“O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,a vida presente”. Carlos Drummond de Andrade
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
Evangelização à brasileira
domingo, 9 de dezembro de 2012
O pensar e o conhecimento
terça-feira, 20 de novembro de 2012
Dia Nacional da Consciência Negra
O
dia 20 de novembro é denominado o Dia Nacional da Consciência Negra. É uma referência
à morte de Zumbi,
o então líder do Quilombo dos Palmares, em 1695. Zumbi é visto como um dos símbolos
de resistência negra à escravidão. Essa
data é marcada por várias críticas e oposições, já que muitos a consideram
desnecessária, pois vivemos em um país plurirracial, e ao se estabelecer um dia
para celebrar uma raça, estaríamos fomentando o preconceito racial. Minhas
reflexões a seguir tentarão compreender a importância de uma data como essa
para os brasileiros.
A
primeira questão a se colocar é que se há uma data especifica para se pensar
nacionalmente a questão racial negra é porque ela não está resolvida. Ainda
hoje, os dados estatísticos apontam que a população negra brasileira tem mais
dificuldade de inserção no mercado de trabalho, menor grau de escolarização e
pouco acesso aos bens culturais. Esse fato é inegável. O argumento de que esse
problema é simplesmente social, pois fruto da má distribuição de renda
histórica em nosso país não me parece correto, pois pode ser entendido como um
reforço à discriminação racial, já que os negros e pobres sofrem duplo
preconceito, ou seja, além do preconceito de classe, o negro pobre ainda
enfrenta o preconceito racial.
Os
mais de 300 anos de escravidão em nossa sociedade estabeleceram e congelaram os
papeis sociais entre brancos e negros, estigmatizando determinadas funções como
sendo de pretos e outras de brancos. Naturalizou-se assim a ideia de que existe
um lugar para os negros, e se eles ficarem quietinhos ali não sofrerão
discriminação. Quando o negro ousa abrir a boca, “O branco cala ou deixa a
sala com veludo nos tamancos”, afirma a música “Respeitem meus cabelos,
branco”, de Chico Cesar. Não se estabelece o diálogo, pois a questão é
rebaixada como algo de menor importância, chamada de “mimimi”.
O
Dia Nacional da Consciência Negra é importante para refletirmos sobre como a
sociedade tem lidado com o racismo, já que o mito da democracia racial nos
impede até de discutirmos o assunto. Penso que, em uma sociedade igualitária de
fato não seria preciso o estabelecimento de dia do negro, do índio, da mulher, do
combate à homofobia etc. Mas enquanto tais questões não forem resolvidas, o
debate tem que ocorrer e todos nós temos um dever moral de nos posicionarmos
quanto a esse problema.
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
Zumbi vive na Serra da Barriga
Em 20 de novembro de 1695, Nzumbi dos Palmares caía
lutando em mata perdida do sul da capitania de
Pernambuco. Seu esconderijo fora revelado por lugar-
tenente preso e barbaramente torturado. Mutilaram seu
corpo. Enfiaram seu sexo na boca. Expuseram a cabeça
do palmarino na ponta de uma lança em Recife. Os
trabalhadores escravizados e todos os oprimidos deviam
saber a sorte dos que se levantavam contra os senhores
das riquezas e do poder.
Em 1654, com a expulsão dos holandeses do Nordeste,
os lusitanos lançaram expedições para repovoar os
engenhos com os cativos fugidos ou nascidos nos
quilombos da capitania. Para defenderem- se, as aldeias
quilombolas confederaram- se sob a chefia política do
Ngola e militar do Nzumbi. A dificuldade dos
portugueses de pronunciar o encontro consonantal
abastardou os étimos angolanos nzumbi em zumbi,
nganga nzumba, em ganga zumba. A confederação teria
uns seis mil habitantes, população significativa para a
época.
Em novembro de 1578, em Recife, Nganga Nzumba
rompeu a unidade quilombola e aceitou a anistia
oferecida apenas aos nascidos nos quilombos, em troca
do abandono dos Palmares e da vil entrega dos cativos
ali refugiados ou que se refugiassem nas suas novas
aldeias.
