sexta-feira, 2 de novembro de 2018

A INCAPTURÁVEL

Não foi fácil para Portugal retirar milhares de pessoas da África para servirem como escravos na América. Longas lutas de resistência foram travadas contra a colonização, que contava com altos investimentos militares e uma política que combinava opressão, violência e alianças com chefes locais.

A trajetória de Nzinga Mbandi é um exemplo de como os chefes centro-africanos enfrentaram o avanço português. Hábil guerreira, estrategista política e militar, Nzinga foi uma líder carismática, uma rainha que passou a vida combatendo e morreu sem nunca ter sido capturada.

Nasceu em 1582, filha do oitavo Ngola (do qual derivaria o nome Angola), título do principal régulo do reino do Ndongo. Os portugueses haviam iniciado a colonização a partir de Luanda sete anos antes, e foram ganhando o interior com a construção de “presídios” – fortificações militares no curso do Rio Kwanza, que abrigavam os comerciantes de escravos – e a organização de feiras em que a principal mercadoria eram as pessoas escravizadas. Criaram também um sistema de avassalamento de sobas, os chefes locais autônomos que pagavam tributos ao Ngola em troca de proteção militar e espiritual. Após a invasão portuguesa, eles eram batizados e se declaravam fieis à Coroa. Essa condição incluía diversos compromissos: fornecer baculamentos (tributos pagos geralmente em escravos), dar passagem às tropas do governo, permitir kitandas (feiras e mercados) em seu território e contribuir com escravos para serem soldados da “guerra preta” – o pelotão que lutava junto aos portugueses.

A guerra se generalizava, e com ela o clima de instabilidade. Os sobados intensificavam ataques a povoados vizinhos para saldar suas dívidas com os portugueses, pois os prisioneiros capturados em guerra eram escravizados. Ao sinal de qualquer atitude considerada infiel, o governo português invadia os sobados e matava seus líderes, substituindo-os por chefes aliados.

Foi nesse contexto de penetração portuguesa no reino do Ndongo, movido pelo tráfico negreiro, que Nzinga Mbandi cresceu. No reinado de seu irmão Ngola Mbandi, agravou-se a tensão entre os locais e os conquistadores. Em 1617, o governador de Angola, Luis Mendes de Vasconcelos, invadiu o reino do Ndongo para construir o presídio de Mbaka, a poucas milhas da Cabaça, a moradia do Ngola. O resultado foi uma guerra intensa, ao fim da qual Ngola, vencido, refugiou-se na ilha de Kindonga, no Rio Kwanza. Em 1622, João Correia de Sousa assumiu o governo e decidiu procurar o Ngola para restabelecer a paz, uma vez que o cenário de guerra paralisara os mercados de escravos. Foi quando Nzinga entrou em cena.

Ngola Mbandi mandou sua irmã mais velha como embaixadora para negociar a paz com os portugueses. Na audiência com o governador, ela impressionou a todos por sua inteligência e habilidade diplomática. Defendeu a manutenção da independência do Ndongo e o não pagamento de qualquer tributo à Coroa portuguesa, mas se mostrou aberta ao comércio. Entendendo que a paz com os portugueses passava pelo batismo cristão, aceitou o sacramento: recebeu o nome de D. Anna de Sousa, tendo como padrinho o próprio governador. De sua parte, os portugueses se comprometeram a efetivar a retirada do presídio de Mbaka.

O acordo, porém, não foi cumprido nem por aquele governador nem pelos sucessores. A situação levou ao enfraquecimento político de Ngola Mbandi, que morreu na ilha de Kindonga, em 1624, em circunstâncias que continuam sendo uma incógnita para a historiografia de Angola. Nzinga se apoderou das insígnias reais e assumiu o trono do Ndongo.

A nova rainha foi associada à possibilidade de libertação do povo Mbundo, etnia predominante no reino Ndongo. As crescentes fugas de kimbares – escravos que guarneciam os presídios ou eram dados pelos sobas para comporem a “guerra preta” – enfraqueciam as tropas lusas, enquanto fortaleciam o exército de Nzinga. Aproveitando-se desse contexto favorável, a rainha lançou uma campanha antilusitana, formando e liderando uma confederação de descontentes com a colonização. Conquistou o apoio de sobas que já haviam se avassalado, além de poderosos chefes que não pertenciam ao Ndongo, como o Ndembo Mbwila (Ambuíla).

Capturar Nzinga e reduzi-la à obediência passou a ser um dos objetivos principais do governo português. Em 1626, o governador de Angola, Fernão de Sousa, arquitetou um golpe político para que Are a Kiluanje, um vassalo dos portugueses, assumisse o trono. Nzinga se refugiou na ilha de Kindonga e conseguiu se livrar do cerco usando sabiamente a geografia do local, deslocando-se pelas diversas ilhas do Rio Kwanza. Quando as tropas lusas enfim a encurralaram em Kindonga, ela mandou seus embaixadores informarem que estava disposta a se render e se avassalar. Para isso, no entanto, pediu uma trégua de três dias. Passado o prazo, os portugueses perceberam que tinham caído em um golpe: Nzinga já estava longe dali.

A rainha foi então buscar proteção junto aos temidos jagas, guerreiros nômades que se organizavam em kilombos – acampamentos que se deslocavam conforme as necessidades de guerra, com rígida hierarquia e severa disciplina militar. Nzinga recebeu o título feminino mais importante no kilombo – Tembanza –, assumindo funções rituais essenciais. Imprimiu consciência política aos bandos, que até então viviam errantes, praticando roubos e sem se prenderem a linhagens. Sob o comando de Nzinga, os kilombos passaram a compor a frente de resistência contra a ameaça estrangeira. O incrível poderio bélico que Nzinga conseguiu mobilizar junto aos jagas foi crucial para se manterem livres e vencer os portugueses por várias vezes.

Por volta de 1630, Nzinga ocupou o reino de Matamba (Ndongo Oriental), terra evocativa de seus ancestrais e tradicionalmente governada por mulheres. Foi na condição de rainha de Matamba que ela soube da invasão holandesa em Angola, em 1641. Ali estava uma oportunidade de estabelecer nova aliança para minar a presença portuguesa na região. Nzinga aproximou-se dos invasores, e juntos criaram uma importante rota comercial que conectava Luanda (agora de posse holandesa) a Matamba, trocando escravos por mercadorias europeias, sobretudo armas de fogo.

Era fundamental para a oligarquia do Rio de Janeiro restabelecer o domínio do mercado de escravos em Angola. Isso foi conseguido em 1648 por iniciativa de Salvador de Sá, que organizou tropas formadas por índios e bandeirantes para expulsar os holandeses. A vitória lusa teve o efeito direto de enfraquecer a rainha Nzinga. Suas duas irmãs foram capturadas e mantidas como reféns pelos portugueses. Kifunge acabou assassinada em Massangano, acusada de espionagem. Mocambo ficou presa em Luanda, utilizada como arma política a fim de forçar a rendição de Nzinga.

O papa Gregório XV, com o objetivo de diminuir o poder que as coroas ibéricas tinham acumulado com as colonizações, criara em 1622 a Propaganda Fide – a “propagação da fé” –, que permitiu a ida à África Central de missionários que não tinham relações com a Coroa portuguesa. Entre eles estavam os capuchinhos, que chegaram à região na década de 1640. Nzinga enxergou nesses religiosos outra possibilidade de fazer novos aliados europeus que não fossem ligados ao governo português. Por meio do capuchinho italiano Antonio de Gaeta, Nzinga retornou ao catolicismo em 1656, renegando os ritos gentílicos e aceitando a fé de Cristo. A conversão ao cristianismo foi uma saída estratégica, pois, já idosa, ela sabia que a cruz seria o caminho mais rápido para a paz e para conseguir o retorno de Mocambo, sua irmã indicada à sucessão de Matamba, enfim libertada pelos portugueses em 1657.

A líder de Matamba morreu em dezembro de 1663, com mais de 80 anos, sepultada de acordo com os ritos cristãos. O povo Mbundo a venerou como “rainha imortal”, que nunca se entregou e que jamais aceitou a submissão aos invasores. Sua fama atravessou o Atlântico e chegou ao Brasil. Aqui, o nome Ginga, ou Jinga, é evocado em rodas de capoeira, em congados e maracatus de múltiplas formas: como guerreira que engana os adversários, inimiga da corte cristã, venerável ancestral de Angola.

