quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O Mundo de Sofia


O Mundo de Sofia é um romance escrito por Jostein Gaarder, publicado em 1991.Ele funciona tanto como romance, como um guia básico de filosofia. Veja abaixo o texto sobre o pensamento de René Descartes:

CAPÍTULO XVIII: DESCARTES
“... ele queria remover todos os velhos materiais do terreno de construção...”.

Alberto levantara-se e despira a capa vermelha. Pô-la numa cadeira e voltou a sentar-se confortavelmente no sofá.
- “René Descartes” nasceu em 1596 e viveu em vários países da Europa ao longo da vida. Já na sua juventude, sentia o forte desejo de tomar conhecimento da natureza do homem e do universo. Mas depois de ter estudado filosofia tornou-se consciente principalmente da sua própria ignorância.
- Mais ou menos como Sócrates?
- Sim, mais ou menos assim. Tal como Sócrates, estava convencido de que só a razão nos pode dar conhecimento seguro. Nunca podemos confiar no que está escrito em livros antigos. Nem sequer podemos confiar no que os nossos sentidos nos transmitem.
- Platão era da mesma opinião. Ele achava que só a razão nos pode dar um saber
sólido.
- Exato. De Sócrates e Platão, através de S. Agostinho, há uma linha direta até Descartes. Todos eles eram racionalistas convictos. Para eles, a razão era a única fonte segura de conhecimento. Após muitos estudos, Descartes reconheceu que não era forçoso confiar no saber transmitido na Idade Média.
Podes fazer uma comparação com Sócrates, que não confiava nas concepções mais difundidas com que se defrontava na ágora em Atenas. E o que é que se faz neste caso, Sofia? Sabes responder-me?
- Começa-se a filosofar por si mesmo.
- Exato. Descartes decidiu então viajar pela Europa - tal como Sócrates, que passou a vida em diálogo com homens de Atenas. Ele próprio relata que a partir dessa altura só queria procurar o saber que podia encontrar em si mesmo ou "no grande livro do mundo". Por isso, entrou para o exército e pôde permanecer em diversos locais da Europa Central. Mais tarde, passou alguns anos em Paris. Em Maio de 1629, viajou para os Países Baixos, onde viveu durante quase vinte anos, enquanto trabalhava nos seus escritos filosóficos. Em 1649, a rainha Cristina convidou-o a viver na Suécia. Mas esta estadia "no país dos ursos, do gelo e dos rochedos", como ele lhe chamou, provocou-lhe uma pneumonia, e morreu no Inverno de 1650.
- Então só tinha 54 anos!
- Mas ainda havia de ser muito importante para a filosofia, mesmo após a sua morte. Sem exagero, podemos dizer que Descartes foi o fundador da filosofia da época moderna. Depois da imponente redescoberta do homem e da natureza no Renascimento, surgiu de novo a necessidade de reunir todas as idéias contemporâneas num único “sistema filosófico” coerente. O primeiro grande construtor de sistema foi “Descartes”, e seguiramse- lhe “Espinosa” e “Leibniz”, “Locke” e “Berkeley”, “Hume” e “Kant”.
- O que é que entendes por "sistema filosófico"?
- Entendo uma filosofia construída desde a base e que procura encontrar uma resposta para todas as questões filosóficas importantes. A Antiguidade teve grandes construtores de sistemas como Platão e Aristóteles. A Idade Média teve S. Tomás de Aquino, que queria fazer uma ponte entre a filosofia de Aristóteles e a teologia cristã. Veio depois o Renascimento - com uma mistura de velhas e novas idéias sobre a natureza e a ciência, Deus e os homens. Só no século XVII a filosofia tentou de novo pôr em sistema as novas idéias. O primeiro a fazer esta tentativa foi Descartes. Ele deu o sinal de partida para aquilo que se tornaria o projeto filosófico mais importante para as gerações seguintes. Antes de mais, preocupava-o o que nós podemos saber, ou seja, a questão da “solidez do nosso conhecimento”. A segunda grande questão que o preocupava era a “relação entre corpo e alma”. Estas duas problemáticas determinariam a discussão filosófica dos cento e cinqüenta anos seguintes.
- Então ele estava adiantado em relação à época.
