quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Atividades sobre a África pré-colonial


1     1- Leia a prova com atenção e responda:

Marque  a afirmação ERRADA sobre a África e explique porque ela está errada:
A) A África é o local do surgimento do homem  na Terra
B) É um dos países mais pobres do mundo.
C) Foi formada por vários reinos e povos ao longo de sua história.
D) É onde a Copa do Mundo de 2010 está sendo realizada.

2- Leia o texto abaixo:
Em quase todo o continente africano, era rico e poderoso quem tinha muitos escravos. [...] Em quase toda parte, o percurso de ascensão social de um homem ambicioso passava pela aquisição de escravaria. [...] Cabiam-lhes [aos escravos], primeiro que tudo, as tarefas características do escravismo doméstico, entre as quais as de natureza agrícola. Mas também derrubavam trechos de mata, cultivavam e colhiam, cuidavam do gado, cortavam lenha, apanhavam água, er guiam cercas, levantavam casas, fiavam e teciam, entrançavam cestas e esteiras, remavam barcos, caçavam e pescavam. Os grandes senhores cedo encontraram novos modos de usar os muitos escravos de que dispunham. Puseram-nos a trabalhar em grupo grandes extensões de terra e com os produtos que dali saíam passaram a alimentar a corte, a administração e o exército. [...] O escravo permitia, assim, que seu dono ocupasse e cultivasse mais terras, expandis se as capoeiras e os currais e vendesse mais produtos ao mercado.

Costa e Silva, Alberto da. A manilha e o libambo: a África e a escravi dão de 1500 a 1700. Rio de Janeiro: Nova Fronteira/Fundação Biblioteca Nacional, 2002. p. 90.
Agora responda:

A) Qual a importância da escravidão em certas regiões do continente africano no período aqui estudado?
B) Quais as principais atividades desenvolvidas pelos escravos, em que que eles trabalhavam?

3- Leia o texto para responder às questões a seguir.
Recolhedores e caçadores
"[Na África] os que menos afetaram o meio foram os recolhedores e caçadores. Muitas ve zes nem sequer construíam moradas permanentes. Um simples pára-vento os abrigava [...]. Al guns eram sobretudo caçadores — como os bosquímanos ou boximanes (do sul da África), os niambos (da fronteira entre Ruanda, Burun-di eTanzânia) e os dorobos (das montanhas do Quénia) —, ou coletores — como os tindigas (da Tanzânia) e os pigmeus (das florestas equa toriais) —, ou pescadores — como os budu-mas (do Chade) [...]. Em geral dedicavam-se a todas essas atividades, com ênfase numa de las. E, às vezes, conheciam uma agricultura rudimentar, [empregando] utensílios muito sim ples: o pau de escavar, a enxada, geralmente de cabo curto, e a pá. [...]"
SILVA, Alberto da Costa e. A enxada e a lança: a África antes dos portugueses. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996. p. 20-21.,
A) Que modo de vida existente no continente africano é descrito nesse texto?
B) Identifique as características dessas socie dades que são citadas no texto.
C) Por que as sociedades de que trata o texto pouco alteravam o meio em que viviam?


4) Elabore um texto, mostrando as principais características dos antigos povos africanos.

Documentos sobre a Primeira Guerra




1-“Nós fornecíamos antigamente as nossas armas ao mundo inteiro(...) . Hoje, a maior parte dos governos meteram-se a fabricá-las(...) . Tínhamos o monopólio  dos parafusos e pregos. Ao abrigo das tarifas protecionistas, Alemanha e América desenvolveram suas fábricas (...) Os botões  que vendíamos a toda Europa, chegam-nos hoje da Alemanha. O fio de ferro alemão é vendido nas nossas lojas.(...). Os russos também nos fecharam os seus mercados(...). A Alemanha tomou o caminho dos nossos mercados, o endereço de nossos clientes, e, vendo nossos lucros, falsificou nossas marcas.”
(Queixas de membros da Câmara de comércio de Birmingham e de Sheffield- Inglaterra -  1885/1886)

2-“Tornamo-nos  animais selvagens. Não combatemos, nos defendemos da destruição. Sabemos que não lançamos as granadas contra homens, mas contra a morte, que nos persegue com mãos e capacetes.(...) Corremos agachados como gatos, submersos por onda que nos arrasta, que nos torna cruéis, bandidos, assassinos, até demônios. Se seu próprio pai viesse com os do outro lado, você não hesitaria em atirar-lhe uma granada em pleno peito.”
REMARQUE, Eric Maria. Nada de Novo no front. São Paulo, Edibolso, s/d, p.92.

3- “Ainda estou atolado nesta trincheira.(...) Não me lavei, nem mesmo cheguei a tirar a roupa, e a média de sono, a cada vinte e quatro horas, tem sido de duas horas e meia.(...) Em geral, para dormirmos aquecidos, deitávamos-nos uns juntos dos outros, dividindo os cobertores(...). Os ratos eram gordos e um deles apareceu à três da manha. Ficou olhando para mim e guinchando.”

4-“Tratado de Versalhes :28 de junho de1919

Os Estados Unidos da América, o Império Britânico, a França, a Itália e o Japão, potencias designadas no presente tratado como as principais potencias aliadas e associadas(...) de um lado; e a Alemanha, de outro lado, concordaram sobre as seguintes disposições:
Art. 45. Em compensação à destruição das minas de carvão no norte da França, a Alemanha cede à França  a propriedade das Minas de carvão situadas na bacia do Sarre.
Art. 51. Os territórios cedidos à Alemanha, em 1817, são reitengrados à soberania francesa.
Art. 81. A Alemanha reconhece  a completa independência do Estado Tcheco-Eslovaco.
Art. 87. A Alemanha reconhece a completa independência da Polônia.
Art. 100. A Alemanha renuncia, em favor das principais potencias aliadas, a todos os direitos sobre a cidade de Dantzig.
Art. 160. O exército alemão não deverá ter mais do que sete divisões de infantaria e três de cavalaria.
Art. 231. Os governos aliados e associados declaram e a Alemanha reconhece: a Alemanha reconhece: a Alemanha e seus aliados são responsáveis, por tê-los causado, por todas as perdas e danos sofridos pelos governos aliados e associados em conseqüência  da guerra, que lhes foi imposta pela agressão da Alemanha e de seus aliados.
Art.232. Os governos aliados exigem e a Alemanha se compromete: que sejam reparados todos os danos causados à população civil das potencias aliadas e associadas e a seus bens.”

