quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Quero ser Tambor





"José Craveirinha na Prisão"
(Desenho inédito de João Craveirinha feito a esferográfica em 1968 em Nachingueia)
.
Quero Ser Tambor*
Tambor está velho de gritar
Oh velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
corpo e alma só tambor
só tambor gritando na noite quente dos trópicos.

Nem flor nascida no mato do desespero
Nem rio correndo para o mar do desespero
Nem zagaia temperada no lume vivo do desespero
Nem mesmo poesia forjada na dor rubra do desespero.

Nem nada!

Só tambor velho de gritar na lua cheia da minha terra
Só tambor de pele curtida ao sol da minha terra
Só tambor cavado nos troncos duros da minha terra.

Eu
Só tambor rebentando o silêncio amargo da Mafalala
Só tambor velho de sentar no batuque da minha terra
Só tambor perdido na escuridão da noite perdida.

Oh velho Deus dos homens
eu quero ser tambor
e nem rio
e nem flor
e nem zagaia por enquanto
e nem mesmo poesia.
Só tambor ecoando como a canção da força e da vida
Só tambor noite e dia
dia e noite só tambor
até à consumação da grande festa do batuque!
Oh velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
só tambor!


*José Craveirinha*
*(poeta moçambicano e laureado Prémio Camões, nos 3 anos do seu passamento)
Fonte:

domingo, 11 de setembro de 2011

O 11 de setembro Chileno

11 diretores foram convidados para fazer um filme sobre a queda das torres gêmeas em 11 de setembro.
Essa é a brilhante contribuição de Ken Loach que traça um paralelo com um outro 11 de setembro, aquele de 1973 no Chile.

11 de setembro

joseluizquadrosdemagalhaes: 668- Assaltantes de lojinhas do mundo, uni-vos! - ...

joseluizquadrosdemagalhaes: 668- Assaltantes de lojinhas do mundo, uni-vos! - ...: Assaltantes de lojinhas do mundo, uni-vos! 19/8/2011 por Slavoj Ziže k, London Review of Books , vol. 33, n, 16 Tradução do Coletivo da ...

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

RESENHA: VOCÊ QUER MESMO SER AVALIADO – JACQUES-ALAIN MILLER e JEAN-CLAUDE MILNER


Miller, Jacques Alain.  Você quer mesmo ser avaliado?: entrevistas sobre uma máquina de impostura/ Jacques-Alain Miller e Jean-Claude Milner; tradução de Vera Lopes Besset. – Barueri, São Paulo:Manolo, 2006. – (Série lacaniana).