TEXTO: Mariana Bracks
Fonte

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

O Regime militar brasileiro :Ditadura e Torturas


Para os generais presidentes, os contestadores do Regime Militar - tidos como “subversivos” ou “inimigos da Pátria - mereciam cadeia, exílio ou o pau-de-arara.
Respire fundo para ler um balanço da mais longa didatura militar da nossa história: suspensão de direitos politícos e cassação de mandatos eletivos (atingiram mais de mil pessoas, inclusive os ex-presidentes Juscelino, Jânio e Jango). Repressão à intelectualidade (12.752 “subversivos”foram enquadrados na Lei de Segurança Nacional e cerca de 10.000 exilados foram parar no exterior. Perseguições de servidores públicos e militares (2.958 sevidores civis e 2.757 militares foram afastados). Pessoas desaparecidas (cerca de 144 casos até hoje não foram esclarecidos).
Torturas físicas e psicológicas (um número incalculável de estudantes e intelectuais passou por prisões ilegais, sofrendo os mais cruéis e desumanos tipos de tortura, como: choques elétricos nos dentes, ouvidos, língua, testiculos e vagina; arracamento de unhas e dentes; baratas vivas introduzidas no ânus de mulheres presas, cobras deixadas nas prisões durante à noite. Legislação arbitrária (Atos institucionais ilegítimos como AI-5, que ficava acima do Poder Judiciário e o Decreto 477/69, proibindo a discussão de temas políticos em salas de aula).
Pau-de-arara
Nesta posição, nú, o preso recebia choques elétricos na língua, nos dentes, ouvidos, e sobretudo, nas partes genitais.
Os cinco generais-presidentes foram mais ou menos um a cópia do outro: foram escolhidos sem o voto popular, governaram com poderes ditatoriais, reprimiram as oposições, afastaram o povo das eleições e adotaram, todos, uma política econômica baseada no binômio segurança/desenvolvimento. O primeiro deles, Castelo Branco, começou com prisões, cassações e o fechamento de entidades estudantis e sindicais. Seu governo pariu três “filhotes” ilegítimos: a) AI-2 (acabando com eleições diretas para a presidência da República e autorizando o funcionamento apenas do MDB, partido do “sim” e da ARENA, partido do “sim, senhor”); b) AI-3 (estabelecendo eleições indiretas para governadores e “nomeação” para prefeitos das capitais); e c) AI-4 (convocando o Congresso Nacional para “aprovar” uma constituição encomendada pelo Regime). Além dessas “crias”, o presidente criou o SNI (para vigiar e enquadrar os “inimigos da pátria”). Também, revogou a Lei de Remessas de Lucros (entregando o país à livre exploração das multinacionais). Costa e Silva deu continuidade à obra de seu colega: prendeu metalúrgicos, fechou novamente o Congresso Nacional e baixou o AI-5 (o mais temível instrumento repressor lançado pelo Regime). Amparado por esse ato, o governo podia fechar as sedes do Poder Legislativo (Congresso Nacional, Assembléias Legislativas e Câmaras Municipais), legislar em todas as matérias, intervir nos Estados e Municípios, decretar estado de sítio, suspender direitos políticos de qualquer cidadão, cassar mandatos eletivos e demitir ou aposentar servidores civis e militares.
Com poderes absolutos - só comparáveis aos dos governantes do passado Colonial - a Ditadura entrou na sua fase mais cruel, com prisões ilegais, torturas, “desaparecimentos", deportações, exílio e mortes. As botas militares deixaram suas marcas até no Supremo Tribunal Federal: quatro Ministros foram afastados. O terceiro presidente militar - General Médici - enfiou a espada até o cabo: invadiu universidades e fábricas, perseguiu intelectuais, artistas e padres, implantou rigorosa censura e aperfeiçoou o aparato repressivo. Seu governo - marcado pela ação violenta dos DOI/CODIS - deixou um rastro de brutalidades nunca visto. Os torturadores oficiais (geralmente “assessorados” por médicos-legistas) ultilizavam todo tipo de selvageria: choques elétricos (aplicados nas partes sensíveis do corpo, sobretudo, orgãos genitais); geladeira (ambientes super-refrigerados, abafados ou com sons estridentes); banho chinês (imersão sucessiva da cabeça do prisioneiro num tanque d`água) ; pimentinha (dispositivo elétrico que provocava queimaduras na língua, seios e interior do ânus); e outras brutalidades, como: o pau-de-arara, a cadeira do dragão e o uso de baratas vivas (estas quando introduzidas no reto, subiam pela garganta, boca e narinas, levando fezes e fedor). O quarto chefão militar - General Geisel - deu os primeiros passos rumo à abertura política. Seu goverto removeu parte da legislação arbitrária, abrandou a censura e permitiu a realização de eleições livres para senadores, deputados e vereadores. O povo foi às urnas (novembro de 1974) e com uma arma eficaz - o voto - deu um “olé” na Ditadura: o MDB derrotou a Arena em 16 dos 21 Estados brasileiros. Veio a desforra! Geisel inventou a figura do senador “biônico” (um terço do Senado) para dizer “amém” ao governo. Enquanto isso, nos quartéis, os militares da “linha dura” (partidários da apertura) continuavam torturando e executando presos políticos. João Figueredo - último plantonista no poder - cuidou dos arranjos funerários do Regime. Sob pressão da sociedade civil, o governo acabou com a censura, concedeu anistia, permitiu a reestruturação partidária e reestabeleceu eleições diretas para governadores. Nessa época, organizaram-se grandes manifestações públicas exigindo eleições diretas para a presidência da República. Nos bastidores, grupos radicais militares e paramilitares interessados no retrocesso político - praticavam atentados terroristas camuflados. O caso Riocentro, os incêndios a bancas de jornais, o episódio da carta-bomba enviada à OAB/RJ, explosões em redações de jornais e tiros disparados contra sedes de partidos políticos foram os atos finais do enterro da Ditadura.
Em 1970, o Brasil ganhou o tri-campeonato mundial. Ziraldo retratou a felicidade do brasileiro!!!
Somos os campeões mundiais! Que felicidade
Um balanço geral da economia brasileira, no período dos governos militares, mostra que o Brasil cresceu de forma extraordinária. No governo de Médici, a taxa de crescimento atingiu 9% ao ano. Um crescimento econômico altíssimo. Mas quem ganhou com isso? Em primeiro lugar, as multinacionais, vez que grande parte das riquezas criadas no país foi surrupiada em forma de remessa de lucros para o exterior (liberada no início da Ditadura). Em segundo lugar, o grande empresariado industrial e comercial (incluindo aí a classe média alta) beneficiado com a imensa concentração de renda em suas mãos. E, igualmente, o próprio Estado autoritário que - afastado do social - preferiu investir em obras faraônicas (hoje, expostas à venda). O bolo cresceu: uma parte foi roubada e levada para o exterior; outra parte ficou com os ricos. Sobrou: endividamento externo, exclusão social, carnaval e futebol...

sábado, 7 de julho de 2018

SONETO 64

Ao ver a cruel mão do tempo apagar
Dos ricos o orgulho graças à decadência da idade;
Quando, por vezes, as altas torres são destruídas,
E o eterno escravo do metal entregue à mortal ira;
Ao ver o oceano faminto ganhar
Vantagem sobre os domínios das encostas;
E a terra firme avançar sobre o braço de água,
Equilibrando-se entre as perdas e ganhos;
Ao ver tal mudança de condição,
Ou a própria condição confundida, a decair,
Assim ensinou-me a pensar a ruína:
Que o tempo virá e levará o meu amor.
Este pensamento é mortal, sem outra escolha
Senão lamentar ter o que se teme perder.

William Shakespeare

sexta-feira, 15 de junho de 2018

10 estratégias de manipulação da mídia – Noam Chomsky

As grandes estratégias da manipulação midiáta por Noam Chomsky


1 – A Estratégia da Distração.


O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração, que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças que são decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundação de contínuas distrações e de informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir o público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais na área da ciência, economia, psicologia, neurobiologia ou cibernética. “Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais” (citação do texto ‘Armas Silenciosas para Guerras Tranquilas’).


2 – Criar problemas e depois oferecer soluções.


Este método também se denomina “Problema-Reação-Solução”. Cria-se um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que seja este quem exija medidas que se deseja fazer com que aceitem. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja quem demande leis de segurança e políticas de cerceamento da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer com que aceitem como males necessários o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.


3 – A Estratégia da Gradualidade.


Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradualmente, com conta-gotas, por anos consecutivos. Dessa maneira as condições sócio-econômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990. Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego massivo, salários que já não asseguram rendas decentes, tantas mudanças que provocariam uma revolução se fossem aplicadas de uma vez só.

4 – A Estratégia de Diferir.


Outra maneira de fazer com que se aceite uma decisão impopular é a de apresentá-la como “dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro porque o esforço não é empregado imediatamente. Logo, porque o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “tudo irá melhorar amanhã” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para se acostumar com a idéia da mudança e aceitá-la com resignação quando chegar o momento.


5 – Dirigir-se ao público como a criaturas de pouca idade.


A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discursos, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse uma criatura de pouca idade ou um deficiente mental. Quanto mais se pretende enganar o espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por que? “Se alguém se dirige a uma pessoa como se ela tivesse 12 anos ou menos, então, em razão da sugestão, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos (ver ‘Armas silenciosas para guerras tranqüilas’)”.


6 – Utilizar o aspecto emocional muito mais que a reflexão.


Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto-curcuito na análise racional, e, finalmente, no sentido crítico dos indivíduos. Por outro lado, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou injetar ideias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos.

7 – Manter o público na ignorância e na mediocridade.


Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. “A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância planejada entre as classes inferiores e as classes sociais superiores seja e permaneça impossível de ser alcançada para as classes inferiores (ver ‘Armas silenciosas para guerras tranqüilas’)”.


