Rondônia ao Pará, incluindo o baixo rio Negro, próximo a Manaus, já eram
ocupadas 9 mil anos atrás. Esses povos sobreviviam da pesca, da coleta e da
caça, provavelmente num contexto climático semelhante ao atual uma vez que um
reaquecimento global fez aumentar as chuvas e o nível dos rios, causando cheias
há 18 mil anos.
Os sítios
arqueológicos
É possível que o processo de
domesticação de inúmeras plantas hoje consumidas, como mandioca e pupunha,
tenha sido iniciado pelos primeiros índios da região. Para chegar a essa
conclusão sobre as formas antigas de cultivo, os estudiosos se baseiam também
nas práticas atuais. As hortas presentes nos quintais das casas, por exemplo,
já existiam ao redor das aldeias há cerca de mil anos. Para formá-las, os
homens derrubavam somente matas secundárias, com árvores menores, já que
dispunham apenas de machados de pedra, e não de metal, para abrir clareiras. Outra
importante contribuição do homem pré-histórico é a terra preta, que não existia
originalmente na Amazônia. Ela surgiu graças ao acúmulo contínuo de restos
orgânicos há 4 mil anos.
Organização social
Os rastros de aldeias
sedentárias, formadas por centenas de pessoas, datam de 3 mil anos atrás. O
tamanho e a duração dos sítios arqueológicos refletem mudanças nos padrões de
ocupação do território, principalmente no que se refere à organização social. É
preciso desmitificar a idéia de que a Amazônia era uma coisa só.Entre os anos
400 e 1300, 40 mil habitantes ocuparam quase toda a ilha de Marajó, morando em
casas de chão batido construídas sobre palafitas de terra, que costumavam ser
maiores nas famílias mais abastadas. A constatação de que a figura da mulher
era freqüentemente representada em divindades e peças como urnas funerárias
leva os pesquisadores a crer que a sociedade tenha sido matrilinear, ou seja,
de descendência materna. Isso não impede que homens tenham sido chefes.Enquanto
o homem pescava, a mulher cuidava da aldeia, da roça e da produção de cerâmica.
Estudos demonstram que as peças mais adornadas, como tangas destinadas a
adolescentes, foram produzidas por pessoas com maior poder econômico. Elas
foram encontradas somente em locais de cerimônias e moradias da elite. Nos
séculos 16 e 17, europeus navegaram pelo rio Amazonas e descreveram aldeias com
milhares de pessoas. Em várias delas, na Amazônia central, construíam-se
montículos (espécie de palafita feita de terra preta e cacos de cerâmica).
As depressões de relevo ali
encontradas são indícios de que eles serviam tanto para proteger casas contra
alagamentos como para demonstrar poder, já que tinham tamanhos variados.
Acredita-se que havia mão-de-obra específica, com divisão de tarefas, a serviço
de alguém. Embora os sepultamentos não sejam comuns nos montículos, restos
funerários de um deles remetem à existência de uma elite. Havia chefes
supremos, mas não reis nem Estados.
A terra preta hoje se mistura a
centenas de cacos de cerâmica cujas variadas técnicas de produção revelam a
presença simultânea de diferentes culturas. Isso pode comprovar também a
ocorrência de conflitos entre aldeias, causados pela chegada de outros povos.
Esta informação se relaciona à
anterior: áreas ocupadas no século 9 guardam sinais de valas artificiais com
estacas, aparentemente usadas para defesa. Embora instabilidades políticas
tenham gerado episódios de ocupação e o abandono de assentamentos, foram os
europeus que exterminaram os índios em ataques e por meio da escravidão e da
transmissão de doenças. Com isso, os sobreviventes foram para o interior. Em
áreas próximas a rios densamente ocupadas na época hoje vivem caboclos que
cultivam a terra dos sítios arqueológicos e pisam, diariamente, sobre as
cerâmicas feitas pelos antepassados.
Sábias ocupações
No alto Xingu, arqueólogos e
antropólogos contam com a ajuda dos índios kuikurus para mapear o espaço
ocupado por seus ancestrais. Aldeias circulares, cercadas por valas artificiais
e conectadas por estradas, formam uma estrutura que remete a uma civilização de
1,1 mil anos atrás.
A aldeia atual, em forma de anel,
foi um dia um conjunto de oito a 12 aldeias cerca de dez vezes maior, como
mostra o infográfico acima. "Esse povo, formado por grupos independentes
integrados em uma nação, como os do atual Xingu, tinha noções sofisticadas de
Matemática e Engenharia", explica o arqueólogo americano Michael
Heckenberger.
Essa antiga sociedade xinguana se
caracterizava pelo vasto conhecimento de cartografia e astronomia. Assim como os
europeus desenvolveram tecnologias inovadoras utilizando o ferro e o bronze, os
nativos americanos incorporaram a cosmologia, o estudo da origem e evolução do
universo. Exatamente como no império inca de Cuzco, o maior das Américas,
afirma o pesquisador. Os índios do Xingu, porém, constituíram uma paisagem
lateral contrária aos monumentos verticais típicos das civilizações clássicas
cercada de muito verde. "Eles não desmatavam grandes áreas contíguas
porque acreditavam ter parentesco com a floresta", conta Heckenberger.
"Até hoje os kuikurus se dizem descendentes de árvores." As áreas
abertas, enfim, eram exclusivas para os assentamentos e o cultivo de roças de
mandioca e árvores frutíferas.
Bem longe dali, entre 10 mil e
mil anos atrás, os sambaquis (do tupi-guarani tampa, marisco, e ki, amontoado)
eram erguidos por comunidades litorâneas também para demarcar território. Mas
havia outras funções para essas pirâmides de areia e conchas. "Construídos
em tempos diferentes por comunidades diversas, elas podiam servir de base para
moradias ou cemitério", conta Flávio Calippo, arqueólogo subaquático do
MAE-USP. No sambaqui Jabuticabeira 2, de Jaguaruna, a 157 quilômetros de
Florianópolis, há 40 mil corpos.
Terra de gigantes
Há 11 mil anos, em áreas formadas
por vastos cerrados e sob um clima frio e seco, os primeiros grupos de homens
do país tiveram o privilégio (ou não) de conviver com animais de grande porte
hoje extintos, como a preguiça-gigante. Surgido na América do Sul há 30 milhões
de anos e pertencente à família dos tatus e dos tamanduás, o animal evoluiu em
mais de 500 tipos e ocupou todo o continente americano. Em 1996, depois de 160
anos de estudos, pôde-se enfim montar um esqueleto completo da preguiça-gigante
graças à ossada encontrada na Chapada Diamantina, na Bahia. No local havia
também ossos de tigres-dentes-de-sabre e mastodontes.
Reportagem
: Débora Didonê - Colaborou Deca Pinto, Revista Nova Escola( Adaptação)
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