domingo, 29 de setembro de 2013

Quais são os cinco países mais desenvolvidos da África?

Seicheles

O maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da África é de um arquipélago que fica no Oceano Índico, a nordeste de Madagascar: a República de Seicheles. O país está em 50o lugar no ranking da Organização das Nações Unidas (ONU) de 2008, com um IDH de 0,843. O Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU traz indicadores para 175 países que fazem parte do organismo internacional, mais Palestina e Hong Kong. O Brasil é apenas o 70o, com um índice de 0,800. O primeiro lugar, Islândia, tem 0,968 e o último, o país africano de Serra Leoa, apenas 0,336.
O arquipélago de Seicheles já foi disputado por Inglaterra e França e tornou-se colônia britânica em 1814. A independência aconteceu em 1976. A língua oficial continua sendo o inglês, apesar de a maior parte da população falar o creole. Um fator que explica o desenvolvimento do país é seu tamanho reduzido - segundo dados do relatório The World Factbook, produzido pela agência americana CIA, a população estimada em 2009 é de apenas 87 mil pessoas. A expectativa de vida ao nascer é de 73,02 anos (no Brasil, ela é 72 anos), e 91,8% dos maiores de 15 anos sabem ler e escrever (contra 88,6 no nosso país). Seicheles tem desenvolvimento considerado elevado segundo a classificação da ONU. O PIB é pequeno, 1,473 bilhões de dólares em 2008, mas o PIB per capita é de 17 mil dólares, o 71o melhor do mundo. Como comparação, a nação brasileira tem um PIB de 1.99 trilhões de dólares, mas o PIB per capita é de 10.000 dólares. A maior parte dos ganhos do país vêm do setor de turismo, que emprega 30% da força de trabalho. A pesca de atum também é muito forte em Seicheles.

Maurícia
Também entre os países de desenvolvimento elevado está a República de Maurícia ou Ilhas Maurício, com IDH de 0,804 e 65o no ranking da ONU. O país foi explorado pelos portugueses no século 16 e depois passou pelo controle de holandeses, franceses e ingleses. O nome da ilha é uma homenagem ao príncipe holandês Maurício de Orange-Nassau. A independência aconteceu apenas em 1968 e hoje o inglês continua sendo a língua oficial, mas é falado por apenas 1% da população. O idioma corrente é o creole. Segundo dados da CIA, a população de Maurícia é de 1,2 milhões de pessoas, com expectativa de vida ao nascer de 74 anos. Entre os maiores de 15 anos, 88,4% sabem ler e escrever. A base da economia são a indústria têxtil e a da cana de açúcar. Em 2008, o PIB foi de 15,36 bilhões de dólares, 12.100 dólares per capita.

Tunísia 
No 91o lugar do ranking da ONU está a República da Tunísia, com um IDH de 0,766. Até 1956, o país era um protetorado francês. Desde então, está na mão de ditadores - o primeiro presidente, Habib Bourguiba, ficou no poder por 31 anos e foi deposto em um golpe militar por Zine el Abidine Ben Ali, que controla o país até hoje. Segundo dados da CIA, a população atual da Tunísia está em cerca de 10 milhões de pessoas, que usam o árabe como idioma oficial. A expectativa de vida ao nasceré de 75,78 anos e 74,3% da população maior de 15 anos é letrada. A economia da Tunísia é bem diversificada, com destaque para o setor agrícola, de mineração, turismo e indústria. Em 2008, o PIB da Tunísia foi de 81 bilhões de dólares, o 73o maior do mundo, mas o PIB per capita ficou em 7.900 dólares. Pela classificação da ONU, está entre os países de desenvolvimento médio.

Cabo Verde
A ex-colônia portuguesa é o quarto país africano com o maior IDH no continente, 0,736, no 102o lugar na comparação mundial, dentro da categoria de desenvolvimento médio. A República de Cabo Verde só se tornou independente em 1975 e, segundo a CIA, até hoje é um dos governos mais democráticos da África. Porém, as sucessivas crises econômicas e as altas taxas de desemprego na segunda metade do século 20 fizeram com que grande parte da população emigrasse para a Europa, os Estados Unidos e outros países da África. Segundo dados oficiais do governo de Cabo Verde, hoje a população de cabo-verdianos de 1ª geração residentes fora do país é de cerca de 500 mil pessoas, maior do que a população nacional, que é de 430 mil. No país, fala-se português e crioulo (uma língua que mistura português e dialetos africanos) e, pelos dados da CIA, 76,6% da população maior de 15 anos é alfabetizada. A expectativa de vida ao nascer é de 71,61 anos. O PIB do país em 2008 foi de 1,635 bilhões de dólares e o PIB per capita ficou em 3.800 dólares. Cerca de 75% do PIB vem do setor de serviços, incluindo comércio, transportes, turismo e serviços públicos.