Acreditando nos escravizadores, Ganga Zumba deu as
costas aos irmãos de opressão e aceitou as miseráveis
facilidades para alguns poucos. Abandonou as alturas
dos Palmares pelos baixios de Cucuá, a 32 quilômetros
de Serinhaém. Foi seduzido por lugar ao sol no mundo
dos opressores, pelas migalhas das mesas dos
algozes.
Então Nzumbi assumiu o comando político-militar da
confederação.
Para ele, não havia cotas para a liberdade ou
privilegiados no seio da opressão! Exigia e lutava
altaneiro pelo direito para todos!
Não temos certeza sobre o nome próprio do último
nzumbi que chefiou a confederação após a defecção de
Nganga Nzumba. Documentos e a tradição oral
registram-no como Nzumbi Sweca.
Nos derradeiros ataques aos Palmares, as armas de
fogo e a capacidade dos escravistas de deslocar e
abastecer rapidamente os soldados registravam o maior
nível de desenvolvimento das forças produtivas
materiais do escravismo, apoiado na superexploração
dos trabalhadores feitorizados. As tropas luso-
brasileiras eram a ponta de lança nas matas palmarinas
da divisão mundial do trabalho de então.
Não havia possibilidade de coexistência pacífica entre
escravidão e liberdade. Palmares era república de
produtores livres, nascida no seio de despótica
sociedade escravista, que surge hoje nas obras da
historiografia apologética como um quase paraíso
perdido, onde a paz, a transigência e a negociação
habitavam as senzalas. Palmares era exemplo e atração
permanentes aos oprimidos que corroíam o câncer da
escravidão.
Como já lembraram, nos anos 1950, o historiador
marxista-revolucionário francês Benjamin Pérret e o
piauiense comunista Clóvis Moura, a confederação dos
Palmares venceria apenas se espraiasse a rebelião aos
escravizados dos engenhos, roças e aglomeração do
Nordeste, o que era então materialmente impossível.
Palmares não foi porém luta utópica e inconsequente.
Por longas décadas, pela força das armas e a
velocidade dos pés, assegurou para milhares de homens
e mulheres a materialização do sonho de viver em
liberdade de seu próprio trabalho. Indígenas, homens
livres pobres, refugiados políticos eram aceitos nos
Palmares. Eram braços para o trabalho e para a
resistência.
A proposta da retomada da escravidão colonial em
Palmares, com Zumbi com um “séquito de escravos
para uso próprio”, é lixo historiográfico sem qualquer
base documental, impugnado pela própria necessidade
de consenso dos palmarinos contra os escravizadores.
Trata-se de esforço ideológico de sicofantas
historiográficos para naturalizar a opressão do homem
pelo homem, propondo- a como própria a todas e
quaisquer situações históricas.
Palmares garantiu que milhares de homens e mulheres
nascessem, vivessem e morressem livres. Ao contrário,
em poucos anos, os seguidores de Ganga Zumba foram
reprimidos, re-escravizados ou retornaram fugidos aos
Palmares, encerrando- se rápida e tristemente a traição
que dividiu e fragilizou a resistência quilombola.
A paliçada do quilombo do Macaco foi a derradeira
tentativa de resistência estática palmarina, quando a
resistência esmorecia. Ela foi devassada em fevereiro de
1694, por poderoso exército, formado por brancos,
mamelucos, nativos e negros, entre eles, o célebre Terço
dos Enriques, formado por soldados e oficiais africanos
e afro-descendentes. Não havia e não há consenso
racial e étnico entre oprimidos e opressores.
O último reduto palmarino, defendido por fossos,
trincheiras e paliçadas, encontrava- se nos cimos de
uma altaneira serra.
A Serra da Barriga e regiões próximas, na Zona da Mata
alagoana, com densa vegetação, são paragens de beleza
única. Quem se aproxima da serra, chegado do litoral,
maravilha-se com o espetáculo natural. O maciço
montanhoso rompe abruptamente, diante dos olhos, no
horizonte, como fortaleza natural expugnável, dominando
as terras baixas, cobertas pelo mar verde dos canaviais
flutuando ao lufar do vento.