            O livro “Você quer mesmo ser avaliado?” é fruto de duas entrevistas/palestras entre os dois autores, realizadas em dezembro de 2003 em Paris. Tomando como pretexto a proposta do governo francês de avaliar os trabalhadores da saúde mental, esses dois autores, um psicanalista e outro filósofo decidem pensar e questionar sobre o sistema de avaliação que vai sendo implantado em toda a sociedade atualmente. A obra se divide em um prefácio do psicanalista brasileiro Jorge Forbes e dois capítulos, o primeiro com a entrevista de Jean-Claude Milner e a outro com Jacques-Alain Miller. A discussão se complementa entre os dois.
            No primeiro capitulo Miller começa apresentando o colega filósofo e explicando o porquê da escolha do tema avaliação para a discussão. Ele considera que a proposta de aprovação da emenda Accoyer era um bom incentivo para se parar e questionar o tema. Milner inicia sua palestra falando sobre sua dúvida de como ficaria a profissão dos que lidam com o malviver, os problemas mentais após a aprovação da emenda que os queria avaliar. Como avaliar os resultados desses profissionais? Essa era uma questão colocada e que o governo não tinha explicado, preocupado que estava em aplicar o seu paradigma de problema-solução.
            Esse é o primeiro ponto analisado pelo filósofo. No mundo moderno qualquer suposta anormalidade, ou queixa da sociedade, é colocada como um problema, e dessa forma, surge a necessidade de uma solução.  No caso em questão, a solução apontada era a avaliação.  A boa solução é vista pela sociedade quando algo substitui o problema e preserva a situação anterior e o restante da sociedade. A avaliação faz isso. Ela substitui “a avaliação avaliadora pela coisa avaliada”.  O ser avaliado passa para outra esfera, ele pode ser comparado com outros, e assim sua individualidade e especificidade é deixada de lado. Essa percepção é denominada pelo autor do hiperparadigma da equivalência.
            Essa equivalência no caso da França era marcada pelo contrato. As universidades assinaram acordos de financiamento e de organização com o governo, e esses contratos resultavam em avaliações. Ou seja, para saber como as verbas estavam sendo utilizadas, o governo avaliava as universidades. A grande questão jurídica colocada é que o contrato engessa as pessoas, pois só permite que seja feito o que está estipulado.
            Essa é a diferença das democracias que se organizam em contratos e as que se organizam na lei. As que estão debaixo da lei sabem que tudo o que não é proibido, é permitido. Já em uma sociedade baseada no contrato, o que não é expressamente estipulado não vale. Daí o risco desse sistema de avaliação que está condicionado ao contrato, ele acaba por condicionar o profissional avaliado às proposições estabelecidas, e qualquer ação fora disso pode ser vista como um descumprimento da regra e resultar em punição.
            Um exemplo dessa crescente onda de valoração da relação contratual é a abertura de qualquer tipo de associação, que fica tão presa à definição dos motivos de sua existência, que precisa de um contrato enorme para dar conta de todas as possibilidades de situações. Daí a necessidade cada vez maior de advogados, para que as partes consigam estabelecer contratos que não tragam prejuízo a elas. Essa é uma das criticas a essa sociedade baseada no contrato e não na lei.
            A se confiar na autonomia das partes no estabelecimento dos contratos, corre-se um sério risco de se manter as injustiças, já que não há uma igualdade real de negociação dessas partes. A mais forte sempre absorve a mais valia, na linguagem do velho Marx. Essa situação gerou na modernidade um mal-estar, fruto do endeusamento da técnica como solução para todo tipo de problema. E a técnica avaliadora aparece como um mecanismo para cumprimento desse objetivo.
            Os autores iniciam um debate mostrando que é justamente devido a todos esses fatores que os trabalhadores da área de saúde mental a não aceitar a avaliação proposta pelo governo. Apesar da suposta cientificidade na avaliação, ela não é científica. Não dá para se mensurar as características individuais em uma avaliação e comparar com a maioria. Portanto, essa compreensão própria do mundo atual de que os que se saem melhor em uma avaliação são os melhores não condiz com o real, justamente devido a dificuldade de se analisar isso.
            No segundo capítulo, Jean-Claude Milner inicia sua palestra retomando as questões relativas a avaliação. Ao passar pela avaliação, a idéia é que o sujeito sai diferente dela. Ele entra em um estado primitivo, indeterminado e ao sair ele sai desse estado selvagem para um  estado mensurado, carimbado e...evoluído. Isso é claramente um sofismo.
            Outra ponto importante é que o avaliado precisa consentir em ser avaliado, dentro dessa perspectiva de contrato. Na verdade, somos seduzidos com o discurso da avaliação, e um dos cantos da sereia é que todos participaram, portanto, nós devemos participar. Esse processo é perverso porque nos leva a sentir necessidade de ser avaliado, pois essa é apontada como a única forma de ter significado diante dos outros. O problema é que depois de concordar em ser avaliado, estaremos concordando com o resultado, e teremos que reconhecer a nossa suposta inferioridade diante dos outros. O contrato nos obrigará a concorda que caso não consigamos nosso lugar ao sol, será fruto de nossa incompetência.
            O processo de avaliação se caracteriza pelo avaliador chegando como alguém que nada sabe para perceber o que sabemos. Após ele absorver nossos conhecimentos e questionamentos, ele os usa para justificar o discurso oficial, nos fazendo nos ver nesse todo universal. Aqui o autor compara o papel do avaliador com o do advogado, que faz isso ao representar a vontade de seus clientes. Entretanto, o avaliador não interpreta simplesmente o avaliado, ele se apropria do resultado da avaliação para justificar a manutenção de uma estrutura de poder.
            Outra característica da avaliação é que ela só faz sentido diante da comparação. E a comparação serve para hierarquizar as pessoas. Para apontar quem é inferior ou não conseguiu cumprir os objetivos propostos, daí sua perversidade ao ser implantada dessa maneira. Isso nos mostra como o Estado liberal atual lida com os problemas que surgem em nossa sociedade, responsabilizando os indivíduos por eles, e não assumindo a necessidade de ter um papel mais atuante na criação de condições para o desenvolvimento do homem em sociedade.
            Apesar de parecer ser uma questão corporativa de um grupo de profissionais na França, o livro levanta questões atuais para todos nós. A avaliação nas escolas, faculdades, empresas ainda é feita para classificar e excluir os inaptos ao sistema, ao invés de ser usada como um mecanismo de aprendizagem. Ela é simplesmente, conforme o subtítulo do livro, uma máquina de impostura, de engano e de dominação.