Argélia 
No ranking da ONU, a República da Argélia é o país com o 104o maior IDH do mundo: 0,733. Apesar de ser a quinta nação com o melhor índice no continente africano, ela tem uma história conturbada. Em 1962, o país se tornou independente da França depois de uma década de luta. Desde então, o partido Frente de Libertação Nacional (FLN) domina a política do país. Porém, a oposição do partido extremista Frente Islâmica de Salvação (FIS) causou conflitos intensos entre 1992 e 1998, e, como conseqüência, houve mais de 100 mil mortes. Apesar do FIS ter sido dissolvido, até hoje grupos islâmicos continuam provocando ataques, sequestros e até explosões de bomba. Atualmente, a economia do país é baseada em petróleo e a Argélia tem um PIB de 235 bilhões de dólares, o 49o maior do mundo. Só que o PIB per capita é de 7 mil dólares. A população é de 34 milhões de pessoas, com expectativa de vida ao nascer de 74,02 anos. 

A África já existia antes dos europeus

Conheça os reinos que formavam a África antes da chegada dos europeus

O professor do Ensino Médio Jorge Euzébio Assumpção, do Colégio Estadual Presidente Arthur da Costa e Silva, em Porto Alegre, faz questão de mostrar como o continente africano era dividido em reinos antes da chegada dos europeus.

Livros, internet e textos produzidos pelo professor são fonte para os estudantes perceberem a estrutura social e política dos diversos povos. O reino do Congo, por exemplo, era dividido em aldeias familiares, distritos e províncias e todos os governadores eram conselheiros do rei. No império de Gana, os monarcas se reuniam todos os dias com os súditos para papear, ouvir reclamações e tomar decisões.

Essas informações são comparadas com o modo de vida do negro no nosso país, na época da escravidão, nos quilombos e nos dias de hoje.

"A tradição oral é forte nas culturas africanas, mas os povos também sabiam ler, escrever e viviam em cidades desenvolvidas", destaca Assumpção. Baseados em relatos, os alunos construíram a maquete da cidade universitária de Tumbuctu, que começou a se desenvolver a partir do ano 12.

Clique e veja o  infográfico.

Fonte: Revista Nova Escola

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Religiões Tradicionais Africanas

