Um milagre
para poucos
Durante
o período de maior repressão no regime militar, os indicadores mostravam uma
economia saudável e em ritmo de crescimento acelerado no Brasil. O País vivia
o momento mais próspero em termos de crescimento. O milagre econômico, que
teve início em 1969 e auge em 1973, foi conduzido pelo general Emílio
Garrastazu Médici.
O
ministro da Fazenda, Antônio Delfim Netto, era chamado de “czar da economia”.
A classe média era adulada com os bons indicadores e com o enriquecimento do
País a olhos vistos. O milagre era uma moeda-de-troca: o governo oferecia
prosperidade no lugar de liberdade individual e política.
O
País chegou a crescer 7% ao ano, mas o preço disso foi alto. A conta seria
cobrada nas décadas seguintes. Por causa do autoritarismo na condução da
política econômica – que atendeu aos interesses imediatos dos generais de
manter uma “ilha de prosperidade num mar de depressão” –, o Brasil não pisou
no freio no momento em que a economia mundial se recolhia em conseqüência da
crise do petróleo. O resultado disso foi um endividamento externo enorme, que
transformou os anos 80 em “década perdida”.
Logo
após o golpe de 1964, quando os militares derrubaram o presidente João
Goulart e o marechal Castelo Branco assumiu o poder, a economia brasileira
estava
Economia
ajustada, chegou a hora de crescer. O foco do governo era o investimento na
infra-estrutura. Os setores de telecomunicações, energia elétrica e
petroquímica se desenvolveram. O governo incentivava o consumo, com
financiamentos de até 60 meses. “Com as decisões rápidas e fechadas do
governo militar, o Brasil cresceu rápido como um foguete”, diz Jorge
Nogueira.
Política econômica foi “mãe” da classe média A política econômica da ditadura privilegiou alguns setores. Empresários que apoiavam o regime militar receberam incentivos. De um modo geral, a situação econômica melhorou para todos, mas de forma desigual. A classe média cresceu. Ricos ficaram muito mais ricos. Pobres ficaram apenas menos pobres. Segundo o professor da UnB, o regime militar estimulou a desigualdade. A classe média foi a “filha querida” do governo.
O
entusiasmo com o bom desempenho da economia fez com que o governo militar
tomasse a decisão errada quando o mundo enfrentou a primeira crise do
petróleo. No final de 1973, o preço do barril do petróleo subiu
excessivamente. Em 1979, houve outro choque nos preços do combustível. Todos
os países retraíram sua economia, com exceção do Brasil. O grande problema é
que o País precisa de capital externo para continuar crescendo. Como não
havia mais investimentos, o governo optou pelos empréstimos.
“Os
militares, dentro de uma euforia, resolveram manter o desenvolvimento tomando
emprestado os chamados petrodólares, que estavam abundantíssimos e a juros
baixos”, conta João Paulo de Almeida Magalhães, integrante do Conselho
Federal de Economia e pesquisador do Instituto de Estudos Políticos e
Sociais. Mas os juros eram flutuantes e ficaram muito altos. “O País ficou
muito vulnerável. O aumento das taxas de juros internacionais fez a dívida
explodir e o Brasil parar de crescer”, afirma Paulo Vizentini, historiador da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O final do governo militar ficou
marcado pela crescente dívida externa e inflação galopante. Além da
responsabilidade de redemocratizar o País, o governo civil herdou uma
economia decadente, distante do milagre vivido anos antes.
Enquanto
os brasileiros comemoravam o fim da ditadura no País, em
|
Jornal Estado de Minas,
28 de março de 2004.
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