12 Faces do Preconceito


Com o objetivo de pensar sobre  o preconceito explicito e implícito em nossas relações, propus a algumas turmas de alunos de 13 e 14 anos o estudo de alguns textos do livro 12 Faces do Preconceito da Editora Contexto e organizado por Jaime Pinsky.
A sala se dividiu em grupos de 6 ou 7 anos alunos que leram um capitulo e apresentaram suas conclusões para os outros colegas, de preferência através de uma apresentação teatral. A outra tarefa era elaborar um texto relatando a experiência e a avaliação de cada grupo sobre o tema proposto e postar aqui no blog.  Não trabalhamos todos os preconceitos citados no livro,  apenas o preconceito racial, contra homossexuais, baixinhos, gordos e mulheres.


sábado, 30 de julho de 2011

A condição da mulher na Primeira República

Márcio Ramos

O Brasil passa por um momento ímpar em sua história em relação à busca pela igualdade de fato a todos os seus cidadãos. Apesar dos vários obstáculos,  os grupos sociais que se sentem excluído de alguma forma estão lutando para efetivar essa paridade nas relações humanas. Podemos citar o reconhecimento pelo STF do direito à união estável aos casais homossexuais como um exemplo desse movimento. Logo após a proclamação da República em 1889, a sociedade brasileira enfrentava esses questionamentos em relação às mulheres. Tentaremos mostrar nesse texto como era a concepção de família e do lugar da mulher nos anos iniciais do século passado, e ao fazermos isso poderemos compreender as permanências da discriminação  na atualidade, e da necessidade de combatê-la.

             Assim como na economia e na política, o comportamento feminino passou por muitas transformações no início  do século XX no Brasil. A tradicional sociedade patriarcal fundada desde o início da colonização começou a se desfazer, o que provocou uma forte reação em muitos conservadores, que viam nisso um perigo alarmante, que poderia acabar com toda a estrutura familiar brasileira.


            

Essas mudanças aconteciam devido ao processo de urbanização que se iniciava no país, que se caracterizava por possibilitar o ajuntamento de tantas contradições social nas áreas urbanas. A nova paisagem urbana era formada por imigrantes, ex-escravos e representantes das elites que tinham mudado do campo para a cidade. Muitas mulheres começaram a trabalhar fora de casa, mas continuavam a ser tratadas como cidadãs de segunda categoria. Isso fazia mulheres como a escritora Cecília Bandeira de Melo afirmar que “nós queremos liberdade, ou pelo menos a igualdade com o homem nosso déspota, o nosso tirano”. Exigiam mudanças na sua relação com os homens na sociedade. Essas mudanças não ocorreram tão rápido como esperavam.

             Mas vamos falar da moral da época. A Ideia predominante era que  “a mulher é em tudo o contrário do homem”. Ela precisava se encaixar no papel de “rainha do lar” para ser benquista. Era a responsável pela promoção do “lar feliz”, pela compreensão do marido e pela manutenção da harmonia em casa. Essa era a perspectiva social defendida.