Adaptado de MATTOSO, Kátia M. de Queirós. Textos e documentos para o Estudo da História Contemporânea(1789-1963). São Paulo, HUCITEC-EDUSP, 1977,p. 166-9. 

África, Berço da civilização.



A África tem sido palco de alguns dos maiores avanços tecnológicos da história, entre eles a prática agrícola, criação de gado, mineração e metalurgia (do cobre, do bronze, do ferro, do aço), o comércio, a escrita, a arquitetura e engenharia na construção de grandes centros urbanos, a sofisticação da organização  política, a prática da medicina e o avanço do conhecimento e da  reflexão intelectual.
Foi também centro do desenvolvimento de civilizações, uma das mais avançadas da experiência humana. Entretanto, a imagem de seus povos como não construtores do conhecimento ou da tecnologia, complementada pela idéia de suas civilizações como “importadas” ou erigidas por povos estrangeiros, ainda molda o conceito comum da África como um continente sem história. Apenas muito recentemente, há o reconhecimento de  uma África histórica repleta de grandes realizações.

Os povos antigos, até mesmo africanos, navegavam os mares à procura da rota para as Índias, milênios antes  das caravelas portuguesas e espanholas. Os egípcios construíam navios de grande porte desde o terceiro milênio a.C., e há indícios de que enviavam frotas até à Irlanda à procura de estanho para fazer o bronze. O mundo antigo caracterizava-se por ativo comércio e intercâmbio cultural entre a África, a Europa, Sumer e Elam, a Índia, a China e Ásia oriental, e provavelmente as Américas.

Os  mouros, basicamente povos africanos islamizados, dominaram a península ibérica durante séculos, ocasionando um verdadeiro iluminismo  na Idade Média européia ao protagonizar o avanço dinâmico do conhecimento humano. Na Europa, naquela época, não havia dúvida quanto à identidade africana dos mouros, como testemunham o personagem Otelo, de Shakespeare, bem como retratos pintados e bustos esculpidos à época.

A limitação do olhar histórico aos últimos quinhentos anos reforça a imagem construída, muito recentemente, dos povos africanos como primitivos ou eternos escravos. Ao deixar de lado 5.500 anos de desenvolvimento africano que antecedem o período da escravidão mercantil, essa perspectiva encoberta um fato incontestável: os africanos viveram apenas uma pequena parte de seu tempo histórico amarrados aos grilhões da escravidão mercantil. Durante milênios, foram agentes ativos do desenvolvimento da civilização humana em todo o mundo.

Você já havia pensado nisso? O período da escravidão mercantil e da colonização e descolonização da África correspondem a menos de 8% dos seis mil anos da história africana! Ou seja, os africanos viveram 92% de sua história exercendo sua soberania e contribuindo para a construção da civilização e do desenvolvimento em todo o mundo.

No Brasil, é tão forte aidentificação da origem africana com a condição escrava que a palavra “negro” é usada como sinônimo de escravo. Entretanto, a escravidão atingiu vários povos do mundo, até os brancos europeus, e não apenas os africanos. Aliás, o vocábulo “escravo” deriva de eslavo, em decorrência da escravização de europeus de língua eslava, muito comum durante o Império Romano e a Idade Média.

Em termos qualitativos e quantitativos, os sistemas de escravidão no mundo antigo  variavam,  porém  todos  diferiam  da  escravidão  praticada pelos europeus na África nos últimos séculos. Em Atenas, a escravidão por dívida foi substituída pela captura e venda de prisioneiros de guerra oriundos das sociedades ao redor do mar Egeu. Ao apogeu dessa prática, os escravos formavam um terço da população.

O Império Romano praticava o escravismo em escala maior. Entre os séculos II a.C. e IV d.C., a captura de escravos passou a ser uma das principais razões para o expansionismo militar romano. Obtinha-se escravos principalmente em guerras contra os povos “bárbaros” da Europa ocidental e oriental: germanos, eslavos, bretões, gregos, celtas e outros. Calcula-se que um terço da população era constituída por escravos.

Fonte: ?

O Islamismo



O islamismo foi fundado no ano de 622, na região da Arábia, atual Arábia Saudita. Seu fundador, o profeta Maomé, reuniu a base da fé islâmica num conjunto de versos conhecido como Corão - segundo ele, as escrituras foram reveladas a ele por Deus por intermédio do Anjo Gabriel.
Assim como as duas outras grandes religiões monoteístas, o cristianismo e do judaísmo, as raízes de Maomé estão ligadas ao profeta e patriarca Abraão. Maomé seria seu descendente. Abraão construiu a Caaba, em Meca, principal local sagrado do islamismo. Para os muçulmanos, o islamismo é a restauração da fé de Abraão.

Ainda no início da formação do Corão, Maomé e um ainda pequeno grupo de seguidores foram
perseguidos por grupos rivais e deixaram a cidade de Meca rumo a Medina. A migração, conhecida como Hégira, dá início ao calendário muçulmano. Em Medina, a palavra de Deus revelada a Maomé conquistou adeptos em ritmo acelerado.

O profeta retornou a Meca anos depois, perdoou os inimigos e iniciou a consolidação da religião islâmica. Quando ele morreu, aos 63 anos, a maior parte da Arábia já era muçulmana. Um século depois, o islamismo era praticado da Espanha até a China. Na virada do segundo milênio, a religião tornou-se a mais praticada do mundo, com 1,3 bilhão de adeptos.

Profeta Maomé
Maomé nasceu em Meca, no ano de 570. Órfão de pai e mãe, foi criado pelo tio, membro da tribo dos coraixitas. De acordo com historiadores, tornou-se conhecido pela sabedoria e compreensão, tanto que servia de mediador em disputas tribais. Adepto da meditação, ele realizava um retiro quando afirmou ter recebido a primeira revelação de Deus através do anjo Gabriel. Na época, ele tinha 40 anos. As revelações prosseguiram pelos 23 anos restantes da vida do profeta.
Contrário à guerra entre tribos na Arábia, Maomé foi alvo de terroristas e escapou de várias tentativas de assassinato. Enquanto conquistava fiéis, empregava as escrituras na tentativa de pacificar sua terra - tarefa que cumpriu antes de morrer, aos 63 anos, depois de retornar a Meca. Para os muçulmanos, Maomé é uma figura digna de extrema admiração e respeito, mas não é o alvo de sua adoração. Ele foi o último dos profetas a trazer a mensagem divina, mas só Deus é adorado.

