quinta-feira, 4 de outubro de 2018

O Regime militar brasileiro :Ditadura e Torturas


Para os generais presidentes, os contestadores do Regime Militar - tidos como “subversivos” ou “inimigos da Pátria - mereciam cadeia, exílio ou o pau-de-arara.
Respire fundo para ler um balanço da mais longa didatura militar da nossa história: suspensão de direitos politícos e cassação de mandatos eletivos (atingiram mais de mil pessoas, inclusive os ex-presidentes Juscelino, Jânio e Jango). Repressão à intelectualidade (12.752 “subversivos”foram enquadrados na Lei de Segurança Nacional e cerca de 10.000 exilados foram parar no exterior. Perseguições de servidores públicos e militares (2.958 sevidores civis e 2.757 militares foram afastados). Pessoas desaparecidas (cerca de 144 casos até hoje não foram esclarecidos).
Torturas físicas e psicológicas (um número incalculável de estudantes e intelectuais passou por prisões ilegais, sofrendo os mais cruéis e desumanos tipos de tortura, como: choques elétricos nos dentes, ouvidos, língua, testiculos e vagina; arracamento de unhas e dentes; baratas vivas introduzidas no ânus de mulheres presas, cobras deixadas nas prisões durante à noite. Legislação arbitrária (Atos institucionais ilegítimos como AI-5, que ficava acima do Poder Judiciário e o Decreto 477/69, proibindo a discussão de temas políticos em salas de aula).
Pau-de-arara
Nesta posição, nú, o preso recebia choques elétricos na língua, nos dentes, ouvidos, e sobretudo, nas partes genitais.
Os cinco generais-presidentes foram mais ou menos um a cópia do outro: foram escolhidos sem o voto popular, governaram com poderes ditatoriais, reprimiram as oposições, afastaram o povo das eleições e adotaram, todos, uma política econômica baseada no binômio segurança/desenvolvimento. O primeiro deles, Castelo Branco, começou com prisões, cassações e o fechamento de entidades estudantis e sindicais. Seu governo pariu três “filhotes” ilegítimos: a) AI-2 (acabando com eleições diretas para a presidência da República e autorizando o funcionamento apenas do MDB, partido do “sim” e da ARENA, partido do “sim, senhor”); b) AI-3 (estabelecendo eleições indiretas para governadores e “nomeação” para prefeitos das capitais); e c) AI-4 (convocando o Congresso Nacional para “aprovar” uma constituição encomendada pelo Regime). Além dessas “crias”, o presidente criou o SNI (para vigiar e enquadrar os “inimigos da pátria”). Também, revogou a Lei de Remessas de Lucros (entregando o país à livre exploração das multinacionais). Costa e Silva deu continuidade à obra de seu colega: prendeu metalúrgicos, fechou novamente o Congresso Nacional e baixou o AI-5 (o mais temível instrumento repressor lançado pelo Regime). Amparado por esse ato, o governo podia fechar as sedes do Poder Legislativo (Congresso Nacional, Assembléias Legislativas e Câmaras Municipais), legislar em todas as matérias, intervir nos Estados e Municípios, decretar estado de sítio, suspender direitos políticos de qualquer cidadão, cassar mandatos eletivos e demitir ou aposentar servidores civis e militares.
Com poderes absolutos - só comparáveis aos dos governantes do passado Colonial - a Ditadura entrou na sua fase mais cruel, com prisões ilegais, torturas, “desaparecimentos", deportações, exílio e mortes. As botas militares deixaram suas marcas até no Supremo Tribunal Federal: quatro Ministros foram afastados. O terceiro presidente militar - General Médici - enfiou a espada até o cabo: invadiu universidades e fábricas, perseguiu intelectuais, artistas e padres, implantou rigorosa censura e aperfeiçoou o aparato repressivo. Seu governo - marcado pela ação violenta dos DOI/CODIS - deixou um rastro de brutalidades nunca visto. Os torturadores oficiais (geralmente “assessorados” por médicos-legistas) ultilizavam todo tipo de selvageria: choques elétricos (aplicados nas partes sensíveis do corpo, sobretudo, orgãos genitais); geladeira (ambientes super-refrigerados, abafados ou com sons estridentes); banho chinês (imersão sucessiva da cabeça do prisioneiro num tanque d`água) ; pimentinha (dispositivo elétrico que provocava queimaduras na língua, seios e interior do ânus); e outras brutalidades, como: o pau-de-arara, a cadeira do dragão e o uso de baratas vivas (estas quando introduzidas no reto, subiam pela garganta, boca e narinas, levando fezes e fedor). O quarto chefão militar - General Geisel - deu os primeiros passos rumo à abertura política. Seu goverto removeu parte da legislação arbitrária, abrandou a censura e permitiu a realização de eleições livres para senadores, deputados e vereadores. O povo foi às urnas (novembro de 1974) e com uma arma eficaz - o voto - deu um “olé” na Ditadura: o MDB derrotou a Arena em 16 dos 21 Estados brasileiros. Veio a desforra! Geisel inventou a figura do senador “biônico” (um terço do Senado) para dizer “amém” ao governo. Enquanto isso, nos quartéis, os militares da “linha dura” (partidários da apertura) continuavam torturando e executando presos políticos. João Figueredo - último plantonista no poder - cuidou dos arranjos funerários do Regime. Sob pressão da sociedade civil, o governo acabou com a censura, concedeu anistia, permitiu a reestruturação partidária e reestabeleceu eleições diretas para governadores. Nessa época, organizaram-se grandes manifestações públicas exigindo eleições diretas para a presidência da República. Nos bastidores, grupos radicais militares e paramilitares interessados no retrocesso político - praticavam atentados terroristas camuflados. O caso Riocentro, os incêndios a bancas de jornais, o episódio da carta-bomba enviada à OAB/RJ, explosões em redações de jornais e tiros disparados contra sedes de partidos políticos foram os atos finais do enterro da Ditadura.
Em 1970, o Brasil ganhou o tri-campeonato mundial. Ziraldo retratou a felicidade do brasileiro!!!
Somos os campeões mundiais! Que felicidade
Um balanço geral da economia brasileira, no período dos governos militares, mostra que o Brasil cresceu de forma extraordinária. No governo de Médici, a taxa de crescimento atingiu 9% ao ano. Um crescimento econômico altíssimo. Mas quem ganhou com isso? Em primeiro lugar, as multinacionais, vez que grande parte das riquezas criadas no país foi surrupiada em forma de remessa de lucros para o exterior (liberada no início da Ditadura). Em segundo lugar, o grande empresariado industrial e comercial (incluindo aí a classe média alta) beneficiado com a imensa concentração de renda em suas mãos. E, igualmente, o próprio Estado autoritário que - afastado do social - preferiu investir em obras faraônicas (hoje, expostas à venda). O bolo cresceu: uma parte foi roubada e levada para o exterior; outra parte ficou com os ricos. Sobrou: endividamento externo, exclusão social, carnaval e futebol...