- Mas as questões já andavam no ar na época. Na questão de como podemos alcançar saber seguro, alguns exprimiram o seu total “ceticismo” filosófico. Achavam que os homens tinham de se conformar com o fato de nada saberem. Mas Descartes não se conformou com isso. Se o tivesse feito, não teria sido um verdadeiro filósofo. De novo, podemos fazer um paralelismo com Sócrates, que não se contentou com o ceticismo dos sofistas. Justamente na época de Descartes, a nova ciência da natureza desenvolvera um método que havia de fornecer uma descrição totalmente segura e exata dos processos naturais. Descartes se interrogou não havia um método igualmente seguro e Exato para a reflexão filosófica.
- Entendo.
- Mas esse era apenas um dos problemas. A nova física colocara também a questão sobre a natureza da matéria, ou seja, sobre o que determina os processos físicos na natureza. Cada vez mais pessoas defendiam uma compreensão materialista da natureza. Mas quanto mais o mundo físico era concebido de forma mecanicista, mais urgente se tornava a questão da relação entre corpo e alma. Antes do século XVII, a alma fora descrita geralmente como uma espécie de "espírito vital" que percorria todos os seres vivos. Aliás, o significado original de "alma" e "espírito" é também "sopro vital" ou "respiração". É esse o caso em quase todas as línguas européias. Para Aristóteles, a alma é algo que está presente em todo o organismo como "princípio vital" desse organismo - e que é inconcebível separada do corpo. Por isso também podia falar de uma "alma vegetativa" e de uma "alma sensitiva". Foi só no século XVII que os filósofos estabeleceram uma separação radical entre alma e corpo, porque todos os objetos físicos - também um corpo animal ou humano – eram explicados como processos mecânicos. Mas a alma humana não podia ser uma parte desta "máquina fisiológica"? O que era então? Tinha que se esclarecer como é que algo "espiritual" podia dar origem a um processo mecânico.
-Essa é realmente uma idéia bastante estranha.
- O que queres dizer com isso?
- Eu decido levantar o meu braço - e o braço eleva-se. Ou eu decido correr para o ônibus e imediatamente as minhas pernas começam a mover-se. Por vezes, penso numa coisa triste: as lágrimas vêm-me logo aos olhos. Assim, tem de haver alguma ligação misteriosa entre o corpo e a consciência.
- Foi precisamente este problema que levou Descartes a refletir. Tal como Platão, ele estava convencido de que há uma divisão rígida entre espírito e matéria. Mas Platão não conseguiu dar resposta ao problema de como o espírito influencia o corpo, ou a alma o corpo.
- Eu também não, por isso estou desejosa de saber o que Descartes descobriu. Ouçamos as suas próprias reflexões. Alberto indicou o livro que estava entre eles na mesa e prosseguiu:
- Neste pequeno livro, “Discurso do Método”, Descartes levanta a questão de qual o método filosófico que um filósofo deve utilizar para resolver um problema filosófico. As ciências da natureza já tinham desenvolvido o seu novo método...
-Já falaste nisso.
- Descartes explica em seguida que não podemos dar nada como verdadeiro enquanto não tivermos reconhecido claramente que é verdadeiro. Para conseguirmos isso, temos que decompor um problema complexo em tantas partes simples quanto possível. Podemos começar então pela idéia mais simples. Talvez se possa dizer que cada idéia é "pesada e medida" - mais ou menos do mesmo modo que Galileu queria medir tudo e tornar mensurável o não mensurável. Descartes achava que o filósofo podia prosseguir do simples para o complexo. Deste modo poderia ser construído um novo conhecimento. Até ao final, é necessário verificar que não se omitiu nada, por meio de um controlo e de uma verificação constantes. Só assim se pode atingir conclusões filosóficas.
- Isso parece um problema matemático.
- Sim, Descartes queria aplicar o "método matemático" à reflexão filosófica. Queria provar verdades filosóficas aproximadamente do mesmo modo que um teorema matemático. Queria usar exatamente o mesmo instrumento que usamos ao trabalhar com números, a “razão”, porque só a razão nos fornece conhecimento seguro. Não estabelece de modo algum que se possa confiar nos sentidos. Já referimos a
sua afinidade com Platão. Também este dissera que a matemática e as relações numéricas fornecem conhecimento mais seguro do que os testemunhos dos nossos sentidos.