8 – Estimular o público a ser complacente com a mediocridade.


Promover a crença do público de que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto.


9 – Reforçar a auto-culpabilidade.


Fazer crer ao indivíduo que somente ele é culpado por sua própria desgraça devido à insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, em vez de se rebelar contra o sistema econômico, o indivíduo se menospreza e se culpa, o que gera um estado depressivo, cujo um dos efeitos é a inibição da ação do indivíduo. E sem ação não há revolução!


10 – Conhecer os indivíduos melhor do que eles mesmos se conhecem.


No decurso dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência geraram uma crescente brecha entre os conhecimentos do público e aqueles que possuem e utilizam as elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o “sistema” desfrutou de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicológica. O sistema conseguiu conhecer melhor o indivíduo comum do que este conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos, maior que o dos indivíduos sobre si mesmos.


Noam Chomsky. filósofo, ativista, autor e analista político estadunidense. É professor emérito de Linguística no MIT e uma das figuras mais destacadas desta ciência no século XX. Reconhecido na comunidade científica e acadêmica por seus importantes trabalhos em teoria lingüística e ciência cognitiva.

Fonte: http://atabaqueblog.blogspot.com/2010/11/10-estrategias-de-manipulacao-da-midia.html?m=1


quarta-feira, 18 de abril de 2018

Plano de aula sobre Racismo

Plano de Aula
Um exercício sobre o texto “Racismo”, de Luiz Fernando Veríssimo.

 No texto Racismo de Luís Fernando Veríssimo o patrão nega, o tempo todo, a existência do racismo apesar de estar sendo racista. Faça uma relação entre a atitude do patrão e a ideia da democracia racial no Brasil. Reflita as estratégias do “silenciamento” brasileiro em relação à afirmação da existência do racismo no Brasil, através da construção do mito da democracia racial contextualizando historicamente seu surgimento.

Fonte: Geledes

quarta-feira, 11 de abril de 2018

Racismo

Luis Fernando Veríssimo - Comédias da Vida Pública (p.59-60)

- Escuta aqui, ó criolo...
- O que foi? 
- Você andou dizendo por aí que no Brasil existe racismo.
- E não existe?
- Isso é negrice sua. E eu que sempre te considerei um negro de alma branca... É, não adianta. Negro quando não faz na entrada...
- Mas aqui existe racismo.
- Existe nada. Vocês têm toda a liberdade, têm tudo o que gostam. Têm carnaval, têm futebol, têm melancia... E emprego é o que não falta. Lá em casa, por exemplo, estão precisando de empregada. Pra ser lixeiro, pra abrir buraco, ninguém se habilita. Agora, pra uma cachacinha e um baile estão sempre prontos. Raça de safados. E ainda se queixam!
- Eu insisto, aqui tem racismo.
- Então prova, Beiçola. Prova. Eu alguma vez te virei a cara? Naquela vez que te encontrei conversando com a minha irmã, não te pedi com toda a educação que não aparecesse mais em nossa rua? Hein, tição? Quem apanhou de toda a família foi a minha irmã. Vais dizer que nós temos preconceito contra branco?
- Não, mas...
- Eu expliquei lá em casa que você não fez por mal, que não tinha confundido a menina com alguma empregadoza de cabelo ruim, não, que foi só um engano porque negro é burro mesmo. Fui teu amigão. Isso é racismo?
- Eu sei, mas...
- Onde é que está o racismo, então? Fala, Macaco.
- É que outro dia eu quis entrar de sócio num clube e não deixaram.
- Bom, mas pêra um pouquinho. Aí também já é demais. Vocês não têm o clube de vocês? Vão querer entrar no nosso também? Pera um pouquinho.
- Mas isso é racismo.
- Racismo coisa nenhuma! Racismo é quando a gente faz diferença entre pessoas por causa de cor de pele, como nos Estados Unidos. É uma coisa completamente diferente. Nós estamos falando do crioléu começar a freqüentar clube de branco, assim sem mais nem menos. Nada na mesma piscina e tudo.
- Sim, mas...
- Não senhor. Eu, por acaso, quero entrar no clube de vocês? Deus me livre.
- Pois é, mas...
- Não, tem paciência. Eu não faço diferença entre negro e branco, pra mim é tudo igual. Agora, eles lá e eu aqui. Quer dizer, há um limite.
- Pois então. O...
- Você precisa aprender qual é o seu lugar, só isso.
- Mas...
- E digo mais. É por isso que não existe racismo no Brasil. Porque aqui o negro conhece o lugar dele.
- É, mas...
- E enquanto o negro conhecer o lugar dele, nunca vai haver racismo no Brasil. Está entendendo? Nunca. Aqui existe diálogo.
- Sim, mas...
- E agora chega, você está ficando impertinente. Bate um samba aí que é isso que tu faz bem.

Preconceito racial e discriminação racial são duas coisas diferentes

por: Luís Fernando Verissimo

O preconceito é um sentimento, fruto de condicionamento cultural ou de uma deformação mental, mas sempre incorrigível.
Não se legisla sobre sentimentos, não se muda um habito de pensamento ou uma convicção herdada por decreto.
Já a discriminação racial é o preconceito determinando atitudes, políticas, oportunidades e direitos, o convívio social e o econômico.
Não se pode coagir ninguém a gostar de quem não gosta, mas qualquer sociedade democrática, para desmentir o nome, deve combater a discriminação por todos os meios – inclusive a coação.
Não concordo com quem diz que uma política de cotas para negros no estudo superior é discriminação.
É coação, certo, mais para tentar corrigir um dos desequilíbrios que persistem na sociedade brasileira, o que reflete na educação a desigualdade de oportunidades de brancos e negros em todos os setores, mal disfarçada pela velha conversa da harmonia racial tão nossa.
As cotas seriam irrealistas? Melhor igualdade artificial do que igualdade nenhuma.
Agora mesmo caíram em cima de quem disse – numa frase obviamente arrancada do contexto – que racismo de negro contra branco é justificável.
Nenhum racismo é justificável, mas o ressentimento dos negros é.
Construiu-se durante todos os anos em que a última nação do mundo a acabar com a escravatura continuou na prática o que o tinha abolido no papel.
Não se esperava que o preconceito acabasse com o decreto da abolição, mas mais de 100 anos deveriam ter sido mais do que suficientes para que a discriminação diminuísse.
Não diminuiu.
Igualar racismo de negro com racismo de branco não resiste a um teste elementar.
O negro pode dizer – distinguindo com nitidez preconceito de descriminação – “Não precisa me amar, só me dê meus direitos”.
Qual a frase mais próxima disto que um branco poderia dizer, sem provocar risos?
“Não precisa me amar, só tenha paciência”? “Me ame, apesar de tudo”?. Pouco convincente.
É uma questão que vai e vem, como as marés.
A velha oposição, na seleção brasileira, do time do povo e o time do técnico.
Quando as coisas vão bem (Brasil 4, Chile 0) não há discussão, quando as coisas vão mal (Brasil ali ali, Gana 0) volta a questão.
O povo quer os melhores sempre no time.
Isto se repete há anos.
Mudam os técnicos, mudam os melhores, muda, em boa parte o povo, e a questão continua indo e vindo.
Como as marés.

Fonte: Geledes

Preconceito, racismo e discriminação no contexto escolar

Existe muito preconceito, racismo e discriminação no contexto escolar e este é um grande problema de todos nós.Vamos esclarecer um pouco sobre cada conceito
Por FLÁVIA CUNHA LIMA (Professora Formadora da Diversidade) CEFAPRO – Barra do Garças

Preconceito

  • Preconceito é uma opinião que formamos das pessoas antes de conhecê-las.É um julgamento apressado e superficial e muito perigoso, pois ao invés de melhorar a nossa vida e da sociedade, acaba trazendo muitas situações complicadas e até mesmo violentas.

Racismo

  • As pessoas que não conseguem deixar de ser preconceituosas podem vir a se tornar racistas. Um racista acredita que existe raças superiores às outras, o que é grande tolice, pois na espécie humana, não podemos dizer que existam raças; a cor da pele, a forma do nariz, o tipo do cabelo, o tipo do sangue, o formato e cor dos olhos, a espessura dos lábios, não são suficientes para estabelecer diferentes tipos de raças entre os seres humanos, que biologicamente são iguais em quase tudo , restando pequenas diferenças externas pouco importantes e que não servem para fazer com que uns sejam superiores ou inferiores aos outros e vice versa.

Discriminação

  • A pessoa que faz isso, geralmente, quer valorizar a si próprio e diminuir os demais mesmo “de brincadeira”.É insegura porque não tem capacidade de conviver com os outros e aceitar as diferenças naturais entre os seres humanos. Os preconceituosos e racistas têm dificuldades em aceitar e conviver com a diferença e. às vezes, suas atitudes chegam ao delírio e como são medrosos e inseguros, projetam sobre os outros que são inferiores a eles e que não podem ter os mesmos direitos – quando os racistas e preconceituosos agem dessa maneira estão tratando os que eles julgam como inferiores a ele de maneira discriminatória.DISCRIMINAÇÃO É PORTANTO TRATAR OS OUTOS COM INFERIORIDADE, SE JULGANDO SUPERIOR.

