quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Quero ser Tambor





"José Craveirinha na Prisão"
(Desenho inédito de João Craveirinha feito a esferográfica em 1968 em Nachingueia)
.
Quero Ser Tambor*
Tambor está velho de gritar
Oh velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
corpo e alma só tambor
só tambor gritando na noite quente dos trópicos.

Nem flor nascida no mato do desespero
Nem rio correndo para o mar do desespero
Nem zagaia temperada no lume vivo do desespero
Nem mesmo poesia forjada na dor rubra do desespero.

Nem nada!

Só tambor velho de gritar na lua cheia da minha terra
Só tambor de pele curtida ao sol da minha terra
Só tambor cavado nos troncos duros da minha terra.

Eu
Só tambor rebentando o silêncio amargo da Mafalala
Só tambor velho de sentar no batuque da minha terra
Só tambor perdido na escuridão da noite perdida.

Oh velho Deus dos homens
eu quero ser tambor
e nem rio
e nem flor
e nem zagaia por enquanto
e nem mesmo poesia.
Só tambor ecoando como a canção da força e da vida
Só tambor noite e dia
dia e noite só tambor
até à consumação da grande festa do batuque!
Oh velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
só tambor!


*José Craveirinha*
*(poeta moçambicano e laureado Prémio Camões, nos 3 anos do seu passamento)
Fonte:

domingo, 11 de setembro de 2011

O 11 de setembro Chileno

11 diretores foram convidados para fazer um filme sobre a queda das torres gêmeas em 11 de setembro.
Essa é a brilhante contribuição de Ken Loach que traça um paralelo com um outro 11 de setembro, aquele de 1973 no Chile.

11 de setembro

joseluizquadrosdemagalhaes: 668- Assaltantes de lojinhas do mundo, uni-vos! - ...

joseluizquadrosdemagalhaes: 668- Assaltantes de lojinhas do mundo, uni-vos! - ...: Assaltantes de lojinhas do mundo, uni-vos! 19/8/2011 por Slavoj Ziže k, London Review of Books , vol. 33, n, 16 Tradução do Coletivo da ...

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

RESENHA: VOCÊ QUER MESMO SER AVALIADO – JACQUES-ALAIN MILLER e JEAN-CLAUDE MILNER


Miller, Jacques Alain.  Você quer mesmo ser avaliado?: entrevistas sobre uma máquina de impostura/ Jacques-Alain Miller e Jean-Claude Milner; tradução de Vera Lopes Besset. – Barueri, São Paulo:Manolo, 2006. – (Série lacaniana).