Crenças
A base da fé islâmica é o cumprimento dos desejos de Deus, que é único e incomparável. A própria palavraIslã quer dizer "rendição", ou "submissão". Assim, o seguidor da religião islâmica deve obedecer às escrituras, orar e glorificar apenas seu Deus e ser fiel à mensagem que Maomé trouxe.
Os muçulmanos enxergam nas escrituras divulgadas por Maomé a continuação de uma grande linhagem de profecias, trazidas por figuras que fazem parte dos livros sagrados dos judeus e cristãos - como Adão, Noé, Abraão, Moisés, Davi e Jesus. Os cristãos e judeus, aliás, são chamados no Corão Povos das Escrituras, com garantia de respeito e tolerância.

O seguidor do islamismo tem como algumas de suas obrigações "promover o bem e reprimir o mal", evitar a usúria e o jogo e não consumir o álcool e a carne de porco. Um dos principais desafios do muçulmano é obter êxito na jihad - que, ao contrário do que muitos acreditam no Ocidente, não significa exatamente "guerra santa", mas sim o esforço e a luta do muçulmano para agir corretamente e cumprir o caminho indicado por Deus.

Os muçulmanos acreditam no dia do juízo final e na vida após a morte, quando o praticante da religião recebe sua recompensa ou sua punição pelo que fez na Terra. Acreditam também na
unidade da "nação" do Islã - uma crença simbolizada pela gigantesca peregrinação anual a Meca, que reune muçulmanos do mundo todo, lado a lado.

Os cinco pilares do islamismo formam a estrutura de vida do seguidor da religião. São eles:
Pronunciar a declaração de fé intitulada "chahada": "Não há outra divindade além de Deus e Mohammad é seu Mensageiro".
Realizar as cinco orações obrigatórias durante cada dia, no ritual chamado "salat". As orações servem como uma ligação direta entre o muçulmano e Deus. Como não há autoridades hierárquicas, como padres ou pastores, um membro da comunidade com grande conhecimento do Corão dirige as orações. Os versos são recitados em árabe, e as súplicas pessoas são feitas no idioma de escolha do muçulmano. As orações são feitas no amanhecer, ao meio-dia, no meio da tarde, no cair da noite e à noite. Não é obrigatório orar na mesquita - o ritual pode ser cumprido em qualquer lugar.
Fazer o que puder para ajudar quem precisa, no chamado "zakat". A caridade é uma obrigação do muçulmano, mas deve ser voluntária e, de preferência, em segredo. O muçulmano deve doar uma parte de sua riqueza anualmente, uma forma de mostrar que a prosperidade não é da pessoa - a riqueza é originária de Deus e retorna para Deus.
Jejuar durante o mês sagrado do Ramadã, todos os anos. Nesse período, todos os muçulmanos devem permanecer em jejum do amanhecer ao anoitecer, abstendo-se também de bebida e sexo. As exceções são os doentes, idosos, mulheres grávidas ou pessoas com algum tipo de incapacidade física - eles podem fazer o jejum em outra época do ano ou alimentar uma pessoa necessitada para cada dia que o jejum foi quebrado. O muçulmano que cumpre o jejum se purifica ao vivenciar a experiência de quem passa fome. No fim do Ramadã, o muçulmano celebra o Eid-al-Fith, uma das duas principais festas do calendário islâmico.

O Corão,
o livro sagrado dos muçulmanos reúne todas as revelações de Deus feitas ao profeta Maomé através do anjo Gabriel. No Corão estão instruções para a crença e a conduta do seguidor da religião - não fala apenas de fé, mas também de aspectos sociais e políticos. Dividido em 114 "suratas" (capítuolos), com vários versículos cada (o número varia de 3 a 286 versículos), o Corão foi escrito em árabe formal e, com o tempo, tornou-se de difícil entendimento.
O complemento para sua leitura é a Sunna, coletânea de registros de discursos do profeta Maomé, geralmente em linguagem mais clara e fluente. Cada uma dessas mensagens tiradas dos discursos é conhecida como "hadith". Como os relatos foram de pessoas diferentes, há muitas divergências entre os registros de ensinamentos do profeta: cada um contava a mensagem da forma que o interessava. Além de contradições, as "hadith" provocaram também uma expansão dos conceitos do Islã, ao incorporar tradições e doutrinas sobre sociedade e justiça - aspecto importante na formação da cultura islâmica em geral, que não ficou restrita à religião.

Sharia é a lei religiosa do islamismo. Como o muçulmano não vê distinção entre o aspecto religioso e o resto da sua conduta pessoal, a lei islâmica não trata só de rituais e crenças, mas de todos os aspectos da vida cotidiana. Apesar de terpassado por um detalhado processo de formatação, a lei islâmica ainda é aplicada de formas variadas ao redor do mundo - os países adotam a sharia têm interpretações mais ou menos rigorosas dela.

Na Arábia Saudita, por exemplo, vigora uma das mais conservadoras versões da lei islâmica. O Afeganistão da época da milícia Talibã teve a mais dura e radical aplicação da sharia nos tempos modernos - proibia música e outras expressões culturais e esportivas, restringia gravemente todos os direitos das mulheres e ordenava punições bárbaras. A sharia, porém, é adotada formalmente numa minoria de países com grandes populações islâmicas.
Realizar a peregrinação a Meca, o "haj". Todos os muçulmanos com saúde e condição financeira favorável deve realizar a peregrinação pelo menos uma vez na vida. Todos os anos, cerca de 2 milhões de pessoas de todas as partes do mundo se reúnem em Meca, sempre com vestimentas simples - para eliminar as diferenças de classe e cultura. No fim da peregrinação, há o festival de Eid-Al-Adha, com orações e troca de presentes - a segunda festa mais importante.

As construções reservadas para as orações dos muçulmanos são chamadas mesquitas, ou "masjids". Os prédios, contudo, não precisam ser especialmente construídos com esse fim - qualquer local onde a comunidade muçulmana se reúne para orar é uma mesquita. Há dezenas de milhares de mesquitas no mundo, e elas vão desde as construções mais esplendorosas, com arquitetura riquíssima, às mais modestas, adaptadas dentro de outras estruturas.
A mesquita de Caaba, em Meca, é uma das mais famosas, pois é o centro da peregrinação do "haj". A mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, também é um local muito visitado pelos muçulmanos de todo o mundo - ela abrigaria a pedra de onde Maomé "ascendeu ao céu".