Se apurarmos o ouvido, escutaremos os atabaques
chamando às armas, anunciando a chegada dos
negreiros malditos. Sentiremos a reverberação dos tam-
tans lançados do fundo da história, lembrando às
multidões que labutam, hoje, longuíssimas horas ao dia,
não raro até a morte por exaustão, por alguns punhados
de reais, nos verdes canaviais dessas terras que já
foram livres, que a luta continua, apesar da já longínqua
morte do general negro de homens livres.
Mario Maestri é professor do programa de pós-
graduação em História da UPF.
Fonte:
http://www.brasildefato.com.br/node/11171
Escultura de Zumbi dos Palmares na praça da Sé, em
Salvador (BA) -
Foto: Gorivero/CC
sábado, 3 de novembro de 2012
Mês da Consciência Negra
período em que se aprofunda a reflexão sobre a inserção do negro
em nossa sociedade. No dia 20 se celebra a memória de Zumbi dos
Palmares, representante das lutas históricas dos afro-brasileiros
contra a exploração, a exclusão e o preconceito social.
Para começarmos a pensar e a discutir sobre isso,
vejamos essa música do Chico César:
Respeitem meus cabelos, brancos
Chegou a hora de falar
Vamos ser francos
Pois quando um preto fala
O branco cala ou deixa a sala
Cabelo veio da áfrica
Junto com meus santos
Benguelas, zulus, gêges
Rebolos, bundos, bantos
Batuques, toques, mandingas
Danças, tranças, cantos
Respeitem meus cabelos, brancos
Se eu quero pixaim, deixa
Se eu quero enrolar, deixa
Se eu quero colorir, deixa
Se eu quero assanhar, deixa
Deixa, deixa a madeixa balançar.
História da África
Bibliografia:
DAVIDSON, Basil. O fardo do homem negro. Os efeitos do estado-nação em África. Lisboa: Campos das Letras, 1992.
OLIVIER, Roland. A Experiência Africana: Da Pré História aos Dias Atuais. RJ, Jorge Zahar Ed, 1994.
Ancestrais: uma introdução à História da. África Atlântica, Mary Del Priore e Renato. Pinto Venâncio. José Alexandre da Silva
Veja mais:
Africanos no Brasil
domingo, 28 de outubro de 2012
Ginga, a incapturável
diplomacia para se manter no poder por quase 40 anos
Mariana Bracks
Não foi fácil para Portugal retirar milhares de pessoas da África para servirem como escravos na
América. Longas lutas de resistência foram travadas contra a colonização, que contava com
altos investimentos militares e uma política que combinava opressão, violência e alianças com
A trajetória de Nzinga Mbandi é um exemplo de como os chefes centro-africanos enfrentaram o
avanço português. Hábil guerreira, estrategista política e militar, Nzinga foi uma líder
carismática, uma rainha que passou a vida combatendo e morreu sem nunca ter sido capturada.
Nasceu em 1582, filha do oitavo Ngola (do qual derivaria o nome Angola), título do principal
régulo do reino do Ndongo. Os portugueses haviam iniciado a colonização a partir de Luanda
sete anos antes, e foram ganhando o interior com a construção de “presídios” – fortificações
militares no curso do Rio Kwanza, que abrigavam os comerciantes de escravos – e a
organização de feiras em que a principal mercadoria eram as pessoas escravizadas. Criaram
também um sistema de avassalamento de sobas , os chefes locais autônomos que pagavam
tributos ao Ngola em troca de proteção militar e espiritual. Após a invasão portuguesa, eles eram
batizados e se declaravam fieis à Coroa. Essa condição incluía diversos compromissos: fornecer
baculamentos (tributos pagos geralmente em escravos), dar passagem às tropas do governo,
permitir kitandas (feiras e mercados) em seu território e contribuir com escravos para serem
soldados da “guerra preta” – o pelotão que lutava junto aos portugueses.
A guerra se generalizava, e com ela o clima de instabilidade. Os sobados intensificavam ataques
a povoados vizinhos para saldar suas dívidas com os portugueses, pois os prisioneiros
capturados em guerra eram escravizados. Ao sinal de qualquer atitude considerada infiel, o
governo português invadia os sobados e matava seus líderes, substituindo-os por chefes aliados.
