segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

A sociedade feudal


• Uma sociedade dividida
Um bispo do século XI, chamado Adalberón de Laon, resu­miu em um poema a estrutura da sociedade feudal: havia os que oravam (clero), os que lutavam (nobreza) e os que traba­lhavam (campesinato).
Segundo o bispo, essa estrutura era reflexo da estrutura ce­leste, representada pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo.
Alterar essa ordem seria o mesmo que ir contra a vontade de Deus. Por essa razão, os que nasciam numa família de servos ou de nobres deveriam permanecer nessa condição para sempre, o mesmo acontecendo com as gerações seguintes.

« Os que lutam
Em geral, os nobres eram os únicos que podiam receber feudos. A nobreza dividia-se em vários graus de importância, deter­minada pelo título do nobre (conde, duque, marquês e cavalei­ro) . Esses títulos passavam de pai para filho. O rei era o mais importante dos nobres.
As ocupações diárias dos nobres in­cluíam a administração da justiça e a vigi­lância dos servos a eles subordinados. En­tre os nobres a guerra era vista como fonte de riqueza e ocupação. Em tempos de paz, eram promovidos torneios que simulavam combates.
Com o passar do tempo, a Igreja criou re­gras para esses torneios, a fim de evitar a per­da de vidas e a destruição das plantações.A alimentação dos nobres, embora mais nutritiva que a dos camponeses, era pouco variada. Compunha-se principalmente de carne, peixe, queijo, cebola, nabo, cenou­ra, feijão, ervilha, maçãs e pêras. O açúcar só se tornou conhecido a partir do século
XII e, mesmo assim, era tão caro que sóentrava nas cozinhas dos nobres mais poderosos.[
• Os que oram
O clero dividia-se em dois grupos principais: o alto e o baixo clero.
O alto clero era formado, em sua maioria, por pessoas nas­cidas nas famílias nobres. Seus membros tinham muito poder e terras, e assumiam as seguintes tarefas. Cuidar da administração dos feudos, pois eram, em geral,os únicos alfabetizados.
Por serem considerados intermediários entre os homens eDeus, eram responsáveis por conduzir as almas no cami­nho da salvação.
Ao baixo clero cabia o trabalho braçal nas paróquias e o aten­dimento aos pobres e necessitados das vilas e regiões próximas da paróquia ou do monastério.
" Os que trabalham
O servo ou servo da gleba era a principal força de trabalho do sistema feudal. Ele estava preso à terra para o resto da vida. Em troca de proteção e do usufruto da terra, o servo devia culti­var os terrenos recebidos e as terras pessoais do senhor. Além disso, pagava impostos e fazia várias outras tarefas, como con­sertar pontes, estradas etc.
A relação entre os servos apoiava-se na solidariedade. Era comum várias famílias reunirem-se para construir a casa de um servo re-cém-casado, por exemplo, ou compartilharem os animais para a lavoura, já que poucos tinham cavalos e bois.
Outra categoria era a dos vilões, camponeses livres que viviam nas vilas. Eles se originaram dos trabalhadores livres do Império Romano que conseguiram adquirir pequenos lotes de terras. Com o passar do tempo, muitos desses vilões foram obrigados a ce­der suas propriedades para os senhores em troca de proteção.
A escravidão era pequena e restrita. Os escravos trabalhavam principalmente nos afazeres domésticos dos castelos senhoriais.