O Feudalismo


O Feudalismo pode ser visto enquanto um sistema de produção a partir do século IX. A economia feudal possuía base agrária, ou seja, a agricultura era a atividade responsável por gerar a riqueza social naquele momento. Ao mesmo tempo, outras atividades se desenvolviam, em menor escala, no sentido de complementar a primeira e suprir necessidades básicas e imediatas de parcela da sociedade. A pecuária, a mineração, a produção artesanal e mesmo o comércio eram atividades que existiam, de forma secundária.

Como a agricultura era a atividade mais importante, a terra era o meio de produção fundamental. Ter terra significava a possibilidade de possuir riquezas ( como na maioria das sociedades antigas e medievais), por isso preservou-se a caráter estamental da sociedade. Os proprietários rurais eram denominados Senhores Feudais, enquanto que os trabalhadores camponeses eram denominados servos.
O feudo era a unidade produtiva básica. Imaginar o feudo é algo complexo, pois ele podia apresentar muitas variações, desde vastas regiões onde encontramos vilas e cidades em seu interior, como grandes “fazendas” ou mesmo pequenas porções de terra. Para tentarmos perceber o desenvolvimento socioeconômico do período, o melhor é imaginarmos o feudo como uma grande propriedade rural. O território do feudo era dividido normalmente em três partes: O Domínio, terra comum e manso servil

O Domínio é a parte da terra reservada exclusivamente ao senhor feudal e trabalhada pelo servo. A produção deste território destina-se apenas ao senhor feudal. Normalmente o servo trabalha para o senhor feudal, nessa porção de terra ou mesmo no castelo, por um período de 3 dias, sendo essa obrigação denominada corvéia.

Terra comum e a parte da terra de uso comum. Matas e pastos que podem ser utilizadas tanto pelo senhor feudal como pelos servos. É o local de onde retiram-se lenha ou madeira para as construções, e onde pastam os animais.
Manso servil era a parte destinada aos servos. O manso é dividido em lotes (glebas) e cada servo tem direito a um lote. De toda a produção do servo em seu lote, metade da produção destina-se ao senhor feudal, caracterizando uma obrigação denominada talha.

Esse sistema se caracteriza pela exploração do trabalho servil, responsável por toda a produção. O servo não é considerado um escravo, porém não é um trabalhador livre. O que determina a condição servil é seu vínculo com a terra, ou seja, o servo esta preso a terra. Ao receber um lote de terra para viver e trabalhar, e ao receber (teoricamente) proteção, o servo esta forçado a trabalhar sempre para o mesmo senhor feudal, não podendo abandonar a terra. Essa relação, definiu-se lentamente desde a crise do Império Romano com a formação do colonato.Além da corvéia e da talha, obrigações mais importantes devidas pelo servo ao senhor, existiam outras obrigações que eram responsáveis por retirar dos servo praticamente tudo o que produzia.

Tradicionalmente a economia foi considerada natural, de subsistência e desmonetarizada. Natural por que baseava-se em trocas diretas, produtos por produto e diretamente entre os produtores, não havendo portanto um grupo de intermediários (comerciantes); de subsistência por que produzia em quantidade e variedade pequena, além de não contar com a mentalidade de lucro, que exigiria a produção de excedentes; desmonetarizada por não se utilizar de qualquer tipo de moeda, sendo que havia a troca de produto por produto.

Apesar de podermos enxergar essa situação básica, cabem algumas considerações: o comércio sempre existiu, apesar de irregular e de intensidade muito variável. Algumas mercadorias eram necessárias em todos os feudos mas encontradas apenas em algumas regiões, como o sal ou mesmo o ferro. Além desse comércio de produtos considerados fundamentais, havia o comércio com o oriente, de especiarias ou mesmo de tecidos, consumidos por uma parcela da nobreza (senhores feudais) e pelo alto clero. Apesar de bastante restrito, esse comércio já era realizado pelos venezianos.

Mesmo o servo participava de um pequeno comércio, ao levar produtos excedentes agrícolas para a feira da cidade, onde obtinha artesanato urbano, promovendo uma tímida integração entre campo e cidade. “ A pequena produtividade fazia com que qualquer acidente natural (chuvas em excesso ou em falta, pragas) ou humano ( guerras, trabalho inadequado ou insuficiente) provocasse períodos de escassez” .Nesse sentido havia uma tendência a auto suficiência, uma preocupação por parte dos senhores feudais em possuir uma estrutura que pudesse prove-lo nessas situações

A sociedade

A sociedade feudal era composta por duas classes sociais básicas: senhores e servos. A estrutura social praticamente não permitia mobilidade, sendo portanto que a condição de um indivíduo era determinada pelo nascimento, ou seja, quem nasce servo será sempre servo. Utilizando os conceitos predominantes hoje, podemos dizer que, o trabalho, o esforço, a competência e etc, eram características que não podiam alterar a condição social de um homem.

O senhor era o proprietário dos meios de produção, enquanto os servos representavam a grande massa de camponeses que produziam a riqueza social. Porém podiam existir outras situações: a mais importante era o clérigo. Afinal o clero é uma classe social ou não?

O clero possuía grande importância no mundo feudal, cumprindo um papel específico em termos de religião, de formação social, moral e ideológica. No entanto esse papel do clero é definido pela hierarquia da Igreja, quer dizer, pelo Alto Clero, que por sua vez é formado por membros da nobreza feudal. Originariamente o clero não é uma classe social, pois seus membros ou são de origem senhorial (alto clero) ou servil (baixo clero).

A maioria dos livros de história retrata a divisão desta sociedade segundo as palavras do Bispo Adalberon de Laon: “na sociedade alguns rezam, outros guerreiam e outros trabalham, onde todos formam um conjunto inseparável e o trabalho de uns permite o trabalho dos outros dois e cada qual por sua vez presta seu apoio aos outros” Para o bispo, o conjunto de servos é “uma raça de infelizes que nada podem obter sem sofrimento”. Percebe-se o discurso da Igreja como uma tentativa de interpretar a situação social e ao mesmo tempo justifica-la, preservando-a. Nesta sociedade, cada camada tem sua função e portanto deve obedece-la como vontade divina.