                A lei na época reforçava a ideia da inferioridade da mulher ao marido. Segundo o Código Civil de 1916 o homem era o chefe da família e a mulher considerada incapaz para a realização de certos atos, sendo que até para trabalhar fora de casa tinha que ser autorizada pelo homem. O homem era o provedor da casa e a mulher a “cuidadora” da casa. A ela cabia a obediência. Vejamos um trecho do livro do Diário de Bitita da escritora Carolina Maria de Jesus, que mostra essa visão:

                “Quando vovô veio almoçar, não tinha farinha. Ele não comia sem farinha porque na época da escravidão os negros eram obrigados a comer o angu e a farinha. À tarde, quando foi jantar, encontrou farinha. Perguntou a siá Maruca:

-Onde e quando conseguiste dinheiro para comprar esta farinha?

            Os seus olhos voaram para o rosto de siá Maruca, que havia mordido os lábios. Por fim ela resolveu responder:

Eu lavei roupas para dona Faustina, ela pagou e eu comprei cinco quilos de farinha, lavei duas dúzias por um mil réis. O quilo da farinha custou duzentos réis.

             O meu avô retirou a cinta da cintura e espancou-a. Dizia:

 É a última vez  que a senhora vai fazer compras sem o meu consentimento. Quando quiser sair, peça-me permissão. Quem manda na senhora sou eu! Se a senhora não obedecer vai embora”.

Foi contra essa visão machista e discriminatória que a mulher brasileira teve que lutar. Na realidade as atividades masculinas eram mais valorizadas do que as das mulheres e foi o trabalho fora de casa que conferiu ao marido maior poder na família, dando a ele a “responsabilidade” pela família.

A família como era imaginada pelas elites da época era preservada através da condenação de qualquer outra organização familiar fora do padrão convencional. Qualquer relacionamento sexual fora do casamento era considerado imoral e inadequado. Como dizia na época o médico eugenista Renato Kehl, não havia felicidade senão no casamento, pois era nele que “a mulher se transformava em Esposa e o homem em Esposo, e que a Esposa e o Esposo se transfiguravam em Mãe e Pai”.

As revistas femininas da época buscavam ensinar as mulheres como deveriam ser. Não apenas mães e boas donas de casa, mas como se portar socialmente, respeitando os bons costumes e a moral. No quesito moda, herdaram do século XIX a cintura de vespa, e para consegui-la, tinham que se sujeitar ao espartilho, que tortura e atrofiava as ultimas costelas e prejudicava o baço, o fígado e os rins. A partir da década de 1910 alguns médicos denunciaram os prejuízos do espartilho e aos poucos ele foi caindo em desuso.  A preocupação com o pudor era enorme.  As roupas não podiam mostrar nem mesmo os tornozelos.

Ao longo do tempo também isso foi mudando, e já em 1917 a imprensa já denunciava que as mulheres estavam determinadas a gastar “menos seda”: primeiro foram os decotes que abaixaram e depois as saias subiram. Mesmo em meio a essa estrutura social as mulheres sempre lutaram contra a desigualdade.



Exemplo disso são personagens citados pelo site www.brasilcultura.com.br, como  Nísia Floresta (1809-1885), abolicionista, republicana e feminista nascida no Rio Grande do Norte e ardorosa defensora da educação feminina. A baiana Violante Bivar e Velasco fundou em 1852 o primeiro jornal dirigido por mulheres: o Jornal das Senhoras e, em 1873, a professora Francisca Senhorinha da Motta Diniz criou em Campanha, Minas Gerais, o jornal feminista O Sexo Feminino.

Ainda segundo o site, “no início deste século, o comércio e as fábricas passam a absorver cada vez mais a mão-de-obra feminina e essa incorporação na produção social criou as raízes dos movimentos da libertação feminina. A incorporação possibilitava uma independência econômica e, conseqüentemente, quebraria os laços da dominação do homem e da família. Em novembro de 1917, a Professora Leolinda Daltro, depois de fundar em 1910 o Partido Republicano Feminino, lidera uma passeata exigindo a extensão do voto às mulheres (desde o século passado o voto era acessível aos homens), mesmo ano em que Anita Malfati realiza a que é considerada a primeira mostra de arte moderna brasileira.”