Resumo interessante sobre a religiosidade dos povos africanos

As religiões tradicionais africanas não possuem textos escritos ou livros sagrados, mas se baseiam na tradição, ou narração passada de geração para geração, sobre os conteúdos e a maneira de viver sua religiosidade. Isso se dá em forma de histórias, ritos, provérbios, danças, músicas, festas.
Um erro comum é supor que todos os povos africanos são da mesma raça e que tiveram a mesma origem, o que leva a supor que tenham também os mesmos costumes e a mesma religião. Para melhor se compreender sobre qual região da África ou qual religião será abordada divide-se assim:
1) África do norte: desde o Atlântico e Mediterrâneo até o Saara, incluindo o Egito e a Etiópia. Esta região é dominada pelo Islamismo e pelo Cristianismo.
2) África centro-sul: desde a Rep. Dos Camarões, Quênia..., até o extremo sul. Esta parte da África, povoada principalmente por tribos aborígenes, é dominada pelas religiões tradicionais, exceto uma relevante percentagem que praticam o cristianismo, o islamismo e até o hinduísmo.
ESPIRITUAL E MATERIAL
A religião tradicional africana distingue dois aspectos da realidade: aquilo que é visível, físico, material..., e aquilo que é invisível e espiritual. Estes dois aspectos fundem-se entre si: nenhuma coisa do mundo físico é tão material que não contenha em si elementos do mundo espiritual. Isto conduziu à crença de que há espíritos nas pedras, nas montanhas, nos rios, nas árvores, nos trovões, no Sol e na Lua... Daí a religião tradicional africana ser muitas vezes chamada também de religião animista.
Seus praticantes vivem em profunda harmonia com todo o universo e esforçam-se para comportar-se de maneira adequada, conforme as leis morais. Isso não significa que não existem momentos religiosos mais destacados de outros, considerados profanos, mas toda a vida é sustentada pelo elemento religioso que une os seres, o cosmo, o mundo invisível e o Ser Superior. Todo o universo tem uma alma.
OS RITOS
Ritos, cerimônias e preces são algumas das modalidades através das quais o ser humano procura se expressar e alcançar sua própria harmonia com o todo. Mas o que importa é a atitude interior que caracteriza a vida dos povos tradicionais, uma atitude profundamente religiosa. Cada fato cotidiano, banal ou importante, é colocado num contexto que supera a dimensão material.
O ritual sacraliza os momentos importantes da vida: nascimento, adolescência, matrimônio e morte. Existe, além disso, uma grande variedade de ritos: de iniciação, purificação, propiciação, comemoração, ação de graças etc.
Os ritos de iniciação garantem a boa integração na comunidade dos vivos, e os ritos fúnebres garantem a benevolência dos antepassados: por isso, devem ser bem feitos. Frequentemente, a iniciação é também o ingresso em uma “sociedade secreta”, onde se aprendem ritos secretos, mitos secretos e mesmo uma linguagem secreta...
Os africanos possuem lugares de culto, embora muito modestos: pequenas cabanas, altares junto aos caminhos, cumes de montanhas... As oferendas são feitas para pedir saúde, vida, sucesso...
A oração comunitária é a preferida e exprime-se com danças e cantos. O mesmo acontece com os ritos: impera a criatividade, o movimento, o dinamismo.
ELEMENTOS
As religiões tradicionais africanas, diferentes em muitas manifestações, de acordo com os respectivos povos, possuem vários pontos comuns essenciais, mas tendo como objeto central a vida.
Potências espirituais: Abaixo do Ser Supremo existem inúmeras potências mais ou menos espirituais, que se ocupam das coisas mundanas, em lugar do Ser Supremo, e que, por isso, são muito invocadas (como os orixás do ioruba).
Demiurgo: A criação foi feita mediante um demiurgo (artífice), que é um antepassado mítico, às vezes identificado com o fundador do povo, ao qual se devem tanto a geração do ser humano como a introdução dos costumes, ofícios e ritos.
Ritos de iniciação: Como todos os povos primitivos, os africanos dão importância aos ritos de iniciação que, não raro, exigem provas duríssimas, até sangrentas (mutilações).
Danças: Na falta de livros, os ritos desempenham papel importante na manutenção viva e atuante das tradições religiosas e sociais. Neste sentido, as danças são de fundamental importância, pois, no seu ritmo e dinamismo, dão a máxima expressão a todas as atividades do grupo.
Curandeiros: Com artes próprias, como incisões e aplicações de ervas, e mesmo com o recurso da sugestão, atendem às necessidades do povo.
Culto: Em geral, os africanos não possuem estátuas, nem templos e sacerdotes. Os sacrifícios de animais (porcos, cães, cabritos, aves...) não são oferecidos a Deus como adoração, mas aos orixás (espíritos intermediários), como veículo de comunicação com os vivos, já que o sangue é tido como portador de vida.
Moral: Para o africano, moral e religião são praticamente a mesma coisa. As ações que prejudicam a convivência humana ou o equilíbrio das forças naturais são punidas pela autoridade tribal ou reparadas por ritos religiosos, pois irritam igualmente os espíritos, provocando calamidades públicas, como secas, enchentes, enfermidades, mortes... Desta forma, o africano se vê obrigado a respeitar os bens, a vida e a pessoa do próximo, ainda que não conheça preceitos morais impostos por Deus. O adultério é também severamente condenado, embora a vida sexual seja encarada com muita tolerância, pois se trata do exercício de uma função vital.