Considerações Final

  • O mundo já é cheio de problemas embora hajam muitos recursos para resolver tudo: como a tecnologia ,informática, etc. Para que todos vivamos melhor e seguros, sem precisarmos desconfiar dos outros ou de viver competindo contra tudo e contra todos, deveríamos construir a sociedade dos nossos sonhos, justiça, liberdade, igualdade para todos. Quando o ser humano vive bem surge o melhor que ele tem e pode oferecer: ciência, arte, filosofia, cultura, lazer, prazer e felicidade de nível elevado.Se nós combatermos o preconceito, racismo e discriminação estaremos dando um grande passo para a melhoria do mundo,de nós mesmos e dos demais, que são apenas nossa imagem e semelhança.
Fonte: Geledes

domingo, 11 de março de 2018

A Idade Média

 As invasões bárbaras

A desordem política e a disseminação do cristianismo foram dois fatores que, somados às Invasões Bárbaras, foram responsáveis pela crise do Império Romano. Esse processo de ocupação foi realizado pelos bárbaros, povos que eram assim chamados pelos romanos por viverem fora dos territórios do Império e não falarem latim. Foi com a introdução das tradições dos bárbaros, também chamados germânicos, que o mundo feudal ganhou suas primeiras feições. Habitando as regiões fronteiriças ao Império Romano, os povos bárbaros foram penetrando os territórios de Roma em um processo lento e gradual.

Inicialmente, dado o colapso da estrutura militar e as constantes guerras civis, os imperadores romanos realizavam acordos, pelos quais os bárbaros ganharam o direito de habitar essas regiões. Em troca, eles defendiam a fronteira da invasão de outros povos. Somente nos séculos IV e V que esse processo de invasão ganhou feições mais conflituosas. Com a pressão exercida pelos tártaro-mongóis (hunos), os povos bárbaros começaram a intensificar o processo de invasão do Império Romano.

Entre os principais povos responsáveis pela fragmentação do Império podemos destacar os visigodos, ostrogodos, anglo-saxões, francos, suevos e turíngios. Com a invasão dos hérulos, em 476, houve a deposição do último imperador romano, Rômulo Augusto, que já tinha descendência germânica. O processo das invasões bárbaras foi de grande importância para que o Império Romano e seu conjunto de valores e tradições passassem por um processo de junção com a cultura germânica. Dessa maneira, a Idade Média, além de ser inaugurada pelo estabelecimento dos reinos bárbaros, também ficou marcada pela mistura de instituições e costumes de origem romana e germânica.

Os Povos Bárbaros 

Para os romanos "bárbaro" era todo aquele que vivia além das fronteiras do Império Romano e, portanto, não possuía a cultura romana. De origem discutida, ocupavam uma região chamada Germânia e se subdividiam em vários povos: borgundios, vândalos, francos, saxões, anglos, lombardos, godos e outros. Nos séculos IV e V os principais povos bárbaros se deslocaram em direção ao Império Romano, empurrados pelos Hunos que vinham do oriente, levando pânico e destruição aonde chegavam. Esse processo acabou por precipitar a fragmentação do império, já decadente devido a crise do escravismo e a anarquia militar.

Feudalismo

O feudalismo consiste em um conjunto de práticas envolvendo questões de ordem econômica, social e política. Entre os séculos V e X, a Europa Ocidental sofreu uma série de transformações que possibilitaram o surgimento dessas novas maneiras de se pensar, agir e relacionar.

De modo geral, a configuração do mundo feudal está vinculada a duas experiências históricas concomitantes: a crise do Império Romano e as Invasões Bárbaras. A economia sofreu uma retração das atividades comerciais, as moedas perderam seu espaço de circulação e a produção agrícola ganhara caráter subsistente.

Nesse período, a crise do Império Romano tinha favorecido um processo de ruralização das populações que não mais podiam empreender atividades comerciais. Isso ocorreu em razão das constantes guerras promovidas pelas invasões bárbaras e a crise dos centros urbanos constituídos durante o auge da civilização clássica.

A ruralização da economia também atingiu diretamente as classes sociais instituídas no interior de Roma. A antes abrangente classe de escravos e plebeus veio a compor, junto com os povos germânicos, uma classe campesina consolidada enquanto a principal força de trabalho dos feudos. Trabalhando em regime de servidão, um camponês estaria atrelado à vida rural devido às ameaças dos conflitos da Alta Idade Média e a relação pessoal instituída com a classe proprietária, ali representada pelo senhor feudal.

O senhor feudal representaria a classe nobiliárquica detentora de terras. Divididos por diferentes títulos, um nobre poderia ser responsável desde a administração de um feudo até pela cobrança de taxas ou a proteção militar de uma determinada propriedade. A autoridade exercida pelo senhor feudal, na prática, era superior a dos reis, que não tinham poder de interferência direta sobre as regras e imposições de um senhor feudal no interior de suas propriedades. Portanto, assinalamos o feudalismo como um modelo promotor de um poder político descentralizado.

Ao mesmo tempo em que a economia e as relações sociopolíticas se transformavam nesse período, não podemos nos esquecer da importância do papel da Igreja nesse contexto. O clero entraria em acordo com os reis e a nobreza com o intuito de expandir o ideário cristão. A conversão da classe nobiliárquica deu margens para que os clérigos interferissem nas questões políticas. Muitas vezes um rei ou um senhor feudal doava terras para a Igreja em sinal de sua devoção religiosa. Dessa forma, a Igreja também se tornou uma grande “senhora feudal”.

No século X o feudalismo atingiu o seu auge tornando-se uma forma de organização vigente em boa parte do continente europeu. A partir do século seguinte, o aprimoramento das técnicas de produção agrícola e o crescimento populacional proporcionaram melhores condições para o reavivamento das atividades comerciais. Os centros urbanos voltaram a florescer e as populações saíram da estrutura hermética que marcou boa parte da Idade Média.

As obrigações feudais

 Na Idade Média, a posse da terra se consolidou como pressuposto fundamental para que o poder político fosse exercido. Os senhores feudais, na qualidade de proprietários, tinham plena autoridade para determinar as leis e regras que organizavam o convívio sociopolítico no interior de suas terras. Dessa forma, aproveitavam dessa situação privilegiada para imprimirem seus interesses sobre a população servil. Essa prática está assentada na antiga tradição germânica do beneficium, onde um proprietário cede parte de suas terras em troca de tributos e serviços. Além disso, o próprio processo de arrendamento de terras, que marca o fim do Império Romano, também influenciou este processo.

No período medieval, esses tributos ficaram conhecidos como obrigações e determinavam o conjunto de impostos que um servo deveria pagar ao senhor feudal. De fato, ao observamos a grande quantidade de feudos espalhados pela Europa, vemos que essas tributações variavam de acordo com o desígnio de cada proprietário. Apesar da variabilidade, podemos ainda assim apontar algumas das tributações que eram mais recorrentes no mundo feudal.

 Uma das obrigações centrais da relação servil era a corveia. Segundo a tradição feudal, o servo era obrigado a trabalhar determinados dias da semana nas terras de seu senhor ou realizando outros reparos e construções. A talha era um imposto em que o servo era obrigado a ceder parte da produção de suas terras (manso servil) para o senhor feudal. Além disso, tínhamos as banalidades, que consistia em um conjunto de pequenas tributações pagas em dias festivos ou quando o servo utilizava algumas das instalações do feudo (forno, celeiro, moinho, tonéis, largar e ferramentas). A capitação era outro tipo de imposto, sob a forma de produtos, cobrada segundo o número de integrantes de uma família. A “mão morta” era paga toda vez que um servo falecia e os seus descendentes procuravam garantir o direito de trabalhar naquelas mesmas terras. Paralelamente, destacamos também a taxa de justiça, obrigação cobrada quando um servo requeria o julgamento de um senhor feudal; e a taxa de casamento, tributada toda vez que um servo casava-se com uma mulher de outro domínio. Por fim, não bastando esse elevado número de exigências, devemos também destacar que o servo era obrigado a se mostrar hospitaleiro toda vez que um membro da classe nobiliárquica estivesse em viagem. Também beneficiada pelo sistema de obrigações, a Igreja recebia – em épocas especiais – uma taxa denominada Tostão de São Pedro, que tinha parte de seu valor destinado ao Vaticano.

As Cruzadas

As cruzadas foram tropas ocidentais enviadas à Palestina para recuperarem a liberdade de acesso dos cristãos à Jerusalém. A guerra pela Terra Santa, que durou do século XI ao XIV, foi iniciada logo após o domínio dos turcos seljúcidas sobre esta região considerada sagrada para os cristãos. Após domínio da região, os turcos passaram impedir ferozmente a peregrinação dos europeus, através da captura e do assassinato de muitos peregrinos que visitavam o local unicamente pela fé.