Foi nesse contexto de penetração portuguesa no reino do Ndongo, movido pelo tráfico negreiro,
que Nzinga Mbandi cresceu. No reinado de seu irmão Ngola Mbandi, agravou-se a tensão entre
os locais e os conquistadores. Em 1617, o governador de Angola, Luis Mendes de Vasconcelos,
invadiu o reino do Ndongo para construir o presídio de Mbaka, a poucas milhas da Cabaça, a
moradia do Ngola. O resultado foi uma guerra intensa, ao fim da qual Ngola, vencido, refugiou-
se na ilha de Kindonga, no Rio Kwanza. Em 1622, João Correia de Sousa assumiu o governo e
decidiu procurar o Ngola para restabelecer a paz, uma vez que o cenário de guerra paralisara os
mercados de escravos. Foi quando Nzinga entrou em cena.
Ngola Mbandi mandou sua irmã mais velha como embaixadora para negociar a paz com os
portugueses. Na audiência com o governador, ela impressionou a todos por sua inteligência e
habilidade diplomática. Defendeu a manutenção da independência do Ndongo e o não
pagamento de qualquer tributo à Coroa portuguesa, mas se mostrou aberta ao comércio.
Entendendo que a paz com os portugueses passava pelo batismo cristão, aceitou o sacramento:
recebeu o nome de D. Anna de Sousa, tendo como padrinho o próprio governador. De sua parte,
os portugueses se comprometeram a efetivar a retirada do presídio de Mbaka.
O acordo, porém, não foi cumprido nem por aquele governador nem pelos sucessores. A situação
levou ao enfraquecimento político de Ngola Mbandi, que morreu na ilha de Kindonga, em 1624,
em circunstâncias que continuam sendo uma incógnita para a historiografia de Angola. Nzinga
se apoderou das insígnias reais e assumiu o trono do Ndongo.
A nova rainha foi associada à possibilidade de libertação do povo Mbundo, etnia predominante
no reino Ndongo. As crescentes fugas de kimbares – escravos que guarneciam os presídios ou
eram dados pelos sobas para comporem a “guerra preta” – enfraqueciam as tropas lusas,
enquanto fortaleciam o exército de Nzinga. Aproveitando-se desse contexto favorável, a rainha
lançou uma campanha antilusitana, formando e liderando uma confederação de descontentes
com a colonização. Conquistou o apoio de sobas que já haviam se avassalado, além de
poderosos chefes que não pertenciam ao Ndongo, como o Ndembo Mbwila (Ambuíla).
Capturar Nzinga e reduzi-la à obediência passou a ser um dos objetivos principais do governo
português. Em 1626, o governador de Angola, Fernão de Sousa, arquitetou um golpe político para
que Are a Kiluanje, um vassalo dos portugueses, assumisse o trono. Nzinga se refugiou na ilha
de Kindonga e conseguiu se livrar do cerco usando sabiamente a geografia do local, deslocando-
se pelas diversas ilhas do Rio Kwanza. Quando as tropas lusas enfim a encurralaram em
Kindonga, ela mandou seus embaixadores informarem que estava disposta a se render e se
avassalar. Para isso, no entanto, pediu uma trégua de três dias. Passado o prazo, os
portugueses perceberam que tinham caído em um golpe: Nzinga já estava longe dali.
A rainha foi então buscar proteção junto aos temidos jagas , guerreiros nômades que se
organizavam em kilombos – acampamentos que se deslocavam conforme as necessidades de
guerra, com rígida hierarquia e severa disciplina militar. Nzinga recebeu o título feminino mais
importante no kilombo – Tembanza –, assumindo funções rituais essenciais. Imprimiu
consciência política aos bandos, que até então viviam errantes, praticando roubos e sem se
prenderem a linhagens. Sob o comando de Nzinga, os kilombos passaram a compor a frente de
resistência contra a ameaça estrangeira. O incrível poderio bélico que Nzinga conseguiu
mobilizar junto aos jagas foi crucial para se manterem livres e vencer os portugueses por várias
vezes.