A relação de suserania e vassalagem é bastante complexa. Sua origem remonta ao Reino Franco, principalmente durante o reinado de Carlos Magno e baseia-se na concessão do feudo (beneficium).

Surgem os dois primeiros problemas: Quem esta envolvido nesta relação? e, o que é feudo?

Esta relação é eventual, pode existir ou não, dependendo da vontade ou da necessidade das partes, que são sempre dois senhores feudais; ou seja, é uma relação social que envolve membros da mesma camada social, a elite medieval. O termo feudo originariamente significava “benefício”, algo concedido a outro, e que normalmente era terra, daí sua utilização como sinônimo da “propriedade senhorial”. Suserano é o senhor que concede o benefício, enquanto que vassalo é o senhor que recebe o benefício. Esta relação, na verdade bastante complexa, tornou-se fundamental durante a Idade Média e serviu para preservar os privilégios da elite e materializava-se a partir de três atos: a homenagem , a investidura e o juramento de fidelidade. Normalmente o suserano era um grande proprietário rural e que pretende aumentar seu exército e capacidade guerreira, enquanto o vassalo, é um homem que necessita de terras e camponeses.

O poder

No mundo feudal não existiu uma estrutura de poder centralizada. Não existe a noção de Estado ou mesmo de nação. Portanto consideramos o poder como localizado, ou seja, existente em cada feudo. Apesar da autonomia na administração da justiça em cada feudo, existiam dois elementos limitadores do poder senhorial. O primeiro é a própria ordem vassálica, onde o vassalo deve fidelidade a seu suserano; o segundo é a influência da Igreja Católica, única instituição centralizada, que ditava as normas de comportamento social na época, fazendo com que as leis obedecessem aos costumes e à “ vontade de Deus”. Dessa forma a vida quase não possuía variação de um feudo para outro.É importante visualizar a figura do rei durante o feudalismo sem poder efetivo devido a própria relação de suserania e a tendência á auto-suficiência econômica.

Fonte:

O Cristianismo



O Cristianismo...

“Eu vos dou um novo mandamento: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei,  para vós também mutuamente vos ameis...”

O Cristianismo surgiu na Galiléia, região conquistada e anexada pelos romanos em 40 a.C. Segundo os Evangelhos, baseava-se nos ensinamentos de Jesus, que nasceu em Belém de Judá durante o governo de Otávio Augusto (27 a.C. a 14 d.C.). Segundo a tradição judaica, anunciado pelos profetas, havia nascido o Messias, para anunciar o reino dos justos e a salvação da humanidade.
Aos 30 anos, Jesus iniciou suas pregações e recrutou um grupo de seguidores, os apóstolos...

“Bem-aventurados os pobres: porque deles é o reino dos Céus...”

Suas palavras e atitudes desafiavam tanto a elite religiosa judaica quanto as autoridades romanos na Palestina ocupada. Embora Jesus afirmasse que o Reino de seu Pai não era desse mundo, foi visto como um rebelde e condenado à morte na cruz.
Graças ao trabalho de seus seguidores, o cristianismo difundiu-se pelo Império Romano. Era uma religião das camadas populares, uma palavra de esperança para aqueles que, desalentados pela opressão e pelo sofrimento, esperavam a salvação após a morte...

“Bem-aventurados os que padecem perseguição por amor da justiça: porque deles é o Reino dos Céus.”

Durante o governo de Nero iniciou-se a persguição aos cristãos, acusados de não cultuar os deuses romanos. Também lhes eram atribuídas a responsabilidade pelas calamidades e crises que se abatiam sobre o Império.
A partir do séc. III, a intensificação dos problemas econômicos-sociais do mundo romano fez aumentar o número de adeptos do cristianismo.

“... Escravos, obedecei ao vossos amos... com temor e respeito, e toda a retidão do coração, como a Cristo...”
(S. Paulo, “Espítola aos Efesos)

Durante 250 anos os cristãos sofreram inúmeras perseguições até que, em 3l3, o Imperador Constantino publicou o Edito de Milão, que concedeu liberdade de culto a todas as pessoas. Mais tarde, no governo Teodósio, o cristianismo se tornou religião oficial do Estado...



Fonte: ? 


sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Os africanos que propuseram ideias iluministas antes de Locke e Kant