            O livro “Você quer mesmo ser avaliado?” é fruto de duas entrevistas/palestras entre os dois autores, realizadas em dezembro de 2003 em Paris. Tomando como pretexto a proposta do governo francês de avaliar os trabalhadores da saúde mental, esses dois autores, um psicanalista e outro filósofo decidem pensar e questionar sobre o sistema de avaliação que vai sendo implantado em toda a sociedade atualmente. A obra se divide em um prefácio do psicanalista brasileiro Jorge Forbes e dois capítulos, o primeiro com a entrevista de Jean-Claude Milner e a outro com Jacques-Alain Miller. A discussão se complementa entre os dois.
            No primeiro capitulo Miller começa apresentando o colega filósofo e explicando o porquê da escolha do tema avaliação para a discussão. Ele considera que a proposta de aprovação da emenda Accoyer era um bom incentivo para se parar e questionar o tema. Milner inicia sua palestra falando sobre sua dúvida de como ficaria a profissão dos que lidam com o malviver, os problemas mentais após a aprovação da emenda que os queria avaliar. Como avaliar os resultados desses profissionais? Essa era uma questão colocada e que o governo não tinha explicado, preocupado que estava em aplicar o seu paradigma de problema-solução.
            Esse é o primeiro ponto analisado pelo filósofo. No mundo moderno qualquer suposta anormalidade, ou queixa da sociedade, é colocada como um problema, e dessa forma, surge a necessidade de uma solução.  No caso em questão, a solução apontada era a avaliação.  A boa solução é vista pela sociedade quando algo substitui o problema e preserva a situação anterior e o restante da sociedade. A avaliação faz isso. Ela substitui “a avaliação avaliadora pela coisa avaliada”.  O ser avaliado passa para outra esfera, ele pode ser comparado com outros, e assim sua individualidade e especificidade é deixada de lado. Essa percepção é denominada pelo autor do hiperparadigma da equivalência.
            Essa equivalência no caso da França era marcada pelo contrato. As universidades assinaram acordos de financiamento e de organização com o governo, e esses contratos resultavam em avaliações. Ou seja, para saber como as verbas estavam sendo utilizadas, o governo avaliava as universidades. A grande questão jurídica colocada é que o contrato engessa as pessoas, pois só permite que seja feito o que está estipulado.
            Essa é a diferença das democracias que se organizam em contratos e as que se organizam na lei. As que estão debaixo da lei sabem que tudo o que não é proibido, é permitido. Já em uma sociedade baseada no contrato, o que não é expressamente estipulado não vale. Daí o risco desse sistema de avaliação que está condicionado ao contrato, ele acaba por condicionar o profissional avaliado às proposições estabelecidas, e qualquer ação fora disso pode ser vista como um descumprimento da regra e resultar em punição.
            Um exemplo dessa crescente onda de valoração da relação contratual é a abertura de qualquer tipo de associação, que fica tão presa à definição dos motivos de sua existência, que precisa de um contrato enorme para dar conta de todas as possibilidades de situações. Daí a necessidade cada vez maior de advogados, para que as partes consigam estabelecer contratos que não tragam prejuízo a elas. Essa é uma das criticas a essa sociedade baseada no contrato e não na lei.
            A se confiar na autonomia das partes no estabelecimento dos contratos, corre-se um sério risco de se manter as injustiças, já que não há uma igualdade real de negociação dessas partes. A mais forte sempre absorve a mais valia, na linguagem do velho Marx. Essa situação gerou na modernidade um mal-estar, fruto do endeusamento da técnica como solução para todo tipo de problema. E a técnica avaliadora aparece como um mecanismo para cumprimento desse objetivo.
            Os autores iniciam um debate mostrando que é justamente devido a todos esses fatores que os trabalhadores da área de saúde mental a não aceitar a avaliação proposta pelo governo. Apesar da suposta cientificidade na avaliação, ela não é científica. Não dá para se mensurar as características individuais em uma avaliação e comparar com a maioria. Portanto, essa compreensão própria do mundo atual de que os que se saem melhor em uma avaliação são os melhores não condiz com o real, justamente devido a dificuldade de se analisar isso.
            No segundo capítulo, Jean-Claude Milner inicia sua palestra retomando as questões relativas a avaliação. Ao passar pela avaliação, a idéia é que o sujeito sai diferente dela. Ele entra em um estado primitivo, indeterminado e ao sair ele sai desse estado selvagem para um  estado mensurado, carimbado e...evoluído. Isso é claramente um sofismo.
            Outra ponto importante é que o avaliado precisa consentir em ser avaliado, dentro dessa perspectiva de contrato. Na verdade, somos seduzidos com o discurso da avaliação, e um dos cantos da sereia é que todos participaram, portanto, nós devemos participar. Esse processo é perverso porque nos leva a sentir necessidade de ser avaliado, pois essa é apontada como a única forma de ter significado diante dos outros. O problema é que depois de concordar em ser avaliado, estaremos concordando com o resultado, e teremos que reconhecer a nossa suposta inferioridade diante dos outros. O contrato nos obrigará a concorda que caso não consigamos nosso lugar ao sol, será fruto de nossa incompetência.
            O processo de avaliação se caracteriza pelo avaliador chegando como alguém que nada sabe para perceber o que sabemos. Após ele absorver nossos conhecimentos e questionamentos, ele os usa para justificar o discurso oficial, nos fazendo nos ver nesse todo universal. Aqui o autor compara o papel do avaliador com o do advogado, que faz isso ao representar a vontade de seus clientes. Entretanto, o avaliador não interpreta simplesmente o avaliado, ele se apropria do resultado da avaliação para justificar a manutenção de uma estrutura de poder.
            Outra característica da avaliação é que ela só faz sentido diante da comparação. E a comparação serve para hierarquizar as pessoas. Para apontar quem é inferior ou não conseguiu cumprir os objetivos propostos, daí sua perversidade ao ser implantada dessa maneira. Isso nos mostra como o Estado liberal atual lida com os problemas que surgem em nossa sociedade, responsabilizando os indivíduos por eles, e não assumindo a necessidade de ter um papel mais atuante na criação de condições para o desenvolvimento do homem em sociedade.
            Apesar de parecer ser uma questão corporativa de um grupo de profissionais na França, o livro levanta questões atuais para todos nós. A avaliação nas escolas, faculdades, empresas ainda é feita para classificar e excluir os inaptos ao sistema, ao invés de ser usada como um mecanismo de aprendizagem. Ela é simplesmente, conforme o subtítulo do livro, uma máquina de impostura, de engano e de dominação.

12 Faces do Preconceito


Com o objetivo de pensar sobre  o preconceito explicito e implícito em nossas relações, propus a algumas turmas de alunos de 13 e 14 anos o estudo de alguns textos do livro 12 Faces do Preconceito da Editora Contexto e organizado por Jaime Pinsky.
A sala se dividiu em grupos de 6 ou 7 anos alunos que leram um capitulo e apresentaram suas conclusões para os outros colegas, de preferência através de uma apresentação teatral. A outra tarefa era elaborar um texto relatando a experiência e a avaliação de cada grupo sobre o tema proposto e postar aqui no blog.  Não trabalhamos todos os preconceitos citados no livro,  apenas o preconceito racial, contra homossexuais, baixinhos, gordos e mulheres.