Após todas essas manifestações e organizações, em 1932 foi garantido o direito de voto às mulheres como o novo Código Eleitoral de Getúlio Vargas. Essa foi uma grande conquista, mas as mulheres lutaram durante todo o século XX, e ainda lutam, para que haja igualdade de fato, não apenas legal, entre homens e mulheres.

Fontes:
Maluf, Marina; Mott, Maria Lúcia. Recônditos do mundo feminino. In: Sevcenko, Nicolau. República: da belle époque à era do rádio. Säo Paulo, Companhia das Letras, 1998. p. 367-421

domingo, 29 de maio de 2011

A questão das cotas

A política de Cotas e a inclusão social
A sociedade brasileira possui um histórico de discriminação e preconceito racial, situação esta que é o resultado de mais de 300 anos de exploração através da escravidão negra, experiência que marcou nossa identidade nacional e levou a convivência com a prática do racismo a ser vista como algo natural, havendo na mentalidade coletiva lugar para negros e lugar reservado para brancos. O lugar do negro quase sempre é apontado como o da força bruta, enquanto que os brancos o do trabalho intelectual. O resultado disso é apontado pelas pesquisas, que mostram sistematicamente como a população negra se encontra entre as mais pobres do país, ocupando os piores empregos e ganhando os piores salários, além de possuir uma possibilidade de mobilidade social inferior à média nacional.
Outro aspecto que deve ser levado em consideração é o acesso e a permanência junto ao sistema educacional brasileiro. Apesar das políticas de globalização de acesso à escola, o nível de escolaridade dos negros é inferior a media nacional, e isso não é um resultado da baixa capacidade intelectual dos negros como alguns sugerem. Desde cedo os negros são excluídos do processo educacional, através do racismo, da falta de boas condições de vida e de oportunidade, além de ter sua identidade negada, ou inferiorizada.
Daí a necessidade de políticas públicas que busquem diminuir essa desigualdade social, como o estabelecimento de cotas para o acesso a universidades e concursos públicos. Essas medidas devem ser vistas como algo provisório, que permita a esses estudantes de origem mais humilde consigam chegar ao ensino superior. Isso não pode ser visto como uma afirmação de inferioridade intelectual, mas simplesmente tratar de forma diferente o que a sociedade historicamente tratou diferente, ou seja, é como se em uma corrida, a parcela privilegiada da sociedade já tivesse partido na frente, pois tem acesso a melhores escolas e aos bens culturais cobrados pelas universidades, daí a necessidade de uma política de inclusão social.
Na realidade, as cotas devem ser vistas dentro de um contexto maior das ações afirmativas, que devem incluir o combate a toda  forma de preconceito e discriminação, sempre objetivando a implementação de uma sociedade de fato igualitária, efetivando um dos objetivos previstos em nossa Constituição em seu terceiro artigo:  Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I – construir uma sociedade livre, justa e solidária.
Veja uma boa discussão sobre o tema: http://www.revistaforum.com.br/noticias/2011/01/17/cotas_da_igualdade/