- Mas é possível responder desse modo a questões filosóficas?
- Voltemos ao raciocínio de Descartes. O seu objetivo é, portanto, obter conhecimentos seguros acerca da natureza da realidade, e ele torna claro em primeiro lugar que no início devemos duvidar de tudo. Ele não queria edificar o seu sistema filosófico sobre areia.
- Porque se o fundamento cede, toda a casa se desmorona.
- Obrigado pela ajuda, Sofia. Descartes não achava sensato duvidar de tudo, mas
pensava que, em princípio, podemos duvidar de tudo. Em primeiro lugar, não é certo que
façamos progressos na nossa busca filosófica pela leitura de Platão ou Aristóteles. Talvez
alarguemos com isso o nosso saber histórico, mas não descobrimos mais acerca do mundo.
Descartes achava importante lançar ao mar o patrimônio intelectual antigo antes de iniciar a
sua própria investigação filosófica.
- Ele queria remover todos os velhos materiais do terreno de construção, antes de
iniciar a construção da nova casa?
- Sim, para ter a certeza de que o novo edifício de idéias era estável, ele queria usar
apenas material de construção novo e sólido. Mas as dúvidas de Descartes vão ainda mais
longe. Segundo ele, nunca podemos confiar no que os nossos sentidos nos transmitem,
porque podemos ser enganados por eles.
- Como é que isso é possível?
- Mesmo quando sonhamos, acreditamos estar a viver uma situação real. E haverá
alguma coisa que distinga as nossas sensações, quando estamos despertos, das sensações
"sonhadas"? "Quando reflito cuidadosamente nesta questão, não encontro nenhum indício
pelo qual possa distinguir com segurança a vigília do sono", escreve Descartes. E ele
prossegue: "São ambos tão semelhantes que eu fico totalmente perplexo e não sei se não
estarei a sonhar neste momento".
- Jeppe também achava que tinha sonhado ter estado deitado na cama do barão.
- E enquanto estava deitado na cama do barão achava que a sua vida como
camponês pobre era um sonho. Assim, Descartes duvida de tudo. Muitos filósofos antes
dele já tinham terminado as suas reflexões filosóficas neste ponto.
- Nesse caso, não foram muito longe.
- Mas Descartes tentou continuar a trabalhar a partir do zero. Ele chegou à
conclusão de que duvidava de tudo e que isso é a única coisa de que se pode ter uma
certeza absoluta. E em seguida, há algo que se lhe torna claro: há um fato, do qual ele pode
ter toda a certeza: duvida.
Mas se duvida, tem que concluir que pensa, e se pensa tem de concluir que é um
ser pensante. Ou, como ele próprio diz: "cogito, ergo sum".
-E o que significa?
- Penso, logo existo.
-Não me surpreende que ele tenha chegado a essa conclusão.
- Está bem. Mas não te esqueças com que certeza intuitiva ele se concebe
subitamente como um eu pensante.
Talvez ainda te lembres que para Platão é mais real o que compreendemos com a
razão do que o que obtemos dos sentidos. Com Descartes, passava-se exatamente o mesmo.
Ele não compreende apenas que é um eu pensante, entende simultaneamente que este eu
pensante é mais real do que o mundo físico, que apreendemos com os sentidos. E a partir
daqui, ele prossegue, Sofia. Ainda não concluiu de modo algum a investigação filosófica.
- Prossegue tu também com calma.
-Descartes interrogou-se então sobre se havia algo mais que ele pudesse apreender
com a mesma evidência intuitiva, além do fato de ser um ser pensante. Ele descobre que
tem também uma idéia clara e nítida de um ser perfeito.
Teve sempre essa idéia e, para Descartes, é evidente que essa idéia não pode provir
dele mesmo. A idéia de um ser perfeito não pode provir de um ser imperfeito. Por isso, a
idéia de um ser perfeito tem de provir desse mesmo ser perfeito -por outras palavras, de
Deus.
Que Deus existe é deste modo tão imediatamente evidente para Descartes como o
fato de alguém que pensa ter de ser um eu pensante.
- Agora, acho que ele precipita um pouco as conclusões. E era tão atento no
princípio!