por DAG HERBJORNSRUD; tradução CLARA ALLAIN; ilustração FABIO ZIMBRES na Folha de São Paulo
Os ideais do Iluminismo são a base de nossas democracias e universidades no século 21: a crença na razão, na ciência, no ceticismo, no secularismo e na igualdade. De fato, nenhuma outro período se compara à era do Iluminismo.
A Antiguidade é inspiradora, mas está a um mundo de distância das sociedades modernas. A Idade Média é mais razoável do que sua reputação sugere, mas ainda assim é medieval. A Renascença foi gloriosa, mas em grande medida graças ao seu resultado: o Iluminismo. O romantismo veio como reação à era da razão, mas os ideais dos Estados modernos não se expressam em termos de romantismo e emoção.
Segundo a história mais contada, o Iluminismo tem origem no “Discurso do Método” (1637), de René Descartes, continuou por cerca de um século e meio com John Locke, Isaac Newton, David Hume, Voltaire e Kant e terminou com a Revolução Francesa, em 1789 —talvez com o período do terror, em 1793.
Mas e se a história estiver errada? E se o Iluminismo puder ser associado a lugares e pensadores que costumamos ignorar? Tais perguntas me assombram desde que topei com o trabalho de um filósofo etíope do século 17: Zera Yacob (1599-1692), também grafado Zära Yaqob.
Yacob nasceu numa família pobre numa propriedade agrícola perto de Axum, a lendária antiga capital do norte da Etiópia. Como estudante, ele impressionou seus professores e foi enviado a uma nova escola para estudar retórica (“siwasiw” em ge’ez, a língua local), poesia e pensamento crítico (“qiné”) por quatro anos.
Em seguida, estudou a Bíblia por dez anos em outra escola, recebendo ensinamentos dos católicos e dos coptas, bem como da tradição cristã ortodoxa, majoritária no país.
Na década de 1620, um jesuíta português convenceu o rei Susenyos a converter-se ao catolicismo, que não tardou a virar religião oficial da Etiópia. Seguiu-se uma perseguição aos livres-pensadores, mais intensa a partir de 1630. Yacob, que nessa época lecionava na região de Axum, havia declarado que nenhuma religião tem mais razão que outra —e seus inimigos o denunciaram para o rei.
Yacob fugiu, levando apenas um pouco de ouro e os Salmos de Davi. Viajou para o sul, para a região de Shewa, onde se deparou com o rio Tekezé.
Ali encontrou uma área desabitada com uma “bela caverna” no início de um vale. Construiu um muro de pedra e viveu nesse local isolado para “encarar apenas os fatos essenciais da vida”, como Henry David Thoreau descreveria uma vida também solitária, dois séculos mais tarde, em “Walden” (1854).
Por dois anos, até a morte do rei, em setembro de 1632, Yacob permaneceu na caverna como ermitão, saindo apenas para buscar alimentos no mercado mais próximo. Na caverna, ele alinhavou sua nova filosofia racionalista.
Ele acreditava na primazia da razão e afirmava que todos os seres humanos, homens e mulheres, são criados iguais. Yacob argumentou contra a escravidão, criticou todas as religiões e doutrinas reconhecidas e combinou essas opiniões com sua crença pessoal em um criador divino, asseverando que a existência de uma ordem no mundo faz dessa a opção mais racional.
Em suma: muitos dos ideais mais elevados do Iluminismo foram concebidos e resumidos por um homem que trabalhou sozinho em uma caverna etíope de 1630 a 1632.
LIVROS
A filosofia de Yacob, baseada na razão, é apresentada em sua obra principal, “Hatäta” (investigação). O livro foi escrito em 1667 por insistência de seu discípulo, Walda Heywat, que escreveu ele próprio uma “Hatäta” de orientação mais prática.
Hoje, 350 anos mais tarde, é difícil encontrar um exemplar do trabalho de Yacob. A única traduçãoao inglês foi feita em 1976 pelo professor universitário e padre canadense Claude Sumner. Ele a publicou como parte de uma obra em cinco volumes sobre a filosofia etíope, que foi lançada pela nada comercial editora Commercial Printing Press, de Adis Abeba.
O livro foi traduzido ao alemão e, no ano passado, ao norueguês, mas ainda é basicamente impossível ter acesso a uma versão em inglês.
A filosofia não era novidade na Etiópia antes de Yacob. Por volta de 1510, “The Book of the Wise Philosophers” (o livro dos filósofos sábios) foi traduzido e adaptado ao etíope pelo egípcio Abba Mikael. Trata-se de uma coletânea de ditados de filósofos gregos pré-socráticos, Platão e Aristóteles por meio dos diálogos neoplatônicos, e também foi influenciado pela filosofia arábica e as discussões etíopes.
Em sua “Hatäta”, Yacob critica seus contemporâneos por não pensarem de modo independente e aceitarem as palavras de astrólogos e videntes só porque seus predecessores o faziam. Em contraste, ele recomenda uma investigação baseada na razão e na racionalidade científica, considerando que todo ser humano nasce dotado de inteligência e possui igual valor.
Longe dele, mas enfrentando questões semelhantes, estava o francês Descartes (1596-1650). Uma diferença filosófica importante entre eles é que o católico Descartes criticou explicitamente os infiéis e ateus em sua obra “Meditações Metafísicas” (1641).
Essa perspectiva encontra eco na “Carta sobre a Tolerância” (1689), de Locke, para quem os ateus não devem ser tolerados.
As “Meditações” de Descartes foram dedicadas “ao reitor e aos doutores da sagrada Faculdade de Teologia em Paris”, e sua premissa era “aceitar por meio da fé o fato de que a alma humana não morre com o corpo e de que Deus existe”.
Yacob, pelo contrário, propõe um método muito mais agnóstico, secular e inquisitivo —o que também reflete uma abertura ao pensamento ateu. O quarto capítulo da “Hatäta” começa com uma pergunta radical: “Tudo que está escrito nas Sagradas Escrituras é verdade?” Ele prossegue pontuando que todas as diferentes religiões alegam que sua fé é a verdadeira:
“De fato, cada uma delas diz: ‘Minha fé é a certa, e aqueles que creem em outra fé creem na falsidade e são inimigos de Deus’. (…) Assim como minha fé me parece verdadeira, outro considera verdadeira sua própria fé; mas a verdade é uma só”.
Assim, ele deslancha um discurso iluminista sobre a subjetividade da religião, mas continua a crer em algum tipo de criador universal. Sua discussão sobre a existência de Deus é mais aberta que a de Descartes e talvez mais acessível aos leitores de hoje, como quando incorpora perspectivas existencialistas:
“Quem foi que me deu um ouvido com o qual ouvir, quem me criou como ser reacional e como cheguei a este mundo? De onde venho? Tivesse eu vivido antes do criador do mundo, teria conhecido o início de minha vida e da consciência de mim mesmo. Quem me criou?”.
IDEIAS AVANÇADAS
No capítulo cinco, Yacob aplica a investigação racional a leis religiosas diferentes. Critica igualmente o cristianismo, o islã, o judaísmo e as religiões indianas.
Ele aponta, por exemplo, que o criador, em sua sabedoria, fez o sangue fluir mensalmente do útero das mulheres, para que elas possam gestar filhos. Assim, conclui que a lei de Moisés, segundo a qual as mulheres são impuras quando menstruam, contraria a natureza e o criador, já que “constitui um obstáculo ao casamento e a toda a vida da mulher, prejudica a lei da ajuda mútua, interdita a criação dos filhos e destrói o amor”.
Desse modo, inclui em seu argumento filosófico a perspectiva da solidariedade, da mulher e do afeto. E ele próprio viveu segundo esses ideais.
Depois de sair da caverna, pediu em casamento uma moça pobre chamada Hirut, criada de uma família rica. O patrão dela dizia que uma empregada não estava em pé de igualdade com um homem erudito, mas a visão de Yacob prevaleceu. Consumada a união, ele declarou que ela não deveria mais ser serva, mas seu par, porque “marido e mulher estão em pé de igualdade no casamento”.
Contrastando com essas posições, Kant (1724-1804) escreveu um século mais tarde em “Observações sobre o Sentimento do Belo e do Sublime” (1764): “Uma mulher pouco se constrange com o fato de não possuir determinados entendimentos”.
E, nos ensaios de ética do alemão, lemos que “o desejo de um homem por uma mulher não se dirige a ela como ser humano, pelo contrário, a humanidade da mulher não lhe interessa; o único objeto de seu desejo é o sexo dela”.
Yacob enxergava a mulher sob ótica completamente diferente: como par intelectual do filósofo.
Ele também foi mais iluminista que seus pares do Iluminismo no tocante à escravidão. No capítulo cinco, Yacob combate a ideia de que “possamos sair e comprar um homem como se fosse um animal”. Assim, ele propõe um argumento universal contra a discriminação:
“Todos os homens são iguais na presença de Deus; e todos são inteligentes, pois são suas criaturas; ele não destinou um povo à vida, outro à morte, um à misericórdia e outro ao julgamento. Nossa razão nos ensina que esse tipo de discriminação não pode existir”.
As palavras “todos os homens são iguais” foram escritas décadas antes de Locke (1632-1704), o pai do liberalismo, ter empunhado sua pena.
E a teoria do contrato social de Locke não se aplicava a todos na prática: ele foi secretário durante a redação das “Constituições Fundamentais da Carolina” (1669), que concederam aos homens brancos poder absoluto sobre seus escravos africanos. O próprio inglês investiu no comércio negreiro transatlântico.