Vodu Haitiano
A maioria dos africanos que foram trazidos como escravos para o Haiti eram da Costa da Guiné da África ocidental, e seus descendentes são os primeiros praticantes de Vodu. Uma das maiores diferenças, entre o Vodu africano e o Haitiano é que os africanos transplantados do Haiti foram obrigados a disfarçar o seu lwa (espíritos) como santos católicos romanos, um processo chamado sincretismo.
A maioria dos peritos especula que isto foi feito numa tentativa de esconder a sua "religião pagã" de seus senhores, que os tinham proibido de praticar. Dizer que o Vodu haitiano é simplesmente uma mistura das religiões africanas ocidentais com um verniz de Catolicismo romano não estaria inteiramente correto.
Isto estaria ignorando numerosas influências indígenas Taíno, assim como o processo evolutivo a que Vodu se submeteu ao longo da história do Haiti. Também estaria ignorando a grande influência do paganismo europeu no Catolicismo romano e o panteão dos seus próprios santos.
A cerimônia mais importante historicamente do Vodu na história do Haiti era a cerimônia Bwa Kayiman ou Bois Caïman de agosto 1791, que começou a Revolução Haitiana, em que o espírito de Ezili Dantor possuía um clérigo e recebia um porco preto como oferenda, e todos as pessoas presentes comprometeram-se com a luta pela liberdade. Esta cerimônia resultou finalmente na libertação dos povos do Haiti da dominação colonial francesa em 1804, e o estabelecimento da primeira república de povos negros na história do mundo.
Este Vodu Haitiano cresceu nos Estados Unidos de forma significativa a partir do final dos anos 1960 e começo dos anos 1970 com as levas de imigrantes haitianos fugindo do regime opressivo de Duvalier, estabelecendo-se em MiamiNova IorqueChicago, e outras cidades.

Desconhecimento
No vodu se venera um deus principal, o Bon Dieux e aos antepassados. Como esta crença é pouco conhecida, seu nome costuma invocar ritos tribais nos quais um feiticeiro crava agulhas em um boneco para fazer com que alguma vítima, talvez a muitos quilômetros de distância, sofra dores horríveis, ataques cardíacos ou doenças incuráveis. A palavra vodu vem do vocábulo africano "Dahomey vodun" ou Vodun da África Ocidental, que significa espírito ancestral.