Organização : Em 1095, Urbano II, em oposição a este impedimento, convocou um grande número de fiéis para lutarem pela causa. Muitos camponeses foram a combate pela promessa de que receberiam reconhecimento espiritual e recompensas da Igreja; contudo, esta primeira batalha fracassou e muitos perderam suas vidas em combate. Após a Primeira Cruzada foi criada a Ordem dos Cavaleiros Templários que tiveram importante participação militar nos combates das seguintes Cruzadas.

Após a derrota na 1ª Cruzada, outro exército ocidental, comandado pelos franceses, invadiu o oriente para lutar pela mesma causa. Seus soldados usavam, como emblema, o sinal da cruz costurado sobre seus uniformes de batalha. Sob liderança de Godofredo de Bulhão, estes guerreiros massacraram os turcos durante o combate e tomaram Jerusalém, permitindo novamente livre para acesso aos peregrinos. Outros confrontos deste tipo ocorreram, porém, somente a sexta edição (1228-1229) ocorreu de forma pacífica. As demais serviram somente para prejudicar o relacionamento religioso entre ocidente e oriente.

 A relação dos dois continentes ficava cada vez mais desgastada devido à violência e a ambição desenfreada que havia tomado conta dos cruzados, e, sobre isso, o clero católico nada podia fazer para controlar a situação. Embora não tenham sido bem sucedidas, a ponto de até crianças terem feito parte e morrido por este tipo de luta, estes combates atraíram grandes reis como Ricardo I, também chamado de Ricardo Coração de Leão, e Luís IX.

Consequências : Elas proporcionaram também o renascimento do comércio na Europa. Muitos cavaleiros, ao retornarem do Oriente, saqueavam cidades e montavam pequenas feiras nas rotas comerciais. Houve, portanto, um importante reaquecimento da economia no Ocidente. Estes guerreiros inseriram também novos conhecimentos, originários do Oriente, na Europa, através da influente sabedoria dos sarracenos. Não podemos deixar de lembrar que as Cruzadas aumentaram as tensões e hostilidades entre cristãos e muçulmanos na Idade Média. Mesmo após o fim das Cruzadas, este clima tenso entre os integrantes destas duas religiões continuou. Já no aspecto cultural, as Cruzadas favoreceram o desenvolvimento de um tipo de literatura voltado para as guerras e grandes feitos heróicos. Muitos contos de cavalaria tiveram como tema principal estes conflitos.

Curiosidade: A expressão "Cruzada" não era conhecida nem mesmo foi usada durante o período dos conflitos. Na Europa, eram usados termos como, por exemplo "Guerra Santa" e Peregrinação para fazerem referência ao movimento de tentativa de tomar a "terra santa" dos muçulmanos.

 Crise do mundo feudal

O crescimento demográfico, observado na Europa a partir do século X, modificou o modelo autossuficiente dos feudos. Entre os séculos XI e XIII a população europeia mais que dobrou. O aumento das populações impulsionou o crescimento das lavouras e a dinamização das atividades comerciais. No entanto, essas transformações não foram suficientes para suprir a demanda alimentar daquela época. Nesse período, várias áreas florestais foram utilizadas para o aumento das regiões cultiváveis. A discrepância entre a capacidade produtiva e a demanda de consumo retraiu as atividades comerciais e a dieta alimentar das populações se empobreceu bastante.

Em condições tão adversas, o risco de epidemias se transformou em um grave fator de risco. No século XIV, a peste negra se espalhou entre as populações causando uma grande onda de mortes que ceifou, aproximadamente, um terço da Europa. No século XV, o contingente populacional europeu atingia a casa dos 35 milhões de habitantes. A falta de mão de obra disponível reforçou a rigidez anteriormente observada nas relações entre senhores e servos. Temendo perder os seus servos, os senhores feudais criavam novas obrigações que reforçassem o vínculo dos camponeses com a terra. Além disso, o pagamento das obrigações sofreu uma notória mudança com a reintrodução de moedas na economia da época. Os senhores feudais preferiam receber parte das obrigações com moedas que, posteriormente, viessem a ser utilizadas na aquisição de mercadorias e outros gêneros agrícolas comercializados em feiras. Os camponeses, nessa época, responderam ao aumento de suas obrigações com uma onda de violentos protestos acontecidos ao longo do século XIV. As chamadas jacqueries foram uma série de revoltas camponesas que se desenvolveram em diferentes pontos da Europa.

Entre 1323 e 1328, os camponeses da região de Flandres organizaram uma grande revolta; no ano de 1358 uma nova revolta explodiu na França; e, em 1381, na Inglaterra. Passadas as instabilidades do século XIV, o contingente populacional cresceu juntamente com a produção agrícola e as atividades comerciais. Em contrapartida, a melhoria dos índices sociais e econômicos seguiu-se de novos problemas a serem superados pelas sociedades europeias. A produção agrícola dos feudos não conseguia abastecer os centros urbanos e os centros comerciais não conseguiam escoar as mercadorias confeccionadas. Ao mesmo tempo, o comércio vivia grandes entraves com o monopólio exercido pelos árabes e pelas cidades italianas. As rotas comerciais e feiras por eles controladas inseriam um grande número de intermediários, encarecendo o valor das mercadorias vindas do Oriente. Como se não bastassem os altos preços, a falta de moedas impedia a dinamização das atividades comerciais do período. Nesse contexto, somente a busca de novos mercados de produção e consumo poderiam amenizar tamanhas dificuldades. Foi assim que, nos séculos XV e XVI, a expansão marítimo-comercial se desenvolveu.

Fonte: Colégio das irmãs

quinta-feira, 1 de março de 2018

Por que 8 de março é o Dia Internacional da Mulher?

Por: Paula Nadal

As histórias que remetem à criação do Dia Internacional da Mulher alimentam o imaginário de que a data teria surgido a partir de um incêndio em uma fábrica têxtil de Nova York em 1911, quando cerca de 130 operárias morreram carbonizadas. Sem dúvida, o incidente ocorrido em 25 de março daquele ano marcou a trajetória das lutas feministas ao longo do século 20, mas os eventos que levaram à criação da data são bem anteriores a este acontecimento. 

Desde o final do século 19, organizações femininas oriundas de movimentos operários protestavam em vários países da Europa e nos Estados Unidos. As jornadas de trabalho de aproximadamente 15 horas diárias e os salários medíocres introduzidos pela Revolução Industrial levaram as mulheres a greves para reivindicar melhores condições de trabalho e o fim do trabalho infantil, comum nas fábricas durante o período. 

O primeiro Dia Nacional da Mulher foi celebrado em maio de 1908 nos Estados Unidos, quando cerca de 1500 mulheres aderiram a uma manifestação em prol da igualdade econômica e política no país. No ano seguinte, o Partido Socialista dos EUA oficializou a data como sendo 28 de fevereiro, com um protesto que reuniu mais de 3 mil pessoas no centro de Nova York e culminou, em novembro de 1909, em uma longa greve têxtil que fechou quase 500 fábricas americanas.

Em 1910, durante a II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas na Dinamarca, uma resolução para a criação de uma data anual para a celebração dos direitos da mulher foi aprovada por mais de cem representantes de 17 países. O objetivo era honrar as lutas femininas e, assim, obter suporte para instituir o sufrágio universal em diversas nações. 

Com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) eclodiram ainda mais protestos em todo o mundo. Mas foi em 8 de março de 1917 (23 de fevereiro no calendário Juliano, adotado pela Rússia até então), quando aproximadamente 90 mil operárias manifestaram-se contra o Czar Nicolau II, as más condições de trabalho, a fome e a participação russa na guerra - em um protesto conhecido como "Pão e Paz" - que a data consagrou-se, embora tenha sido oficializada como Dia Internacional da Mulher, apenas em 1921.

Somente mais de 20 anos depois, em 1945, a Organização das Nações Unidas (ONU) assinou o primeiro acordo internacional que afirmava princípios de igualdade entre homens e mulheres. Nos anos 1960, o movimento feminista ganhou corpo, em 1975 comemorou-se oficialmente o Ano Internacional da Mulher e em 1977 o "8 de março" foi reconhecido oficialmente pelas Nações Unidas.

"O 8 de março deve ser visto como momento de mobilização para a conquista de direitos e para discutir as discriminações e violências morais, físicas e sexuais ainda sofridas pelas mulheres, impedindo que retrocessos ameacem o que já foi alcançado em diversos países", explica a professora Maria Célia Orlato Selem, mestre em Estudos Feministas pela Universidade de Brasília e doutoranda em História Cultural pela Universidade de Campinas (Unicamp).

No Brasil, as movimentações em prol dos direitos da mulher surgiram em meio aos grupos anarquistas do início do século 20, que buscavam, assim como nos demais países, melhores condições de trabalho e qualidade de vida. A luta feminina ganhou força com o movimento das sufragistas, nas décadas de 1920 e 30, que conseguiram o direito ao voto em 1932, na Constituição promulgada por Getúlio Vargas. A partir dos anos 1970 emergiram no país organizações que passaram a incluir na pauta das discussões a igualdade entre os gêneros, a sexualidade e a saúde da mulher. Em 1982, o feminismo passou a manter um diálogo importante com o Estado, com a criação do Conselho Estadual da Condição Feminina em São Paulo, e em 1985, com o aparecimento da primeira Delegacia Especializada da Mulher.