A economia feudal e sua transformação: Uma economia agrária


A agricultura era a fonte de sustento da maior parte da população. As aldeias tendiam a ser auto-suficientes, ou seja, a produzir quase tudo que era necessário ao consumo dos moradores.
A base da alimentação eram os cereais, especialmente o trigo e aveia (com o que faziam os pães), as verduras e as leguminosas cultivadas nas hortas. Alguns trabalhadores criavam galinhas, bois, carneiros e outros animais, que proporcionavam leite, ovos, queijo e lã.No entanto, embora a agricultura de subsistência tenha sido a base da economia feudal, o comércio e o artesanato não desa­pareceram.
• O comércio. Apesar de escasso, o comércio local, praticado nas proximidades dos castelos, sobreviveu por toda a Idade Média. O uso de dinheiro nessas transações comerciais era reduzido, pois prevalecia a troca direta de produtos, o chama­do escambo. Por exemplo, nas trocas que se faziam, um saco de grão-de-bico valeria cinco quilogramas de carne de boi.
O comércio também foi muito desigual em toda a Europa. Na região da Escandinávia, onde estão hoje Noruega, Suécia e Finlândia, e na Península Itálica já encontrávamos, no século X, centros de comércio a longa distância com mercadores eu­ropeus e orientais.
• O artesanato. Nas vilas e nos feudos, também havia a atividade dos artesãos, que produziam te­cidos, móveis, utensílios domésticos, ferramentas de trabalho (enxadas, foices etc.) e vários outros produtos. A maior parte desses artigos destinava-se ao consumo dos senhores feudais, mas também, em menor escala, ao uso dos camponeses, que os adquiriam por meio do escambo.
No entanto, foi a partir do século XI que o comércio, o uso do dinheiro e a produção artesanal em grande escala tornaram-se atividades regulares e numerosas, marcando o revigoramento da vida urbana.
• As transformações no feudalismo
A partir do século X, inovações nas técnicas agrícolas e no emprego da energia possibilitaram o aumento da produção de alimentos e o crescimento populacional, transformando o feu­dalismo europeu.Entre as inovações do período, podemos citar:
Arado de ferro (charrua), que substituiu o de madeira.Como o arado de ferro é mais resistente e pesado que o de madeira, foi possível arar mais fundo, revolvendo mais a ter­ra, tornando-a mais fofa e apropriada ao plantio. Com isso, solos mais difíceis passaram a ser trabalhados, aumentando a quantidade de terra disponível para o cultivo.
A rotação trienal das culturas aumentoumuito a produtividade da terra e a qualidade das plantas cul­tivadas. O trigo, por exemplo, que rendia em média dois grãos por espiga, passou para cinco — um aumento de 150% na
quantidade de trigo disponível para consumo (atualmentetemos em média 40 grãos por espiga).
Uso do cavalo para puxar o arado. Um novo sistema de tração possibilitou usar o cavalo maltratando-o menos. Sendo o cavalo mais ágil que o boi, foi possível cultivar áreas maiores, aumentando muito a produtividade do campo.
Aprimoramento e difusão dos moinhos acionados por ro­das d'água ou por cata-ventos. Com os novos moinhos, po­dia-se moer o trigo com muito mais eficiência e rapidez.
O crescimento populacional
As melhorias técnicas praticadas a partir do século X, a redu­ção das guerras feudais e o fim das invasões externas possibilita­ram uma produção maior de alimentos, originando assim um excedente agrícola.
Esse excedente teve dois efeitos muito importantes:
Possibilitou o crescimento populacional. As inovações téc­nicas permitiram o aumento da produção agrícola e a consequente melhoria na alimentação. Com isso reduziu-se o número de mortes por fome e doenças, e abriu-se a possi­bilidade de as famílias sustentarem um número maior de filhos. Esses fatores levaram a uma explosão demográfica na Europa. No século XIII, a população europeia saltou de 23 milhões para 55 milhões de habitantes.
Possibilitou o revigoramento do comércio e das cidades.Por toda a Europa surgiram feiras comerciais, muitas das quais se transformaram em cidades, que revitalizaram o co­mércio e o uso do dinheiro.
•        A expansão comercial e urbana
O crescimento populacional trouxe consigo a necessidade de se obter mais espaço tanto para plantar como para acomo­dar as pessoas. Desse modo, houve uma intensa corrida por mais terras, levando ao desmatamento de florestas, ocupação de ter­renos alagadiços e abandonados e aterro de porções da costa. Essa expansão permitiu que milhares de servos fossem libertos ou fugissem dos feudos, dirigindo-se às novas terras ou às cida­des, fazendo-as crescer rapidamente. O comércio, por sua vez, cresceu em duas direções: o local e o de longa distância. Como os camponeses tinham um excedentede alimentos, passaram a trocá-los, nas vilas e cidades, por pro­dutos que não possuíam (roupas, utensílios, sapatos, móveis etc.). O comércio local, portanto, valo­rizou o trabalho artesanal, que se tornou, junto com a atividade mercantil, o centro dinâmico do desenvolvimento das cidades.

O comércio de longa distância, realizado principalmente pelas ci­dades italianas, como mostra o mapa ao lado, era um comércio de artigos de luxo, baseado nas es­peciarias trazidas do Oriente. Esse comércio visava abastecer os se­nhores feudais enriquecidos com o crescimento agrícola e comer­cial e a própria burguesia.

Fonte: ?