Crenças
No vodu haitiano acredita-se, de acordo com tradição africana difundida, que há um Deus que é o criador de tudo, chamado de "Bondje" (“bom deus”).
 O voduísta adora o deus, e serve aos espíritos, que são tratados com honra e respeito como se fossem membros mais velhos de uma casa. Diz-se que são vinte e uma nações ou "nanchons" dos espíritos, também chamadas às vezes "lwa-yo". Algumas das nações mais importantes do lwa são o Rada, o Nago, e o Kongo. Os espíritos vêm também nas "famílias" que compartilham de um sobrenome, como Ogou, ou Ezili, ou Azaka ou Ghede. Por exemplo, "Ezili" é uma família, Ezili Dantor e Ezili Freda são dois espíritos individuais nessa família. A família de Ogou é de soldados, o Ezili governa as esferas femininas da vida, o Azaka governa a agricultura, o Ghede governa a esfera da morte e da fertilidade. Há literalmente centenas de lwas. Os lwas mais conhecidos são Danbala Wedo, Papa Legba Atibon, e Agwe Tawoyo.
No Vodu haitiano os espíritos são divididos de acordo com sua natureza em basicamente duas categorias, se são quentes ou frios. Os espíritos frios entram sob a categoria Rada, e os espíritos quentes entram sob a categoria Petro. Os espíritos de Rada são familiares e vêm na maior parte da África, e os espíritos de Petro são na maior parte nativos do Haiti e requerem mais atenção ao detalhe do que o Rada, mas ambos podem ser perigosos se irritados ou contrariados. Nenhum é "bom" ou "mau" com relação ao outro.
Ao servir os espíritos, o voduísta busca conseguir a harmonia com sua própria natureza individual e o mundo em torno dele, manifestado como fonte de poder pessoal relacionado à vida. Parte desta harmonia é preservar o relacionamento social dentro do contexto da família e da comunidade. Uma casa ou uma sociedade de Vodu é organizada pela metáfora de uma família extensa, e os noviços são os "filhos" de seus iniciadores, com o sentido da hierarquia e da obrigação mútua que implica.
Liturgia e prática
Após um dia ou dois de preparação de altares, preparando ritualmente e cozinhando galinha e os outros alimentos, etc., um ritual de Vodu haitiano começa com uma série de preces e de cantigas católicas em francês, e então uma litania em Kreyol e no "langaj africano" que abrange todos os santos e lwas europeus e africanos honrados pela casa, e depois em uma série das invocações para todos os espíritos principais da casa. Isto é chamado o "Priyè Gine" ou a prece africana. Após mais canções introdutórias, começando com saudar o espírito dos tambores nomeado Hounto, as cantigas para todos os espíritos individuais são entoadas, começando com a família de Legba com todos os espíritos de Rada, a seguir há uma ruptura e a parte Petro do ritual começa, terminando com as cantigas para a família de Ghede. Ao serem entoadas as cantigas os espíritos virão visitar os presentes através da possessão dos indivíduos, falando e agindo com eles. Cada espírito é saudado e cumprimentado pelos noviços presentes e dará consultas, conselhos e curas àqueles que solicitarem por sua ajuda. Muitas horas mais tarde nas primeiras horas da manhã, a última canção é entoada, despede-se os convidados, e todos os hounsis, houngans e manbos esgotados podem ir dormir.
Individualmente, um voduista pode ter um ou mais altares preparados para seus antepassados e o espírito, ou os espíritos, a que serve com retratos ou estátuas dos espíritos, de perfumes, de alimentos, e de outras coisas preferidas por seus espíritos. O altar mais básico é apenas uma vela branca e um copo de água e talvez flor. No dia de um espírito particular, acende-se uma vela e então sauda-se e fala ao espírito particular como um membro mais velho da família. Os antepassados são chamados diretamente, sem mediação de Papa Legba, já que são "do sangue".
Valores e ética
Os valores culturais que Vodu engloba centram em torno das ideias da honra e do respeito - ao deus, aos espíritos, à família e à sociedade, e a si mesmo. O amor e a sustentação dentro da família da sociedade de Vodu parecem ser a consideração mais importante. A generosidade em dar à comunidade e aos pobres é também um valor importante. As dádivas vêm através da comunidade e há a ideia que se deve ser disposto a retribuir por sua vez. Desde que Vodu tem tal orientação da comunidade, não há "solitários" em Vodu, somente as pessoas separadas geograficamente de seus antepassados e casa. Uma pessoa sem um relacionamento de algum tipo com pessoas idosas não estará praticando Vodu como se compreende no Haiti e entre Haitianos.
No Vodu Haitiano a orientação sexual ou identidade de gênero e da expressão de um praticante não é de nenhum interesse em um ambiente ritual. Vê-se apenas como uma maneira em que o deus fez uma pessoa. Os espíritos ajudam a cada pessoa simplesmente ser a pessoa que são.

domingo, 1 de setembro de 2013

Globo reconhece que apoio editorial ao golpe de 64 foi um erro


Interessante o mea culpa da Globo ao reconhecer o que o Brasil inteiro sabia, que é sua participação ativa e efetiva no Golpe de 1964 e em todo o período Militar. As Organizações Globo nos apontam a necessidade de se entender tal decisão no contexto no contexto histórico, e que o apoio à quartelada  parecia ser o único caminho a ser adotado à época.

Penso que é um avanço esse reconhecimento da Globo, mas ele já é fruto dos movimentos sociais que estão nas ruas e que fazem a crítica constante ao império global. Mas acho que é HISTÓRICO também a ligação da Globo com as forças conservadoras do país e a sua hegemonia atual não é mera coincidência. Os Marinhos apoiaram e se beneficiaram da Ditadura Militar, se tornaram no maior império de comunicações do Brasil por isso. Quando outros setores da imprensa perceberam os absurdos dos militares, retiraram seu apoio, o que a Globo não fez.

A defesa da democracia no final do texto parece cômica.  Que democracia é essa em que o "padrão Globo de qualidade e sociedade" é imposto goela abaixo de milhões de brasileiros que tem como única fonte de informação a TV aberta, dominada pela plim plim?  A  minha conclusão é que as Organizações Globo continuam sendo hipócritas como sempre foram.