Fonte: Nova Escola

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Atividades sobre a África pré-colonial


1     1- Leia a prova com atenção e responda:

Marque  a afirmação ERRADA sobre a África e explique porque ela está errada:
A) A África é o local do surgimento do homem  na Terra
B) É um dos países mais pobres do mundo.
C) Foi formada por vários reinos e povos ao longo de sua história.
D) É onde a Copa do Mundo de 2010 está sendo realizada.

2- Leia o texto abaixo:
Em quase todo o continente africano, era rico e poderoso quem tinha muitos escravos. [...] Em quase toda parte, o percurso de ascensão social de um homem ambicioso passava pela aquisição de escravaria. [...] Cabiam-lhes [aos escravos], primeiro que tudo, as tarefas características do escravismo doméstico, entre as quais as de natureza agrícola. Mas também derrubavam trechos de mata, cultivavam e colhiam, cuidavam do gado, cortavam lenha, apanhavam água, er guiam cercas, levantavam casas, fiavam e teciam, entrançavam cestas e esteiras, remavam barcos, caçavam e pescavam. Os grandes senhores cedo encontraram novos modos de usar os muitos escravos de que dispunham. Puseram-nos a trabalhar em grupo grandes extensões de terra e com os produtos que dali saíam passaram a alimentar a corte, a administração e o exército. [...] O escravo permitia, assim, que seu dono ocupasse e cultivasse mais terras, expandis se as capoeiras e os currais e vendesse mais produtos ao mercado.

Costa e Silva, Alberto da. A manilha e o libambo: a África e a escravi dão de 1500 a 1700. Rio de Janeiro: Nova Fronteira/Fundação Biblioteca Nacional, 2002. p. 90.
Agora responda:

A) Qual a importância da escravidão em certas regiões do continente africano no período aqui estudado?
B) Quais as principais atividades desenvolvidas pelos escravos, em que que eles trabalhavam?

3- Leia o texto para responder às questões a seguir.
Recolhedores e caçadores
"[Na África] os que menos afetaram o meio foram os recolhedores e caçadores. Muitas ve zes nem sequer construíam moradas permanentes. Um simples pára-vento os abrigava [...]. Al guns eram sobretudo caçadores — como os bosquímanos ou boximanes (do sul da África), os niambos (da fronteira entre Ruanda, Burun-di eTanzânia) e os dorobos (das montanhas do Quénia) —, ou coletores — como os tindigas (da Tanzânia) e os pigmeus (das florestas equa toriais) —, ou pescadores — como os budu-mas (do Chade) [...]. Em geral dedicavam-se a todas essas atividades, com ênfase numa de las. E, às vezes, conheciam uma agricultura rudimentar, [empregando] utensílios muito sim ples: o pau de escavar, a enxada, geralmente de cabo curto, e a pá. [...]"
SILVA, Alberto da Costa e. A enxada e a lança: a África antes dos portugueses. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996. p. 20-21.,
A) Que modo de vida existente no continente africano é descrito nesse texto?
B) Identifique as características dessas socie dades que são citadas no texto.
C) Por que as sociedades de que trata o texto pouco alteravam o meio em que viviam?


4) Elabore um texto, mostrando as principais características dos antigos povos africanos.

Documentos sobre a Primeira Guerra




1-“Nós fornecíamos antigamente as nossas armas ao mundo inteiro(...) . Hoje, a maior parte dos governos meteram-se a fabricá-las(...) . Tínhamos o monopólio  dos parafusos e pregos. Ao abrigo das tarifas protecionistas, Alemanha e América desenvolveram suas fábricas (...) Os botões  que vendíamos a toda Europa, chegam-nos hoje da Alemanha. O fio de ferro alemão é vendido nas nossas lojas.(...). Os russos também nos fecharam os seus mercados(...). A Alemanha tomou o caminho dos nossos mercados, o endereço de nossos clientes, e, vendo nossos lucros, falsificou nossas marcas.”
(Queixas de membros da Câmara de comércio de Birmingham e de Sheffield- Inglaterra -  1885/1886)

2-“Tornamo-nos  animais selvagens. Não combatemos, nos defendemos da destruição. Sabemos que não lançamos as granadas contra homens, mas contra a morte, que nos persegue com mãos e capacetes.(...) Corremos agachados como gatos, submersos por onda que nos arrasta, que nos torna cruéis, bandidos, assassinos, até demônios. Se seu próprio pai viesse com os do outro lado, você não hesitaria em atirar-lhe uma granada em pleno peito.”
REMARQUE, Eric Maria. Nada de Novo no front. São Paulo, Edibolso, s/d, p.92.

3- “Ainda estou atolado nesta trincheira.(...) Não me lavei, nem mesmo cheguei a tirar a roupa, e a média de sono, a cada vinte e quatro horas, tem sido de duas horas e meia.(...) Em geral, para dormirmos aquecidos, deitávamos-nos uns juntos dos outros, dividindo os cobertores(...). Os ratos eram gordos e um deles apareceu à três da manha. Ficou olhando para mim e guinchando.”

4-“Tratado de Versalhes :28 de junho de1919

Os Estados Unidos da América, o Império Britânico, a França, a Itália e o Japão, potencias designadas no presente tratado como as principais potencias aliadas e associadas(...) de um lado; e a Alemanha, de outro lado, concordaram sobre as seguintes disposições:
Art. 45. Em compensação à destruição das minas de carvão no norte da França, a Alemanha cede à França  a propriedade das Minas de carvão situadas na bacia do Sarre.
Art. 51. Os territórios cedidos à Alemanha, em 1817, são reitengrados à soberania francesa.
Art. 81. A Alemanha reconhece  a completa independência do Estado Tcheco-Eslovaco.
Art. 87. A Alemanha reconhece a completa independência da Polônia.
Art. 100. A Alemanha renuncia, em favor das principais potencias aliadas, a todos os direitos sobre a cidade de Dantzig.
Art. 160. O exército alemão não deverá ter mais do que sete divisões de infantaria e três de cavalaria.
Art. 231. Os governos aliados e associados declaram e a Alemanha reconhece: a Alemanha reconhece: a Alemanha e seus aliados são responsáveis, por tê-los causado, por todas as perdas e danos sofridos pelos governos aliados e associados em conseqüência  da guerra, que lhes foi imposta pela agressão da Alemanha e de seus aliados.
Art.232. Os governos aliados exigem e a Alemanha se compromete: que sejam reparados todos os danos causados à população civil das potencias aliadas e associadas e a seus bens.”

Adaptado de MATTOSO, Kátia M. de Queirós. Textos e documentos para o Estudo da História Contemporânea(1789-1963). São Paulo, HUCITEC-EDUSP, 1977,p. 166-9. 

África, Berço da civilização.



A África tem sido palco de alguns dos maiores avanços tecnológicos da história, entre eles a prática agrícola, criação de gado, mineração e metalurgia (do cobre, do bronze, do ferro, do aço), o comércio, a escrita, a arquitetura e engenharia na construção de grandes centros urbanos, a sofisticação da organização  política, a prática da medicina e o avanço do conhecimento e da  reflexão intelectual.
Foi também centro do desenvolvimento de civilizações, uma das mais avançadas da experiência humana. Entretanto, a imagem de seus povos como não construtores do conhecimento ou da tecnologia, complementada pela idéia de suas civilizações como “importadas” ou erigidas por povos estrangeiros, ainda molda o conceito comum da África como um continente sem história. Apenas muito recentemente, há o reconhecimento de  uma África histórica repleta de grandes realizações.

Os povos antigos, até mesmo africanos, navegavam os mares à procura da rota para as Índias, milênios antes  das caravelas portuguesas e espanholas. Os egípcios construíam navios de grande porte desde o terceiro milênio a.C., e há indícios de que enviavam frotas até à Irlanda à procura de estanho para fazer o bronze. O mundo antigo caracterizava-se por ativo comércio e intercâmbio cultural entre a África, a Europa, Sumer e Elam, a Índia, a China e Ásia oriental, e provavelmente as Américas.

Os  mouros, basicamente povos africanos islamizados, dominaram a península ibérica durante séculos, ocasionando um verdadeiro iluminismo  na Idade Média européia ao protagonizar o avanço dinâmico do conhecimento humano. Na Europa, naquela época, não havia dúvida quanto à identidade africana dos mouros, como testemunham o personagem Otelo, de Shakespeare, bem como retratos pintados e bustos esculpidos à época.

A limitação do olhar histórico aos últimos quinhentos anos reforça a imagem construída, muito recentemente, dos povos africanos como primitivos ou eternos escravos. Ao deixar de lado 5.500 anos de desenvolvimento africano que antecedem o período da escravidão mercantil, essa perspectiva encoberta um fato incontestável: os africanos viveram apenas uma pequena parte de seu tempo histórico amarrados aos grilhões da escravidão mercantil. Durante milênios, foram agentes ativos do desenvolvimento da civilização humana em todo o mundo.