- Sim, houve quem afirmasse ser este o ponto mais fraco de Descartes. Mas tu
estás a falar de deduções. Na verdade, não se trata aqui de uma demonstração. Descartes
queria apenas dizer que todos nós temos uma idéia de um ser perfeito, e que esta idéia
implica que este ser perfeito existe. Porque um ser perfeito não seria perfeito se não
existisse. Além disso, não teríamos a idéia de um ser perfeito se esse ser não existisse. Nós
somos imperfeitos e, por isso, a idéia do perfeito não pode provir de nós.
A idéia de um Deus é, segundo Descartes, uma idéia inata que nos foi implantada
ao nascermos - "tal como a marca que o artista imprimiu na sua obra", como ele escreve.
- Mas mesmo que eu tenha uma idéia de um crocofante, isso não significa que
existam crocofantes.
- Descartes teria dito que o conceito de "crocofante" não implica que ele exista.
Mas o conceito de "ser perfeito" implica que este ser exista.
Para Descartes isto é tão certo como o fato de a idéia de círculo implicar que todos
os pontos do círculo estão à mesma distância do centro do círculo. Logo, não podes falar de
um círculo se ele não preenche estes requisitos. E também não podes falar de um ser
perfeito se lhe falta a mais importante de todas as qualidades, a existência.
- É um modo de pensar muito especial.
- Isto é um modo de pensar claramente "racionalista".
Tal como Sócrates e Platão, Descartes via uma conexão entre pensamento e
existência. Quanto mais evidente uma coisa é para o pensamento, mais certa é a sua
existência.
- Até aqui, ele reconheceu que é um ser pensante, e que existe um ser perfeito.
- E, a partir destas certezas, prossegue. Todas as idéias que temos da realidade
exterior - por exemplo, Sol e Lua -, podiam também ser apenas visões oníricas. Mas a
realidade exterior também tem algumas características que podemos conhecer com a razão.
Por exemplo, as relações matemáticas, ou seja, aquilo que pode ser medido, o
comprimento, a altura e a profundidade. Estas “propriedades quantitativas” são tão claras
para a razão como o fato de eu ser um ser pensante. “Propriedades qualitativas” como cor,
cheiro e sabor estão por seu lado relacionadas com os nossos sentidos e não descrevem
nenhuma realidade exterior.
- Então afinal a natureza não é um sonho?
- Não. E, neste ponto, Descartes recorre novamente à nossa idéia de um ser
perfeito. Se a nossa razão conhece algo muito clara e distintamente -que é o caso das
relações matemáticas na realidade exterior - é porque é assim mesmo. Um Deus perfeito
não faria pouco de nós.
Descartes recorre a Deus como garantia de que aquilo que conhecemos com a
nossa razão corresponde a uma coisa real.
- Está bem. Ele descobriu que é um ser pensante, que Deus existe e ainda que
existe uma realidade exterior.
- Mas entre a realidade exterior e a realidade das idéias há uma diferença essencial.
Descartes pressupõe que existem duas formas diferentes de realidade - ou duas
“substâncias”. Uma substância é o “pensamento” ou a alma, a outra a “extensão” ou a
matéria.
A alma é apenas consciente, não ocupa espaço e, por isso, também não pode ser dividida em partes menores. A matéria, por seu lado, é extensa, ocupa espaço e pode ser
dividida em partes cada vez menores - mas não é consciente. Descartes afirma que ambas
as substâncias provêm de Deus, porque apenas Deus existe independentemente de todas as
outras coisas.
Mas mesmo provindo pensamento e extensão de Deus, as duas substâncias são
completamente independentes uma da outra. O pensamento é livre na sua relação com a
matéria - e vice-versa: os processos materiais operam de forma totalmente independente do
pensamento.
-E assim, a Criação ficou dividida em dois.
- Exato. Dizemos que Descartes é “dualista”, e isso significa que ele traça uma clara
linha de separação entre a realidade espiritual e a realidade em extensão. Por exemplo,
apenas o homem tem alma. Os animais pertencem totalmente à realidade em extensão. A
sua vida e os seus movimentos são puramente mecânicos. Descartes via os animais como
uma espécie de autômatos complexos. Em relação à realidade em extensão, ele tem dela
uma concepção mecanicista - tal como os materialistas.