O Brasil antes do Brasil


            A velha história dos índios não civilizados que habitavam nosso território quando os portugueses aqui chegaram está dando lugar a outra sobre importantes civilizações. Pesquisas recentes mostram que o país tem um passado bem mais rico do que se pensava. Em vários sítios arqueológicos são estudados vestígios de antigos povos que remontam um cenário incrível. De norte a sul, nossas terras abrigavam grupos organizados em classes e que ocupavam espaços planejados.
Pesquisas arqueológicas feitas na Amazônia descrevem o auge de sociedades formadas por indígenas de diversas etnias que se tornaram auto-suficientes e criaram pólos de agricultura e cerâmica entre 1000 e 2000 A.P. antes do presente, datação usada por arqueólogos para se referir à pré-história que, nas Américas, segue divisão diferente do restante do mundo.
O homem se adaptava de modo sofisticado ao ambiente: usava a terra sem destruí-la e aumentava a biodiversidade. Essas civilizações eram diferentes das de outras partes do mundo, mas nem por isso mais simples.
Hoje também se sabe mais sobre os sambaquis, comuns no litoral. Muito além de amontoados de conchas e restos mortais como são descritos , esses monumentos eram edificados para servir de moradia. Cai por terra, assim, a idéia de que nossos ancestrais faziam parte de tribos distribuídas a esmo pela floresta. Nesse mesmo sentido, estudos na área de Paleontologia revelam que há 10 mil anos habitavam áreas de todo o país animais de grande porte, como a preguiça-gigante. Com eles conviviam antepassados humanos, como Luzia. A mulher, cuja face com traços africanos foi reconstituída há dez anos, por meio do crânio, passou a ocupar as páginas dos livros de História, mostrando que não somos descendentes apenas de asiáticos. A humanidade evoluiu e sobreviveu a mudanças geológicas, criou seu espaço e gerou riquezas culturais e ecológicas, como a biodiversidade de hoje.
Assim como a pluralidade de plantas e a fértil terra preta da Amazônia não são obras divinas, o modo de vida dos ribeirinhos amazonenses não é uma invenção atual. Ambos são herança de uma ocupação humana milenar. Acredita-se que diferentes partes da região, de Rondônia ao Pará, incluindo o baixo rio Negro, próximo a Manaus, já eram ocupadas 9 mil anos atrás. Esses povos sobreviviam da pesca, da coleta e da caça, provavelmente num contexto climático semelhante ao atual uma vez que um reaquecimento global fez aumentar as chuvas e o nível dos rios, causando cheias há 18 mil anos.
Os sítios arqueológicos
É possível que o processo de domesticação de inúmeras plantas hoje consumidas, como mandioca e pupunha, tenha sido iniciado pelos primeiros índios da região. Para chegar a essa conclusão sobre as formas antigas de cultivo, os estudiosos se baseiam também nas práticas atuais. As hortas presentes nos quintais das casas, por exemplo, já existiam ao redor das aldeias há cerca de mil anos. Para formá-las, os homens derrubavam somente matas secundárias, com árvores menores, já que dispunham apenas de machados de pedra, e não de metal, para abrir clareiras. Outra importante contribuição do homem pré-histórico é a terra preta, que não existia originalmente na Amazônia. Ela surgiu graças ao acúmulo contínuo de restos orgânicos há 4 mil anos.
Organização social
Os rastros de aldeias sedentárias, formadas por centenas de pessoas, datam de 3 mil anos atrás. O tamanho e a duração dos sítios arqueológicos refletem mudanças nos padrões de ocupação do território, principalmente no que se refere à organização social. É preciso desmitificar a idéia de que a Amazônia era uma coisa só.Entre os anos 400 e 1300, 40 mil habitantes ocuparam quase toda a ilha de Marajó, morando em casas de chão batido construídas sobre palafitas de terra, que costumavam ser maiores nas famílias mais abastadas. A constatação de que a figura da mulher era freqüentemente representada em divindades e peças como urnas funerárias leva os pesquisadores a crer que a sociedade tenha sido matrilinear, ou seja, de descendência materna. Isso não impede que homens tenham sido chefes.Enquanto o homem pescava, a mulher cuidava da aldeia, da roça e da produção de cerâmica. Estudos demonstram que as peças mais adornadas, como tangas destinadas a adolescentes, foram produzidas por pessoas com maior poder econômico. Elas foram encontradas somente em locais de cerimônias e moradias da elite. Nos séculos 16 e 17, europeus navegaram pelo rio Amazonas e descreveram aldeias com milhares de pessoas. Em várias delas, na Amazônia central, construíam-se montículos (espécie de palafita feita de terra preta e cacos de cerâmica).