Você já havia pensado nisso? O período da escravidão mercantil e da colonização e descolonização da África correspondem a menos de 8% dos seis mil anos da história africana! Ou seja, os africanos viveram 92% de sua história exercendo sua soberania e contribuindo para a construção da civilização e do desenvolvimento em todo o mundo.

No Brasil, é tão forte aidentificação da origem africana com a condição escrava que a palavra “negro” é usada como sinônimo de escravo. Entretanto, a escravidão atingiu vários povos do mundo, até os brancos europeus, e não apenas os africanos. Aliás, o vocábulo “escravo” deriva de eslavo, em decorrência da escravização de europeus de língua eslava, muito comum durante o Império Romano e a Idade Média.

Em termos qualitativos e quantitativos, os sistemas de escravidão no mundo antigo  variavam,  porém  todos  diferiam  da  escravidão  praticada pelos europeus na África nos últimos séculos. Em Atenas, a escravidão por dívida foi substituída pela captura e venda de prisioneiros de guerra oriundos das sociedades ao redor do mar Egeu. Ao apogeu dessa prática, os escravos formavam um terço da população.

O Império Romano praticava o escravismo em escala maior. Entre os séculos II a.C. e IV d.C., a captura de escravos passou a ser uma das principais razões para o expansionismo militar romano. Obtinha-se escravos principalmente em guerras contra os povos “bárbaros” da Europa ocidental e oriental: germanos, eslavos, bretões, gregos, celtas e outros. Calcula-se que um terço da população era constituída por escravos.

Fonte: ?

O Islamismo



O islamismo foi fundado no ano de 622, na região da Arábia, atual Arábia Saudita. Seu fundador, o profeta Maomé, reuniu a base da fé islâmica num conjunto de versos conhecido como Corão - segundo ele, as escrituras foram reveladas a ele por Deus por intermédio do Anjo Gabriel.
Assim como as duas outras grandes religiões monoteístas, o cristianismo e do judaísmo, as raízes de Maomé estão ligadas ao profeta e patriarca Abraão. Maomé seria seu descendente. Abraão construiu a Caaba, em Meca, principal local sagrado do islamismo. Para os muçulmanos, o islamismo é a restauração da fé de Abraão.

Ainda no início da formação do Corão, Maomé e um ainda pequeno grupo de seguidores foram
perseguidos por grupos rivais e deixaram a cidade de Meca rumo a Medina. A migração, conhecida como Hégira, dá início ao calendário muçulmano. Em Medina, a palavra de Deus revelada a Maomé conquistou adeptos em ritmo acelerado.

O profeta retornou a Meca anos depois, perdoou os inimigos e iniciou a consolidação da religião islâmica. Quando ele morreu, aos 63 anos, a maior parte da Arábia já era muçulmana. Um século depois, o islamismo era praticado da Espanha até a China. Na virada do segundo milênio, a religião tornou-se a mais praticada do mundo, com 1,3 bilhão de adeptos.

Profeta Maomé
Maomé nasceu em Meca, no ano de 570. Órfão de pai e mãe, foi criado pelo tio, membro da tribo dos coraixitas. De acordo com historiadores, tornou-se conhecido pela sabedoria e compreensão, tanto que servia de mediador em disputas tribais. Adepto da meditação, ele realizava um retiro quando afirmou ter recebido a primeira revelação de Deus através do anjo Gabriel. Na época, ele tinha 40 anos. As revelações prosseguiram pelos 23 anos restantes da vida do profeta.
Contrário à guerra entre tribos na Arábia, Maomé foi alvo de terroristas e escapou de várias tentativas de assassinato. Enquanto conquistava fiéis, empregava as escrituras na tentativa de pacificar sua terra - tarefa que cumpriu antes de morrer, aos 63 anos, depois de retornar a Meca. Para os muçulmanos, Maomé é uma figura digna de extrema admiração e respeito, mas não é o alvo de sua adoração. Ele foi o último dos profetas a trazer a mensagem divina, mas só Deus é adorado.

Crenças
A base da fé islâmica é o cumprimento dos desejos de Deus, que é único e incomparável. A própria palavraIslã quer dizer "rendição", ou "submissão". Assim, o seguidor da religião islâmica deve obedecer às escrituras, orar e glorificar apenas seu Deus e ser fiel à mensagem que Maomé trouxe.
Os muçulmanos enxergam nas escrituras divulgadas por Maomé a continuação de uma grande linhagem de profecias, trazidas por figuras que fazem parte dos livros sagrados dos judeus e cristãos - como Adão, Noé, Abraão, Moisés, Davi e Jesus. Os cristãos e judeus, aliás, são chamados no Corão Povos das Escrituras, com garantia de respeito e tolerância.

O seguidor do islamismo tem como algumas de suas obrigações "promover o bem e reprimir o mal", evitar a usúria e o jogo e não consumir o álcool e a carne de porco. Um dos principais desafios do muçulmano é obter êxito na jihad - que, ao contrário do que muitos acreditam no Ocidente, não significa exatamente "guerra santa", mas sim o esforço e a luta do muçulmano para agir corretamente e cumprir o caminho indicado por Deus.

Os muçulmanos acreditam no dia do juízo final e na vida após a morte, quando o praticante da religião recebe sua recompensa ou sua punição pelo que fez na Terra. Acreditam também na
unidade da "nação" do Islã - uma crença simbolizada pela gigantesca peregrinação anual a Meca, que reune muçulmanos do mundo todo, lado a lado.

Os cinco pilares do islamismo formam a estrutura de vida do seguidor da religião. São eles:
Pronunciar a declaração de fé intitulada "chahada": "Não há outra divindade além de Deus e Mohammad é seu Mensageiro".
Realizar as cinco orações obrigatórias durante cada dia, no ritual chamado "salat". As orações servem como uma ligação direta entre o muçulmano e Deus. Como não há autoridades hierárquicas, como padres ou pastores, um membro da comunidade com grande conhecimento do Corão dirige as orações. Os versos são recitados em árabe, e as súplicas pessoas são feitas no idioma de escolha do muçulmano. As orações são feitas no amanhecer, ao meio-dia, no meio da tarde, no cair da noite e à noite. Não é obrigatório orar na mesquita - o ritual pode ser cumprido em qualquer lugar.
Fazer o que puder para ajudar quem precisa, no chamado "zakat". A caridade é uma obrigação do muçulmano, mas deve ser voluntária e, de preferência, em segredo. O muçulmano deve doar uma parte de sua riqueza anualmente, uma forma de mostrar que a prosperidade não é da pessoa - a riqueza é originária de Deus e retorna para Deus.
Jejuar durante o mês sagrado do Ramadã, todos os anos. Nesse período, todos os muçulmanos devem permanecer em jejum do amanhecer ao anoitecer, abstendo-se também de bebida e sexo. As exceções são os doentes, idosos, mulheres grávidas ou pessoas com algum tipo de incapacidade física - eles podem fazer o jejum em outra época do ano ou alimentar uma pessoa necessitada para cada dia que o jejum foi quebrado. O muçulmano que cumpre o jejum se purifica ao vivenciar a experiência de quem passa fome. No fim do Ramadã, o muçulmano celebra o Eid-al-Fith, uma das duas principais festas do calendário islâmico.

O Corão,
o livro sagrado dos muçulmanos reúne todas as revelações de Deus feitas ao profeta Maomé através do anjo Gabriel. No Corão estão instruções para a crença e a conduta do seguidor da religião - não fala apenas de fé, mas também de aspectos sociais e políticos. Dividido em 114 "suratas" (capítuolos), com vários versículos cada (o número varia de 3 a 286 versículos), o Corão foi escrito em árabe formal e, com o tempo, tornou-se de difícil entendimento.
O complemento para sua leitura é a Sunna, coletânea de registros de discursos do profeta Maomé, geralmente em linguagem mais clara e fluente. Cada uma dessas mensagens tiradas dos discursos é conhecida como "hadith". Como os relatos foram de pessoas diferentes, há muitas divergências entre os registros de ensinamentos do profeta: cada um contava a mensagem da forma que o interessava. Além de contradições, as "hadith" provocaram também uma expansão dos conceitos do Islã, ao incorporar tradições e doutrinas sobre sociedade e justiça - aspecto importante na formação da cultura islâmica em geral, que não ficou restrita à religião.

Sharia é a lei religiosa do islamismo. Como o muçulmano não vê distinção entre o aspecto religioso e o resto da sua conduta pessoal, a lei islâmica não trata só de rituais e crenças, mas de todos os aspectos da vida cotidiana. Apesar de terpassado por um detalhado processo de formatação, a lei islâmica ainda é aplicada de formas variadas ao redor do mundo - os países adotam a sharia têm interpretações mais ou menos rigorosas dela.

Na Arábia Saudita, por exemplo, vigora uma das mais conservadoras versões da lei islâmica. O Afeganistão da época da milícia Talibã teve a mais dura e radical aplicação da sharia nos tempos modernos - proibia música e outras expressões culturais e esportivas, restringia gravemente todos os direitos das mulheres e ordenava punições bárbaras. A sharia, porém, é adotada formalmente numa minoria de países com grandes populações islâmicas.
Realizar a peregrinação a Meca, o "haj". Todos os muçulmanos com saúde e condição financeira favorável deve realizar a peregrinação pelo menos uma vez na vida. Todos os anos, cerca de 2 milhões de pessoas de todas as partes do mundo se reúnem em Meca, sempre com vestimentas simples - para eliminar as diferenças de classe e cultura. No fim da peregrinação, há o festival de Eid-Al-Adha, com orações e troca de presentes - a segunda festa mais importante.