- Mas eu duvido muito que Hermes seja uma máquina ou um autômato. Certamente,
Descartes nunca gostou de um animal. E em relação a nós? Também somos autômatos?
-Sim e não. Descartes chegou à conclusão de que o homem é um ser duplo que
pensa e ocupa espaço. O homem tem uma alma e um corpo extenso.
S. Agostinho e S. Tomás de Aquino já tinham afirmado algo semelhante.
Acreditavam que o homem tem corpo tal como os animais, mas também espírito como os
anjos. Para Descartes, o corpo é um mecanismo muito sofisticado. Mas o homem tem
também alma que pode operar independentemente do corpo. Os processos corporais não
têm essa liberdade, seguem as suas próprias leis. Mas aquilo que pensamos com a razão não
acontece no corpo.
Acontece na alma, que é independente da realidade extensa. Eu posso ainda
acrescentar que Descartes não queria excluir a possibilidade de também os animais
pensarem. Mas, se possuírem essa faculdade, também tem de existir neles a mesma divisão
entre pensamento e extensão.
- Já falamos sobre isso.
Quando eu decido correr para o ônibus, todo o "autômato" se põe em movimento.
E se perco o ônibus, vêm-me as lágrimas aos olhos.
- Nem Descartes podia contestar que existe sempre esse efeito recíproco entre alma
e corpo. Enquanto a alma está no corpo, segundo ele, está ligada ao corpo através de um
órgão do cérebro muito especial, uma glândula, na qual se dá uma reação constante entre o
espírito e a matéria. Deste modo, segundo Descartes, a alma pode ser permanentemente
confundida com os sentimentos e sensações que têm a ver com as necessidades do corpo. O
objetivo é transmitir à alma a ordem:
Seja qual for a gravidade das minhas dores de barriga, a soma dos ângulos num
triângulo é sempre cento e oitenta graus. Deste modo, o pensamento pode elevar-se acima
das necessidades do corpo e proceder "racionalmente". Deste ponto de vista, a alma é
totalmente independente do corpo. As nossas pernas podem ficar velhas e fracas, as nossas
costas tortas, e os nossos dentes podem cair - mas dois mais dois serão sempre quatro,
enquanto ainda houver razão em nós. Porque a razão não fica velha e caduca. Os nossos
corpos é que envelhecem. Para Descartes, a própria razão é a alma. Paixões e humores
inferiores como a concupiscência e o ódio estão estreitamente ligados às funções corporais
- e conseqüentemente à realidade extensa.
- Eu não me conformo com o fato de Descartes ter comparado o corpo com uma
máquina ou um autômato.
- O motivo da comparação é o fato de as pessoas, no tempo de Descartes, estarem
completamente fascinadas com as máquinas e os mecanismos dos relógios, que
aparentemente funcionavam por si mesmos. A palavra "autômato" designa precisamente
algo que se move por si mesmo. Mas eles moverem-se por si era apenas uma ilusão. Por
exemplo, os homens construíram nessa época um relógio astronômico e deram-lhe corda.
Descartes acentua que estes mecanismos artificiais são compostos muito simplesmente por
poucas partes, em comparação com as quantidades de ossos, músculos, nervos, artérias e
veias que compõem os corpos de homens e animais. Mas porque é que Deus não havia de
produzir um corpo animal ou humano com base nas leis mecânicas?
- Hoje fala-se muito de "inteligência artificial".
- Estás a pensar nos nossos autômatos atuais. Construímos máquinas que por vezes
nos podem convencer realmente da sua inteligência. Essas máquinas teriam certamente
posto Descartes em pânico.
Talvez ele se interrogasse se a razão humana é realmente tão livre e autônoma
como ele tinha pensado. Há filósofos que pensam que a vida espiritual humana é tão pouco
livre como os processos corporais. A alma de um homem é infinitamente mais complexa do
que qualquer programa de computador, mas há também quem pense que em princípio
somos tão pouco livres como esses programas. "

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O Iluminismo


             Dá-se o nome de Iluminismo à revolução intelectual ocorrida na Europa, e particularmente na França, durante o século XVIII. O Iluminismo (ou Ilustração) foi um movimento intelectual marcado por forte racionalismo e postura crítica. Os intelectuais que defendiam a razão como principal meio para trazer "luz" e conhecimento aos homens foram denominados iluministas e o século XVIII, o "Século das Luzes". Afirmou-se o direito à liberdade e à igualdade entre os homens e foi posta em dúvida a explicação divina para a História.