As depressões de relevo ali encontradas são indícios de que eles serviam tanto para proteger casas contra alagamentos como para demonstrar poder, já que tinham tamanhos variados. Acredita-se que havia mão-de-obra específica, com divisão de tarefas, a serviço de alguém. Embora os sepultamentos não sejam comuns nos montículos, restos funerários de um deles remetem à existência de uma elite. Havia chefes supremos, mas não reis nem Estados.
A terra preta hoje se mistura a centenas de cacos de cerâmica cujas variadas técnicas de produção revelam a presença simultânea de diferentes culturas. Isso pode comprovar também a ocorrência de conflitos entre aldeias, causados pela chegada de outros povos.
Esta informação se relaciona à anterior: áreas ocupadas no século 9 guardam sinais de valas artificiais com estacas, aparentemente usadas para defesa. Embora instabilidades políticas tenham gerado episódios de ocupação e o abandono de assentamentos, foram os europeus que exterminaram os índios em ataques e por meio da escravidão e da transmissão de doenças. Com isso, os sobreviventes foram para o interior. Em áreas próximas a rios densamente ocupadas na época hoje vivem caboclos que cultivam a terra dos sítios arqueológicos e pisam, diariamente, sobre as cerâmicas feitas pelos antepassados.
Sábias ocupações
No alto Xingu, arqueólogos e antropólogos contam com a ajuda dos índios kuikurus para mapear o espaço ocupado por seus ancestrais. Aldeias circulares, cercadas por valas artificiais e conectadas por estradas, formam uma estrutura que remete a uma civilização de 1,1 mil anos atrás.
A aldeia atual, em forma de anel, foi um dia um conjunto de oito a 12 aldeias cerca de dez vezes maior, como mostra o infográfico acima. "Esse povo, formado por grupos independentes integrados em uma nação, como os do atual Xingu, tinha noções sofisticadas de Matemática e Engenharia", explica o arqueólogo americano Michael Heckenberger.
Essa antiga sociedade xinguana se caracterizava pelo vasto conhecimento de cartografia e astronomia. Assim como os europeus desenvolveram tecnologias inovadoras utilizando o ferro e o bronze, os nativos americanos incorporaram a cosmologia, o estudo da origem e evolução do universo. Exatamente como no império inca de Cuzco, o maior das Américas, afirma o pesquisador. Os índios do Xingu, porém, constituíram uma paisagem lateral contrária aos monumentos verticais típicos das civilizações clássicas cercada de muito verde. "Eles não desmatavam grandes áreas contíguas porque acreditavam ter parentesco com a floresta", conta Heckenberger. "Até hoje os kuikurus se dizem descendentes de árvores." As áreas abertas, enfim, eram exclusivas para os assentamentos e o cultivo de roças de mandioca e árvores frutíferas.
Bem longe dali, entre 10 mil e mil anos atrás, os sambaquis (do tupi-guarani tampa, marisco, e ki, amontoado) eram erguidos por comunidades litorâneas também para demarcar território. Mas havia outras funções para essas pirâmides de areia e conchas. "Construídos em tempos diferentes por comunidades diversas, elas podiam servir de base para moradias ou cemitério", conta Flávio Calippo, arqueólogo subaquático do MAE-USP. No sambaqui Jabuticabeira 2, de Jaguaruna, a 157 quilômetros de Florianópolis, há 40 mil corpos.
Terra de gigantes
Há 11 mil anos, em áreas formadas por vastos cerrados e sob um clima frio e seco, os primeiros grupos de homens do país tiveram o privilégio (ou não) de conviver com animais de grande porte hoje extintos, como a preguiça-gigante. Surgido na América do Sul há 30 milhões de anos e pertencente à família dos tatus e dos tamanduás, o animal evoluiu em mais de 500 tipos e ocupou todo o continente americano. Em 1996, depois de 160 anos de estudos, pôde-se enfim montar um esqueleto completo da preguiça-gigante graças à ossada encontrada na Chapada Diamantina, na Bahia. No local havia também ossos de tigres-dentes-de-sabre e mastodontes.

Reportagem : Débora Didonê - Colaborou Deca Pinto, Revista Nova Escola( Adaptação)