As construções reservadas para as orações dos muçulmanos são chamadas mesquitas, ou "masjids". Os prédios, contudo, não precisam ser especialmente construídos com esse fim - qualquer local onde a comunidade muçulmana se reúne para orar é uma mesquita. Há dezenas de milhares de mesquitas no mundo, e elas vão desde as construções mais esplendorosas, com arquitetura riquíssima, às mais modestas, adaptadas dentro de outras estruturas.
A mesquita de Caaba, em Meca, é uma das mais famosas, pois é o centro da peregrinação do "haj". A mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, também é um local muito visitado pelos muçulmanos de todo o mundo - ela abrigaria a pedra de onde Maomé "ascendeu ao céu".


O Feudalismo


O Feudalismo pode ser visto enquanto um sistema de produção a partir do século IX. A economia feudal possuía base agrária, ou seja, a agricultura era a atividade responsável por gerar a riqueza social naquele momento. Ao mesmo tempo, outras atividades se desenvolviam, em menor escala, no sentido de complementar a primeira e suprir necessidades básicas e imediatas de parcela da sociedade. A pecuária, a mineração, a produção artesanal e mesmo o comércio eram atividades que existiam, de forma secundária.

Como a agricultura era a atividade mais importante, a terra era o meio de produção fundamental. Ter terra significava a possibilidade de possuir riquezas ( como na maioria das sociedades antigas e medievais), por isso preservou-se a caráter estamental da sociedade. Os proprietários rurais eram denominados Senhores Feudais, enquanto que os trabalhadores camponeses eram denominados servos.
O feudo era a unidade produtiva básica. Imaginar o feudo é algo complexo, pois ele podia apresentar muitas variações, desde vastas regiões onde encontramos vilas e cidades em seu interior, como grandes “fazendas” ou mesmo pequenas porções de terra. Para tentarmos perceber o desenvolvimento socioeconômico do período, o melhor é imaginarmos o feudo como uma grande propriedade rural. O território do feudo era dividido normalmente em três partes: O Domínio, terra comum e manso servil

O Domínio é a parte da terra reservada exclusivamente ao senhor feudal e trabalhada pelo servo. A produção deste território destina-se apenas ao senhor feudal. Normalmente o servo trabalha para o senhor feudal, nessa porção de terra ou mesmo no castelo, por um período de 3 dias, sendo essa obrigação denominada corvéia.

Terra comum e a parte da terra de uso comum. Matas e pastos que podem ser utilizadas tanto pelo senhor feudal como pelos servos. É o local de onde retiram-se lenha ou madeira para as construções, e onde pastam os animais.
Manso servil era a parte destinada aos servos. O manso é dividido em lotes (glebas) e cada servo tem direito a um lote. De toda a produção do servo em seu lote, metade da produção destina-se ao senhor feudal, caracterizando uma obrigação denominada talha.

Esse sistema se caracteriza pela exploração do trabalho servil, responsável por toda a produção. O servo não é considerado um escravo, porém não é um trabalhador livre. O que determina a condição servil é seu vínculo com a terra, ou seja, o servo esta preso a terra. Ao receber um lote de terra para viver e trabalhar, e ao receber (teoricamente) proteção, o servo esta forçado a trabalhar sempre para o mesmo senhor feudal, não podendo abandonar a terra. Essa relação, definiu-se lentamente desde a crise do Império Romano com a formação do colonato.Além da corvéia e da talha, obrigações mais importantes devidas pelo servo ao senhor, existiam outras obrigações que eram responsáveis por retirar dos servo praticamente tudo o que produzia.

Tradicionalmente a economia foi considerada natural, de subsistência e desmonetarizada. Natural por que baseava-se em trocas diretas, produtos por produto e diretamente entre os produtores, não havendo portanto um grupo de intermediários (comerciantes); de subsistência por que produzia em quantidade e variedade pequena, além de não contar com a mentalidade de lucro, que exigiria a produção de excedentes; desmonetarizada por não se utilizar de qualquer tipo de moeda, sendo que havia a troca de produto por produto.

Apesar de podermos enxergar essa situação básica, cabem algumas considerações: o comércio sempre existiu, apesar de irregular e de intensidade muito variável. Algumas mercadorias eram necessárias em todos os feudos mas encontradas apenas em algumas regiões, como o sal ou mesmo o ferro. Além desse comércio de produtos considerados fundamentais, havia o comércio com o oriente, de especiarias ou mesmo de tecidos, consumidos por uma parcela da nobreza (senhores feudais) e pelo alto clero. Apesar de bastante restrito, esse comércio já era realizado pelos venezianos.

Mesmo o servo participava de um pequeno comércio, ao levar produtos excedentes agrícolas para a feira da cidade, onde obtinha artesanato urbano, promovendo uma tímida integração entre campo e cidade. “ A pequena produtividade fazia com que qualquer acidente natural (chuvas em excesso ou em falta, pragas) ou humano ( guerras, trabalho inadequado ou insuficiente) provocasse períodos de escassez” .Nesse sentido havia uma tendência a auto suficiência, uma preocupação por parte dos senhores feudais em possuir uma estrutura que pudesse prove-lo nessas situações

A sociedade

A sociedade feudal era composta por duas classes sociais básicas: senhores e servos. A estrutura social praticamente não permitia mobilidade, sendo portanto que a condição de um indivíduo era determinada pelo nascimento, ou seja, quem nasce servo será sempre servo. Utilizando os conceitos predominantes hoje, podemos dizer que, o trabalho, o esforço, a competência e etc, eram características que não podiam alterar a condição social de um homem.

O senhor era o proprietário dos meios de produção, enquanto os servos representavam a grande massa de camponeses que produziam a riqueza social. Porém podiam existir outras situações: a mais importante era o clérigo. Afinal o clero é uma classe social ou não?

O clero possuía grande importância no mundo feudal, cumprindo um papel específico em termos de religião, de formação social, moral e ideológica. No entanto esse papel do clero é definido pela hierarquia da Igreja, quer dizer, pelo Alto Clero, que por sua vez é formado por membros da nobreza feudal. Originariamente o clero não é uma classe social, pois seus membros ou são de origem senhorial (alto clero) ou servil (baixo clero).

A maioria dos livros de história retrata a divisão desta sociedade segundo as palavras do Bispo Adalberon de Laon: “na sociedade alguns rezam, outros guerreiam e outros trabalham, onde todos formam um conjunto inseparável e o trabalho de uns permite o trabalho dos outros dois e cada qual por sua vez presta seu apoio aos outros” Para o bispo, o conjunto de servos é “uma raça de infelizes que nada podem obter sem sofrimento”. Percebe-se o discurso da Igreja como uma tentativa de interpretar a situação social e ao mesmo tempo justifica-la, preservando-a. Nesta sociedade, cada camada tem sua função e portanto deve obedece-la como vontade divina.

A relação de suserania e vassalagem é bastante complexa. Sua origem remonta ao Reino Franco, principalmente durante o reinado de Carlos Magno e baseia-se na concessão do feudo (beneficium).

Surgem os dois primeiros problemas: Quem esta envolvido nesta relação? e, o que é feudo?

Esta relação é eventual, pode existir ou não, dependendo da vontade ou da necessidade das partes, que são sempre dois senhores feudais; ou seja, é uma relação social que envolve membros da mesma camada social, a elite medieval. O termo feudo originariamente significava “benefício”, algo concedido a outro, e que normalmente era terra, daí sua utilização como sinônimo da “propriedade senhorial”. Suserano é o senhor que concede o benefício, enquanto que vassalo é o senhor que recebe o benefício. Esta relação, na verdade bastante complexa, tornou-se fundamental durante a Idade Média e serviu para preservar os privilégios da elite e materializava-se a partir de três atos: a homenagem , a investidura e o juramento de fidelidade. Normalmente o suserano era um grande proprietário rural e que pretende aumentar seu exército e capacidade guerreira, enquanto o vassalo, é um homem que necessita de terras e camponeses.

O poder

No mundo feudal não existiu uma estrutura de poder centralizada. Não existe a noção de Estado ou mesmo de nação. Portanto consideramos o poder como localizado, ou seja, existente em cada feudo. Apesar da autonomia na administração da justiça em cada feudo, existiam dois elementos limitadores do poder senhorial. O primeiro é a própria ordem vassálica, onde o vassalo deve fidelidade a seu suserano; o segundo é a influência da Igreja Católica, única instituição centralizada, que ditava as normas de comportamento social na época, fazendo com que as leis obedecessem aos costumes e à “ vontade de Deus”. Dessa forma a vida quase não possuía variação de um feudo para outro.É importante visualizar a figura do rei durante o feudalismo sem poder efetivo devido a própria relação de suserania e a tendência á auto-suficiência econômica.

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