Comparada à de seus pares filosóficos, portanto, a filosofia de Yacob frequentemente parece o epítome dos ideais que em geral atribuímos ao Iluminismo.
ANTON AMO
Alguns meses depois de ler a obra de Yacob, enfim tive acesso a outro livro raro: uma tradução dos escritos reunidos do filósofo Anton Amo (c. 1703-55), que nasceu e morreu em Gana.
Amo estudou e lecionou por duas décadas nas maiores universidades da Alemanha (como Halle e Jena), escrevendo em latim. Hoje, segundo o World Library Catalogue, só um punhado de exemplares de seu “Antonius Guilielmus Amo Afer of Axim in Ghana” está disponível em bibliotecas mundo afora.
O ganês nasceu um século após Yacob. Consta que ele foi sequestrado do povo akan e da cidade litorânea de Axim quando era pequeno, possivelmente para ser vendido como escravo, sendo levado a Amsterdã, para a corte do duque Anton Ulrich de Braunschweig-Wolfenbüttel —visitada com frequência pelo polímata G. W. Leibniz (1646-1716).
Batizado em 1707, Amo recebeu educação de alto nível, aprendendo hebraico, grego, latim, francês e alemão —e provavelmente sabia algo de sua língua materna, o nzema.
Tornou-se figura respeitada nos círculos acadêmicos. No livro de Carl Günther Ludovici sobre o iluminista Christian Wolff (1679-1754) —seguidor de Leibniz e fundador de várias disciplinas acadêmicas na Alemanha—, Amo é descrito como um dos wolffianos mais proeminentes.
No prefácio a “Sobre a Impassividade da Mente Humana” (1734), de Amo, o reitor da Universidade de Wittenberg, Johannes Gottfried Kraus, saúda o vasto conhecimento do autor, situa sua contribuição ao iluminismo alemão em um contexto histórico e sublinha o legado africano da Renascença europeia:
“Quando os mouros vindos da África atravessaram a Espanha, trouxeram com eles o conhecimento dos pensadores da Antiguidade e deram muita assistência ao desenvolvimento das letras que pouco a pouco emergiam das trevas”.
O fato de essas palavras terem saído do coração da Alemanha na primavera de 1733 ajuda a lembrar que Amo não foi o único africano a alcançar o sucesso na Europa do século 18.
Na mesma época, Abram Petrovich Gannibal (1696-1781), também sequestrado e levado da África subsaariana, tornava-se general do czar Pedro, o Grande, da Rússia. O bisneto de Gannibal se tornaria o poeta nacional da Rússia, Alexander Pushkin. E o escritor francês Alexandre Dumas (1802-70) foi neto de uma africana escravizada e filho de um general aristocrata negro nascido no Haiti.
Amo tampouco foi o único a levar diversidade e cosmopolitismo a Halle nas décadas de 1720 e 1730. Vários alunos judeus de grande talento estudaram na universidade. O professor árabe Salomon Negri, de Damasco, e o indiano Soltan Gün Achmet, de Ahmedabad, também passaram por lá.
CONTRA A ESCRAVIDÃO
Em sua tese, Amo escreveu explicitamente que havia outras teologias além da cristã, incluindo entre elas a dos turcos e a dos “pagãos”.
Ele discutiu essas questões na dissertação “Os Direitos dos Mouros na Europa”, em 1729. O trabalho não pode ser encontrado hoje, mas, no jornal semanal de Halle de novembro de 1729, há um artigo curto sobre o debate público de Amo. Segundo esse texto, o ganês apresentou argumentos contra a escravidão, aludindo ao direito romano, à tradição e à razão.
Será que Amo promoveu a primeira disputa legal da Europa contra a escravidão? Podemos pelo menos enxergar um argumento iluminista em favor do sufrágio universal, como o que Yacob propusera cem anos antes. Mas essas visões não discriminatórias parecem ter passado despercebidas dos pensadores principais do iluminismo no século 18.
David Hume (1711-76), por exemplo, escreveu: “Tendo a suspeitar que os negros, e todas as outras espécies de homem em geral (pois existem quatro ou cinco tipos diferentes), sejam naturalmente inferiores aos brancos”. E acrescentou: “Nunca houve nação civilizada de qualquer outra compleição senão a branca, nem indivíduo eminente em ação ou especulação”.
Kant levou adiante o argumento de Hume e enfatizou que a diferença fundamental entre negros e brancos “parece ser tão grande em capacidade mental quanto na cor”, antes de concluir, no texto do curso de geografia física: “A humanidade alcançou sua maior perfeição na raça dos brancos”.
Na França, o mais célebre pensador iluminista, Voltaire (1694-1778), não só descreveu os judeus em termos antissemitas, como quando escreveu que “todos eles nascem com fanatismo desvairado em seus corações”; em seu ensaio sobre a história universal (1756), ele afirmou que, se a inteligência dos africanos “não é de outra espécie que a nossa, é muito inferior”.
Como Locke, Voltaire investiu dinheiro no comércio de escravos.
CORPO E MENTE
A filosofia de Amo é mais teórica que a de Yacob, mas as duas compartilham uma visão iluminista da razão, tratando todos os humanos como iguais.
Seu trabalho é profundamente engajado com as questões da época, como se vê em seu livro mais conhecido, “Sobre a Impassividade da Mente Humana”, construído com um método de dedução lógica utilizando argumentos rígidos, aparentemente seguindo a linha de sua dissertação jurídica anterior. Aqui ele trata do dualismo cartesiano, a ideia de que existe uma diferença absoluta de substância entre a mente e o corpo.
Em alguns momentos Amo parece se opor a Descartes, como observa o filósofo contemporâneo Kwasi Wiredu. Ele argumenta que Amo se opôs ao dualismo cartesiano entre mente e corpo, favorecendo, em vez disso, a metafísica dos akan e o idioma nzema de sua primeira infância, segundo os quais sentimos a dor com nossa carne (“honem”), e não com a mente (“adwene”).
Ao mesmo tempo, Amo diz que vai tanto defender quanto atacar a visão de Descartes de que a alma (a mente) é capaz de agir e sofrer junto com o corpo. Ele escreve: “Em resposta a essas palavras, pedimos cautela e discordamos: admitimos que a mente atua junto com o corpo graças à mediação de uma união natural. Mas negamos que ela sofra junto com o corpo”.
Amo argumenta que as afirmações de Descartes sobre essas questões contrariam a visão do próprio filósofo francês. Ele conclui sua tese dizendo que devemos evitar confundir as coisas que fazem parte do corpo e da mente. Pois aquilo que opera na mente deve ser atribuído apenas à mente.
Talvez a verdade seja o que o filósofo Justin E. H. Smith, da Universidade de Paris, aponta em “Nature, Human Nature and Human Difference” (natureza, natureza humana e diferença humana, 2015): “Longe de rejeitar o dualismo cartesiano, pelo contrário, Amo propõe uma versão radicalizada dele”.
Mas será possível que tanto Wiredu quanto Smith tenham razão? Por exemplo, será que a filosofia akan tradicional e a língua nzema continham uma distinção cartesiana entre corpo e mente mais precisa que a de Descartes, um modo de pensar que Amo então levou para a filosofia europeia?
Talvez seja cedo demais para sabermos, já que uma edição crítica das obras de Amo ainda aguarda ser publicada, possivelmente pela Oxford University Press.
COISA EM SI
No trabalho mais profundo de Amo, “Treatise on the Art of Philosophising Soberly and Accurately” (tratado sobre a arte de filosofar com sobriedade e precisão, 1738), ele parece antecipar Kant. O livro trata das intenções de nossa mente e das ações humanas como sendo naturais, racionais ou de acordo com uma norma.
No primeiro capítulo, escrevendo em latim, Amo argumenta que “tudo é passível de ser conhecido como objeto em si mesmo, ou como uma sensação, ou como uma operação da mente”.
Ele desenvolve em seguida, dizendo que “a cognição ocorre com a coisa em si” e afirmando: “O aprendizado real é a cognição das coisas em si. E assim tem sua base na certeza da coisa conhecida”.
Seu texto original diz “omne cognoscibile aut res ipsa”, usando a noção latina “res ipsa” como “coisa em si”.
Hoje Kant é conhecido por seu conceito da “coisa em si” (“das Ding an sich”) em “Crítica da Razão Pura” (1787) —e seu argumento de que não podemos conhecer a coisa além de nossa representação mental dela.
Mas é fato sabido que essa não foi a primeira utilização do termo na filosofia iluminista. Como diz o dicionário Merriam-Webster no verbete “coisa em si”: “Primeira utilização conhecida: 1739”. Mesmo assim, isso foi dois anos depois de Amo ter entregue seu trabalho principal em Wittenberg, em 1737.
À luz dos exemplos desses dois filósofos iluministas, Zera Yacob e Anton Amo, talvez seja preciso repensarmos a Idade da Razão nas disciplinas da filosofia e da história das ideias.
Na disciplina da história, novos estudos comprovaram que a revolução mais bem-sucedida a ter nascido das ideias de liberdade, igualdade e fraternidade se deu no Haiti, não na França. A Revolução Haitiana (1791-1804) e as ideias de Toussaint L’Ouverture (1743″”1803) abriram o caminho para a independência do país, sua nova Constituição e a abolição da escravidão.
Em “Les Vengeurs du Nouveau Monde” (os vingadores do novo mundo, 2004), Laurent Dubois conclui que os acontecimentos no Haiti foram “a expressão mais concreta da ideia de que os direitos proclamados na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, eram de fato universais”.
Nessa linha, podemos indagar se Yacob e Amo algum dia serão elevados à posição que merecem entre os filósofos da Era das Luzes.