A ciência adquiriu uma importância fundamental para o progresso humano, mediante as contínuas inovações tecnológicas. Os valores morais do Iluminismo foram a tolerância, o humanismo e o respeito à natureza. Sem abandonar o absolutismo, alguns monarcas adotaram princípios iluministas para reformar e modernizar seus países, ficando conhecidos como déspotas esclarecidos. As artes e o pensamento foram estimulados pela aristocracia e pela Coroa. Nesse "Século das Luzes", destacaram-se os enciclopedistas, com sua ideologia racionalista, e Adam Smith, que assentou as bases do liberalismo econômico.           
             Esse fato foi de fundamental importância, uma vez que proporcionou ao homem a possibilidade de modificar totalmente sua forma de pensar, de agir e, portanto, de encarar o mundo. Agora, o homem não mais atribuía tudo o que acontecia ao seu redor à vontade divina e/ou de algum ente superior. Ao contrário, sua grande preocupação era descobrir o funcionamento de todas as coisas e apenas a razão era capaz de levá-lo a tanto. Era o racionalismo, que rejeitava as formas de pensar acomodadas medievais, todas as formas de autoridade e todas as formas de crença teocêntrica. O homem era o centro do universo.Todo esse novo posicionamento do homem frente ao mundo levou a um espetacular avanço científico.          
Deve-se entender o Iluminismo como uma reação burguesa ao absolutismo. As idéias iluministas procuravam solucionar os problemas concretos enfrentados pela classe recém-chegada ao poder e, ainda, fazer com que o mecanismo social funcionasse a seu favor. Para tanto, propunha-se a reorganização da sociedade e a adoção de uma política centrada no homem, que lhe garantisse sua total liberdade. Encontrar a justificativa para esses pressupostos e impô-los a uma sociedade ainda influenciada pelos valores medievais era o grande objetivo do pensamento iluminista que, portanto, é um pensamento burguês; ainda que alguns filósofos, como Rousseau, tenham adotado linhas de pensamento diversas em seus estudos.
Pensadores Iluministas
I- Voltaire:Contra o Absolutismo e a Igreja

O escritor e filósofo francês François Marie Arouet(1694-1778) pseudônimo Voltaire, foi mais um defensor das liberdades civis do que um reformador  político. Viveu isolado por três anos na Inglaterra, onde foi influenciado pelas idéias de John Locke e de Newton. Voltaire criticava as prisões arbitrárias, a tortura, a pena de morte e defendia a liberdade de expressão de pensamento. era inimigo da igreja católica que chamava de "a infame" e defensor da religião natural, igual para todos os homens, sem doutrinas e os dogmas da  religião cristã . Deísta, acreditava em Deus apenas como criador  do universo, do qual é a causa e o princípio.
II - Rousseau e o Contrato Social.

                Jean Jacques Rousseau (1712-1778) era natural de Genebra, na  Suíça, filho de artesãos e lutou muito contra a miséria. um dos mais importantes escritores do iluminismo francês, suas teorias provocaram grande impacto na educação, na literatura e na política. suas principais obras foram:
- "Discurso Sobre As Ciências E As Artes" e discurso sobre a "origem da desigualdade entre os homens"1755, nos quais afirmava que o homem nasce naturalmente bom, a sociedade é que o corrompe e defende a tese de que os homens, quando viviam no estado de natureza, eram felizes, livres e iguais em direitos porque a propriedade não existia. a desigualdade surgiu quando o primeiro homem cercou um terreno e disse "isto é meu" e os outros aceitaram; a partir desse momento, "surgiram os crimes, as guerras e as injustiças".
– "O Contrato Social" (1762), obra de teoria política onde Rousseau expressa suas opiniões sobre o governo e os direitos dos cidadãos. segundo do ele, ao deixarem o estado de natureza, os homens estabeleceram entre si um contrato ou pacto, através do qual todos seriam iguais perante às leis. o estado  (isto é, a comunidade politicamente organizada) e o governo (isto é, o agente executivo do estado que deve realizar  a vontade geral), nascidos do contrato entre os homens, estavam submetidos as leis que deveriam ser aprovadas pelo voto direto da maioria dos cidadãos.  o soberano, constituído pelo contrato social, é o povo unido ditando a vontade geral, cuja expressão é a lei, afirmava Rousseau: "toda lei que o povo em pessoa não tenha ratificado é nula; não é uma, lei."