quinta-feira, 26 de maio de 2011

As Revoltas na República Velha: Revolta da Vacina e Revolta da Chibata


República Velha é o nome dado ao período que iniciou-se com a Proclamação da República em 1889 e terminou com o movimento de 1930 que depôs o presidente Washington Luis. Durante esse período as oligarquias consolidaram-se no poder, apoiadas em sua riqueza, mas também em uma estrutura política típica, desenvolvida pelas elites.
No entanto, não podemos imaginar que, apesar de controlarem o poder de forma hegemônica durante mais de 30 anos, essa tenha sido uma tarefa fácil. Os trabalhadores, marginalizados politicamente e explorados economicamente rebelaram-se diversas vezes contra o poder das oligarquias, tanto nas cidades como no campo.
AS CIDADES
Desde o final do período monárquico as cidades conheceram um crescimento acentuado, apesar de o país preservar uma estrutura econômica essencialmente rural. A atividade financeira e industrial contribuíram para essa urbanização, assim como a abolição da escravidão. Nesse sentido o crescimento foi acompanhado pela formação da classe operária e de uma camada de trabalhadores braçais desqualificados, negros e mulatos, marginalizados ainda pelo preconceito racial.
O crescimento desordenado das cidades, em especial o Rio de Janeiro - capital do país - foi acompanhado pela marginalização, com as camadas pobres da população ocupando a periferia da cidade, as áreas baixas, sem as mínimas condições de saneamento.
A pobreza era bastante acentuada, fato que contribuiu para a eclosão de movimentos que passaram a contestar a ordem estabelecida.
A REVOLTA DA VACINA
Ocorreu no Rio de Janeiro em 1906, contra a política de vacinação forçada adotada pelo governo de Rodrigues Alves no combate à epidemia de varíola.
No início do século, a capital do país foi assolda por algumas epidemias, como a peste bubônica e a varíola, e contra esta última, o governo promoveu a vacinação da população.
Vários fatores contribuíram para a rebelião popular:
1) A vacinação foi decretada obrigatória, e o governo formou então as brigadas sanitárias, grupos encarregados de promover a vacinação nos bairros e que utilizou-se de grande violência.
2) A propaganda contrária realizada por grupos monarquistas, aproveitando-se do desconhecimento da situação por parte da população, estimulando-a à rebelião. Notem que nos dois casos há um profundo desprezo pelas camadas populares. As elites, no poder ou na oposição, não possuíam a mínima preocupação em esclarecer a sociedade em relação aos procedimentos adotados.
A rebelião ocorreu nos bairros, onde a população ergueu barricadas e com pau e pedras enfrentou a polícia. Após intensa repressão e a prisão de várias pessoas, a vacinação foi completada, eliminando-se a varíola da cidade.

Veja esse  texto da Revista  Superinteressante: http://super.abril.com.br/superarquivo/1994/conteudo_114370.shtml

A REVOLTA DA CHIBATA
O movimento iniciou-se em 22 de novembro de 1910 no navio Minas Gerais. Os marinheiros rebelaram-se contra os maus tratos, comuns na marinha brasileira, em especial, o costume de chicotear os marinheiros considerados faltosos.
Apesar de ocorrer contra os castigos determinados ao marinheiro Marcelino Menezes, a revolta já vinha sendo preparada há meses, e os marinheiros estavam bem organizados, dominando com rapidez outras embarcações.
Apontando os canhões para a cidade do Rio de Janeiro, os marinheiros exigiam o fim dos castigos corporais e a melhoria na alimentação, e o governo de Hermes da Fonseca, foi obrigado a atender às reivindicações e a conceder anistia aos líderes do movimento.Apesar de eliminada a chibata, os líderes acabaram presos e muitos morreram torturados. O principal líder, o marinheiro João Candido, conhecido como “Almirante Negro” acabou sendo absolvido em 1912. 


Veja um excelente texto sobre a Revolta da Chibata
http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/o_almirante_negro_gloria_a_uma_luta_ingloria.html





segunda-feira, 23 de maio de 2011

A República Velha


Vamos conhecer um pouco mais sobre a história do Brasil. O período qm que o país se tornou uma República.

 O que é uma republica? Vejamos o que o Aurélio nos informa: República:[Do lat. republica < res publica, 'coisa pública'.]1. Organização política de um Estado com vista a servir à coisa pública, ao interesse comum.2. Sistema de governo em que um ou vários indivíduos eleitos pelo povo exercem o poder supremo por tempo determinado.
Em 1889 o Brasil se tornou uma república. Tal mudança na organização política não resultou em transformações  significativas para as classes populares. O Povo assistia a tudo “bestializado”, sem saber direito o que estava acontecendo. Na verdade, muitos não viam diferença entre a Republica e a Monarquia, já que o poder político e econômico continuou concentrado nas mãos da elite agrícola. Não houve melhorias para a vida dos ex-escravos e para o restante da população pobre.

