sábado, 12 de dezembro de 2015

História ou estória

QUANDO ME PERGUNTAM

Quando me perguntam por que não aderi a essa história de "estória", respondo (e não evasivamente) que é simplesmente porque, para mim, tudo é verdade mesmo. Acredito em tudo. Acreditar no que se lê é a única justificativa do que está escrito. Ai do autor que não der essa impressão de verdade! Que é uma história? É um fato - real ou imaginário - narrado por alguém. O contador de histórias não é um contador de lorotas. Ou, para bem frisar a diferença, o contador de histórias não é um contador de estórias. E depois, por que hei de escrever "estória" se eu nunca pronunciei a palavra desse modo? Não sou tão analfabeto assim. Parece incrível que talvez a única sugestão infeliz do mestre João Ribeiro tenha pegado por isso mesmo... Também um dia parece que Eça de Queirós se distraiu e o Conselheiro Acácio, por vingança, lhe soprou esta frase pomposa: "Sobre a nudez forte da verdade, o manto diáfano da fantasia." Tanto bastou para que lhe erguessem um monumento, com a citada frase perpetuada em
bronze! Pobre Eça...
O mundo é assim.

Mario Quintana - Caderno H

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

A formação da mentalidade do homem moderno

A partir do final da Idade Média, com a transição para o capitalismo, uma nova classe social se destaca como determinante nas relações sociais, a burguesia. Lentamente esta classe, e as transformações sociais, colocam fim aos antigos valores da nobreza, criando um mundo com uma mentalidade cada vez mais burguesa.

A burguesia foi adquirindo cada vez mais poder econômico, mas era limitada em suas ações pela cosmovisão da Igreja, que dentre outras coisas, proibia a usura. Os ideais da nobreza também impediam o sucesso dos burgueses, já que não valorizavam o trabalho e o lucro. Os séculos XV e XVI foram o período de maior transformação econômica e social benéficas à burguesia.

O primeiro grande movimento foi a formação dos Estados Nacionais. A Idade Média havia se caracterizado pela fragmentação política, com a existências de inúmeros feudos e um poder real enfraquecido. Isso começa a se modificar com a crise do feudalismo, que resultou na formação dos Estados europeus, como Portugal, Espanha, Inglaterra e França. A unidade política, administrativa e territorial beneficiou o avanço econômico da burguesia nesse processo, já que tinham uma infraestrutura mais adequada ao comércio.

Essa centralização do poder real precisava de um respaldo ideológico para sua sustentação. Por isso, vários pensadores elaboraram teses explicativas sobre a necessidade do poder real. Um desses pensadores foi Thomas Hobbes, que afirmava que a única forma de se manter a ordem social e tirar o homem de seu estado de violência, já que `o homem é o lobo do homem`, é abrirmos mãos da liberdade no Pacto social. Em troca teríamos a defesa da vida e da propriedade pelo Estado. Já outros pensadores, como Bodin, afirmavam que o rei tem o direito ao governo dado por Deus, por isso não podia ser questionado.

As chamadas Grandes Navegações ampliaram a visão de mundo dos europeus, contribuindo para as reformas do pensamento da época, provocadas pelo Renascimento e pela Reforma Protestante. O Renascimento que se iniciou na península italiana e pouco a pouco se espalhou para o restante do continente, resgatou os valores da Antiguidade, que recolocavam o homem como centro da reflexão sobre a vida. Passava-se a explicar o sentido da vida à partir das ações humanas e não mais da vontade de Deus. Nas produções artísticas toda a beleza das formas, da criatividade humana eram demonstradas. O Teocentrismo foi combatido, assim como a visão geocêntrica do Universo. Para isso, aquela explicação que se baseava na fé não atendia mais. Era preciso usar a Razão para se chegar ao conhecimento do mundo. Não se negava a existência de Deus, mas se tentava compreender o funcionamento do cosmos através da observação e da experimentação.

Essas transformações levaram também a uma nova imagem sobre Deus e a relação humana com a divindade. Se até o século XV a Igreja Católica havia tido o monopólio da fé, esse poder começa a ser questionada nesse momento. O grande nome de sucesso nesse processo de ruptura foi Martinho Lutero, que ao fazer críticas à igreja e propor mudanças foi excomungado, e, auxiliado pelos príncipes alemães, funda uma nova igreja, a Luterana. O principal diferencial da reforma luterana está na concepção de salvação, não mais pelas obras católicas, mas pela fé. Além disso, influenciado pelo novo Humanismo, a estrutura clerical é criticada e o que se propõe é que cada fiel seja seu próprio sacerdote. Ou seja, apesar da vida em comunidade continuar sendo incentivada, houve uma guinada ao indivíduo.

Enfim, o início da Era Moderna trouxe uma nova perspectiva do humano, que não era apenas um cumpridor da ordem divina, mas um ser que tentava ser protagonista, compreender  e interferir no mundo.

Márcio Ramos