Este texto foi publicado originalmente no site Aeon.
DAG HERBJORNSRUD, 46, é historiador de ideias e fundador do SGOKI (Centro de História Global e Comparativa de Ideias), em Oslo.
CLARA ALLAIN é tradutora.
FABIO ZIMBRES, 57, é quadrinista, designer e artista visual.

Fonte: Geledes

Atlântico negro


O que há de África em Brasil? O que há de Brasil em África? Águas. Águas atlânticas que em sua composição contém afetos e memórias, das travessias africanas em direção a este território que hoje nomeamos de Brasil. Este mar contém desejos sudaneses, bantos e brasileiros de ir e de voltar. Desejos bantos-brasileiros-sudaneses. Contém medo, incertezas, lágrimas de tristeza e de saudades. Este mar é reservatório de um passado que se atualiza cotidianamente em singularidades negras diaspóricas. O Atlântico é negro, e eu me produzo nele.

Sou essa água salgada, que sara feridas de corpos com peles subalternizadas. Sou esse mar poliglota, que grita segredos dos colonizadores, que escuta o clamor dos sequestrados, e que acolhe os negros desamparados; que reclamam da sede de ancestralidade. Meu corpo é transatlântico, intersecciono bairros, cidade, países e continentes. Minha etnia é diaspórica, sou uma banto-capixaba-brasileira. Sou negra, sou bixa, sou latina. Sou uma bixa-banto-brasileira. Meu corpo é aquático e fronteiriço, hábito a fronteira entre África e Brasil: o mar.
O mar sentiu o peso dos navios negreiros repletos de africanos sequestrados, roubados, raptados. E é neste mesmo mar atlântico onde, na terceira diáspora, criam-se negritudes emancipadas de traumas e desejos coloniais. O mar é a máxima expansão da água que nos compõe.
Todo negro precisa saber nadar, para compreender a diferença entre náufrago e mergulho.
Castiel Vitorino Brasileiro é artista visual, estudante de Psicologia na Universidade Federal do Espírito Santo, e
integrante do Coletivo Kuirlombo.

Fonte: Geledes