Os primeiros presidentes da república foram militares, Deodoro da Fonseca e depois  Floriano Peixoto. Foi o período da Republica da Espada. Rui Barbosa, que era ministro de Deodoro, criou um plano econômico para estimular o crescimento da industria. Começou a emitir papel-moeda em grande quantidade, o que acabou gerando especulação e uma alta da inflação. Tais medidas foram apelidadas de Encilhamento.

O período que vai da queda do Império até 1930 é chamado de República Velha, ou Republica oligárquica. Havia eleições para presidente da republica, mas essas eleições eram fraudulentas e manipuladas. Como já disse, o poder na realidade estava nas mãos da oligarquia. Mas o que eram as oligarquias? Oligarquia quer dizer “governo de poucos”. Na Republica Velha, somente alguns privilegiados  latifundiários é que tinham ligações com o Estado e recebiam apoio dele. Em cada Estado havia uma ou mais família que controlava toda a estrutura política. Desde o governo estadual até às prefeituras.
As duas oligarquias mais poderosas eram a paulista e a mineira. O presidente da Republica era eleito, mas o resultado das eleições era geralmente combinado entre as duas oligarquias. Tratava-se da célebre Política do Café-com- Leite. São Paulo era o estado mais rico do país por causa do café. Minas Gerais, com tradição pecuarista, era grande produtor de leite. Daí o nome “Café com Leite” para indicar esse domínio paulista/mineiro nas eleições presidenciais.

E como é que as outra oligarquias do país encaravam o fato de haver um esquema para que o presidente da Republica fosse sempre indicado por Minas e São Paulo, alternadamente?  Aceitavam porque eram mais fracos e estavam integrados a um esquema chamado Política dos Governadores. Essa política era uma espécie de acordo nacional entre todas as oligarquias estaduais. O presidente da Republica nem queria saber qual era a oligarquia que estava dominando cada estado. Ele simplesmente  apoiava essa oligarquia e pronto. Em troca, esperava que as oligarquias dos estados também o apoiassem.
Em cada estado, os governadores também precisavam trocar favores  com os coronéis. ( O coronel não era um militar. Esse era o apelido comum para o latifundiário. Os coronéis tinham força política no âmbito municipal. Ou seja, nas cidadezinhas do interior, mandavam no prefeito, no padre, nos vereadores, no delegado, no juiz nos comerciantes. Além disso, controlavam a multidão de eleitores da cidadezinhas e das áreas rurais por perto. Quase todo mundo votava no candidato que eles indicavam. Era como se tivessem um verdadeiro rebanho de pessoas que votavam servilmente, um verdadeiro curral eleitoral. Era fácil controlar o voto das pessoas porque o voto não era secreto. Esse controle dos votos da região pelo coronel era chamado de voto do cabresto.

 O principal produto brasileiro exportado era o café. Daí o grande poder que os cafeicultores possuíam. A partir de 1920 porém o café entrou em crise. A produção era muito grande, mas eles não conseguiam encontrar compradores para o café. Para não deixar os cafeicultores quebrarem  economicamente, o governo comprava a produção excedente, para que os preços não caíssem muito.

Percebemos então que a Republica Velha o poder estava concentrado nas mãos dos latifundiários. A sociedade brasileira porém não aceitou essa situação passivamente. Surgiram várias revoltas nesse período questionando tal estado de coisas. A Revolta Da Vacina(1904), Canudos, a Revolta no Contestado e o cangaço são exemplos da reação popular a essa exclusão social da Republica dos Coronéis. Mas isso é outra história, ou outro post.
Entretanto, deixo a pergunta: o coronelismo e o clientelismo ainda permanece em nossos dias no Brasil? Qual sua opinião?

sábado, 21 de maio de 2011

Canal da História

Olá a todas e a todos! Esse é um novo espaço para discussão sobre a história e sua relação com nossas vidas.
A proposta é apresentarmos alguns textos sobre história, política e atualidades e assim dialogarmos com todos. Portanto, sejam bem-vindos.