Leia o editorial da Globo publicado no dia 01 de setembro de 2013:

  • "A consciência não é de hoje, vem de discussões internas de anos, em que as Organizações Globo concluíram que, à luz da História, o apoio se constituiu um equívoco

RIO - Desde as manifestações de junho, um coro voltou às ruas: “A verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura”. De fato, trata-se de uma verdade, e, também de fato, de uma verdade dura.
Já há muitos anos, em discussões internas, as Organizações Globo reconhecem que, à luz da História, esse apoio foi um erro.
Há alguns meses, quando o Memória estava sendo estruturado, decidiu-se que ele seria uma excelente oportunidade para tornar pública essa avaliação interna. E um texto com o reconhecimento desse erro foi escrito para ser publicado quando o site ficasse pronto.
Não lamentamos que essa publicação não tenha vindo antes da onda de manifestações, como teria sido possível. Porque as ruas nos deram ainda mais certeza de que a avaliação que se fazia internamente era correta e que o reconhecimento do erro, necessário.
Governos e instituições têm, de alguma forma, que responder ao clamor das ruas.
De nossa parte, é o que fazemos agora, reafirmando nosso incondicional e perene apego aos valores democráticos, ao reproduzir nesta página a íntegra do texto sobre o tema que está no Memória, a partir de hoje no ar:
1964
“Diante de qualquer reportagem ou editorial que lhes desagrade, é frequente que aqueles que se sintam contrariados lembrem que O GLOBO apoiou editorialmente o golpe militar de 1964.
A lembrança é sempre um incômodo para o jornal, mas não há como refutá-la. É História. O GLOBO, de fato, à época, concordou com a intervenção dos militares, ao lado de outros grandes jornais, como “O Estado de S.Paulo”, “Folha de S. Paulo”, “Jornal do Brasil” e o “Correio da Manhã”, para citar apenas alguns. Fez o mesmo parcela importante da população, um apoio expresso em manifestações e passeatas organizadas em Rio, São Paulo e outras capitais.
Naqueles instantes, justificavam a intervenção dos militares pelo temor de um outro golpe, a ser desfechado pelo presidente João Goulart, com amplo apoio de sindicatos — Jango era criticado por tentar instalar uma “república sindical” — e de alguns segmentos das Forças Armadas.
Na noite de 31 de março de 1964, por sinal, O GLOBO foi invadido por fuzileiros navais comandados pelo Almirante Cândido Aragão, do “dispositivo militar” de Jango, como se dizia na época. O jornal não pôde circular em 1º de abril. Sairia no dia seguinte, 2, quinta-feira, com o editorial impedido de ser impresso pelo almirante, “A decisão da Pátria”. Na primeira página, um novo editorial: “Ressurge a Democracia”.
A divisão ideológica do mundo na Guerra Fria, entre Leste e Oeste, comunistas e capitalistas, se reproduzia, em maior ou menor medida, em cada país. No Brasil, ela era aguçada e aprofundada pela radicalização de João Goulart, iniciada tão logo conseguiu, em janeiro de 1963, por meio de plebiscito, revogar o parlamentarismo, a saída negociada para que ele, vice, pudesse assumir na renúncia do presidente Jânio Quadros. Obteve, então, os poderes plenos do presidencialismo. Transferir parcela substancial do poder do Executivo ao Congresso havia sido condição exigida pelos militares para a posse de Jango, um dos herdeiros do trabalhismo varguista. Naquele tempo, votava-se no vice-presidente separadamente. Daí o resultado de uma combinação ideológica contraditória e fonte permanente de tensões: o presidente da UDN e o vice do PTB. A renúncia de Jânio acendeu o rastilho da crise institucional.
A situação política da época se radicalizou, principalmente quando Jango e os militares mais próximos a ele ameaçavam atropelar Congresso e Justiça para fazer reformas de “base” “na lei ou na marra”. Os quartéis ficaram intoxicados com a luta política, à esquerda e à direita. Veio, então, o movimento dos sargentos, liderado por marinheiros — Cabo Ancelmo à frente —, a hierarquia militar começou a ser quebrada e o oficialato reagiu.