Por volta de 1630, Nzinga ocupou o reino de Matamba (Ndongo Oriental), terra evocativa de seus
ancestrais e tradicionalmente governada por mulheres. Foi na condição de rainha de Matamba
que ela soube da invasão holandesa em Angola, em 1641. Ali estava uma oportunidade de
estabelecer nova aliança para minar a presença portuguesa na região. Nzinga aproximou-se dos
invasores, e juntos criaram uma importante rota comercial que conectava Luanda (agora de
posse holandesa) a Matamba, trocando escravos por mercadorias europeias, sobretudo armas de
fogo.
Era fundamental para a oligarquia do Rio de Janeiro restabelecer o domínio do mercado de
escravos em Angola. Isso foi conseguido em 1648 por iniciativa de Salvador de Sá, que
organizou tropas formadas por índios e bandeirantes para expulsar os holandeses. A vitória lusa
teve o efeito direto de enfraquecer a rainha Nzinga. Suas duas irmãs foram capturadas e
mantidas como reféns pelos portugueses. Kifunge acabou assassinada em Massangano, acusada
de espionagem. Mocambo ficou presa em Luanda, utilizada como arma política a fim de forçar a
rendição de Nzinga.
O papa Gregório XV, com o objetivo de diminuir o poder que as coroas ibéricas tinham
acumulado com as colonizações, criara em 1622 a Propaganda Fide – a “propagação da fé” –,
que permitiu a ida à África Central de missionários que não tinham relações com a Coroa
portuguesa. Entre eles estavam os capuchinhos, que chegaram à região na década de 1640.
Nzinga enxergou nesses religiosos outra possibilidade de fazer novos aliados europeus que não
fossem ligados ao governo português. Por meio do capuchinho italiano Antonio de Gaeta, Nzinga
retornou ao catolicismo em 1656, renegando os ritos gentílicos e aceitando a fé de Cristo. A
conversão ao cristianismo foi uma saída estratégica, pois, já idosa, ela sabia que a cruz seria o
caminho mais rápido para a paz e para conseguir o retorno de Mocambo, sua irmã indicada à
sucessão de Matamba, enfim libertada pelos portugueses em 1657.
A líder de Matamba morreu em dezembro de 1663, com mais de 80 anos, sepultada de acordo
com os ritos cristãos. O povo Mbundo a venerou como “rainha imortal”, que nunca se entregou e
que jamais aceitou a submissão aos invasores. Sua fama atravessou o Atlântico e chegou ao
Brasil. Aqui, o nome Ginga, ou Jinga, é evocado em rodas de capoeira, em congados e
maracatus de múltiplas formas: como guerreira que engana os adversários, inimiga da corte
cristã, venerável ancestral de Angola.
Mariana Bracks é autora da dissertação “Nzinga Mbandi e as guerras de resistência. Século
XVII” (USP, 2012).
Fonte: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/retrato/ginga-a-incapturavel-1
sábado, 27 de outubro de 2012
Unidos pelo tráfico
África, embarcaram rumo à escravidão nas Américas e em ilhas africanas como São Tomé. No
entanto, a escravidão na África é bem anterior à presença dos europeus no continente. O reino
do Congo, por exemplo, já usava mão de obra escrava para o serviço militar, administrativo e na
agricultura antes da chegada dos portugueses, no início do século XVI. A chegada dos lusitanos
modificou e intensificou a prática, uma vez que Congo e Angola eram pontos estratégicos na
transferência de escravos do interior para a costa. A aliança entre a nobreza congolesa e os
portugueses rendeu bons frutos: ambos aumentaram seus lucros com o tráfico e conseguiram
expulsar os “terríveis” Jagas ,que ocuparam a capital entre 1568 e 1572 . Além disso, a elite do
Congo podia investir em lavouras em São Tomé, administrada pelos portugueses. Lá, os ricos
congoleses casavam suas filhas com os portugueses residentes, fortalecendo ainda mais a
aliança.
Os acordos com os europeus eram importantes para os africanos num cenário em que estes
soberanos tinham dificuldade em consolidar seus domínios e manter centralizado seu território.
Os lusitanos não eram os únicos com interesses na região, muito menos os únicos a fazer
acordos. Os ingleses e holandeses também estavam por lá, e em 1640, com a ajuda da rainha
Nzinga, expulsaram os portugueses de Luanda. Só que por pouco tempo.
http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/mapa