Naquele contexto, o golpe, chamado de “Revolução”, termo adotado pelo GLOBO durante muito tempo, era visto pelo jornal como a única alternativa para manter no Brasil uma democracia. Os militares prometiam uma intervenção passageira, cirúrgica. Na justificativa das Forças Armadas para a sua intervenção, ultrapassado o perigo de um golpe à esquerda, o poder voltaria aos civis. Tanto que, como prometido, foram mantidas, num primeiro momento, as eleições presidenciais de 1966.
O desenrolar da “revolução” é conhecido. Não houve as eleições. Os militares ficaram no poder 21 anos, até saírem em 1985, com a posse de José Sarney, vice do presidente Tancredo Neves, eleito ainda pelo voto indireto, falecido antes de receber a faixa.
No ano em que o movimento dos militares completou duas décadas, em 1984, Roberto Marinho publicou editorial assinado na primeira página. Trata-se de um documento revelador. Nele, ressaltava a atitude de Geisel, em 13 de outubro de 1978, que extinguiu todos os atos institucionais, o principal deles o AI5, restabeleceu o habeas corpus e a independência da magistratura e revogou o Decreto-Lei 477, base das intervenções do regime no meio universitário.
Destacava também os avanços econômicos obtidos naqueles vinte anos, mas, ao justificar sua adesão aos militares em 1964, deixava clara a sua crença de que a intervenção fora imprescindível para a manutenção da democracia e, depois, para conter a irrupção da guerrilha urbana. E, ainda, revelava que a relação de apoio editorial ao regime, embora duradoura, não fora todo o tempo tranquila. Nas palavras dele: “Temos permanecido fiéis aos seus objetivos [da revolução], embora conflitando em várias oportunidades com aqueles que pretenderam assumir a autoria do processo revolucionário, esquecendo-se de que os acontecimentos se iniciaram, como reconheceu o marechal Costa e Silva, ‘por exigência inelutável do povo brasileiro’. Sem povo, não haveria revolução, mas apenas um ‘pronunciamento’ ou ‘golpe’, com o qual não estaríamos solidários.”
Não eram palavras vazias. Em todas as encruzilhadas institucionais por que passou o país no período em que esteve à frente do jornal, Roberto Marinho sempre esteve ao lado da legalidade. Cobrou de Getúlio uma constituinte que institucionalizasse a Revolução de 30, foi contra o Estado Novo, apoiou com vigor a Constituição de 1946 e defendeu a posse de Juscelino Kubistchek em 1955, quando esta fora questionada por setores civis e militares.
Durante a ditadura de 1964, sempre se posicionou com firmeza contra a perseguição a jornalistas de esquerda: como é notório, fez questão de abrigar muitos deles na redação do GLOBO. São muitos e conhecidos os depoimentos que dão conta de que ele fazia questão de acompanhar funcionários de O GLOBO chamados a depor: acompanhava-os pessoalmente para evitar que desaparecessem. Instado algumas vezes a dar a lista dos “comunistas” que trabalhavam no jornal, sempre se negou, de maneira desafiadora.
Ficou famosa a sua frase ao general Juracy Magalhães, ministro da Justiça do presidente Castello Branco: “Cuide de seus comunistas, que eu cuido dos meus”. Nos vinte anos durante os quais a ditadura perdurou, O GLOBO, nos períodos agudos de crise, mesmo sem retirar o apoio aos militares, sempre cobrou deles o restabelecimento, no menor prazo possível, da normalidade democrática.
Contextos históricos são necessários na análise do posicionamento de pessoas e instituições, mais ainda em rupturas institucionais. A História não é apenas uma descrição de fatos, que se sucedem uns aos outros. Ela é o mais poderoso instrumento de que o homem dispõe para seguir com segurança rumo ao futuro: aprende-se com os erros cometidos e se enriquece ao reconhecê-los.
Os homens e as instituições que viveram 1964 são, há muito, História, e devem ser entendidos nessa perspectiva. O GLOBO não tem dúvidas de que o apoio a 1964 pareceu aos que dirigiam o jornal e viveram aquele momento a atitude certa, visando ao bem do país.
À luz da História, contudo, não há por que não reconhecer, hoje, explicitamente, que o apoio foi um erro, assim como equivocadas foram outras decisões editoriais do período que decorreram desse desacerto original. A democracia é um valor absoluto. E, quando em risco, ela só pode ser salva por si mesma.”

Fonte: Globo