III- Montesquieu e a  Divisão De Poderes.

                Montesquieu (1689/1755) , foi um dos mais influentes iluministas franceses do século XVIII. Em 1748, escreveu sua principal obra: o espírito das leis, na qual procurava explicar as leis que regem os costumes e as  relações entre os homens a partir da análise dos fatos sociais, excluindo qualquer perspectiva religiosa ou moral.  Segundo Montesquieu, as leis revelam a racionalidade de um governo, devendo estar submetido a elas, inclusive a liberdade, que afirmava ser "o direito de fazer tudo quanto as leis permitem". para se evitar o despotismo, o arbítrio, e manter a liberdade política, é  necessário separar as funções principais do governo: legislar, executar e julgar. Montesquieu mostrava que, na Inglaterra, a divisão dos poderes impedia que o rei se tornasse um déspota. "tudo estaria perdido se o mesmo homem ou a mesma corporação dos príncipes, dos nobres ou do povo exercesse três poderes: o de fazer as leis, e de executar as resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as desavenças particulares."
IV- Enciclopedistas

Dentre os filósofos franceses do iluminismo, sobressaíram-se Denis Diderot (1713/1784) e Jean D’alembert (1717/1783), organizadores da "Enciclopédia Ou Dictionnaire Raisonné Des Sciences, Des Arts Et Des Métiers" (enciclopédia ou dicionário racional das ciências, das artes e das profissões), obra em 28 volumes que pretendia ser uma síntese completa aos conhecimentos filosóficos e científicos da época. Entre seus colaboradores, contavam-se destacados filósofos, matemáticos, físicos e economistas, que concordavam com o racionalismo e o liberalismo.  os dois primeiros volumes foram publicados em l751, exprimindo concepções políticas revolucionárias um sentimento anti-religioso.
V- Liberalismo Econômico : Os Fisiocratas e o   Laissez Faire
        A crítica dos iluministas ao absolutismo atingiu também a política econômica desse regime: as práticas mercantilistas e a intervenção  do estado na economia eram combatidos, na França, pelos adeptos da escola econômica fisiocrática.  Os fisiocratas (de fisio, natureza; crato, governo, portanto governo da natureza) afirmavam que a verdadeira fonte de riqueza de uma nação  era a terra, sendo a agricultura a principal atividade econômica. a indústria e o comércio apenas transferiam riquezas já existentes de uma pessoa para outra.  Assim como o universo e o corpo humano eram regidos por leis naturais, a economia também  o era, tornando-se pois desnecessária qualquer regulamentação  feita pelo estado. o lema dos fisiocratas era: laissez faire, laissez passer, le monde va de lui-même. seus principais representantes foram François Quesnay, fundador da escola fisiocrata e Turgot, ministro das finanças de Luís XVI entre 1774 e 1776. Como ministro, turgot procurou diminuir a ação do estado na economia, aperfeiçoando o sistema de arrecadação , abolindo algumas corvéias e facilitando o comércio de cereais. nessa época, existiam barreiras alfandegárias entre as diversas regiões do país, que dificultavam a comercialização e a circulação  de mercadorias. o ministro  decretou: que livre a todas as pessoas ... exercer a espécie de comércio e as profissões artesanais que queiram...
VI - Adam Smith

        O escocês Adam Smith é considerado o pai do liberalismo econômico. A riqueza, segundo ele, é alcançada a partir do trabalho, e não da posse da terra. O preço de mercado dos produtos é fixado por meio da lei natural de oferta e procura. Para Smith, só é possível conseguir a justiça social e a harmonia nas sociedades com a livre competição e o livre comércio. A obra mais importante desse economista é a Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações. As idéias de Adam Smith formam a base da atual economia dos países ocidentais.
Para Smith, ao contrário dos mercantilistas, não havia necessidade de o Estado intervir na economia, pois ela era guiada por uma "Mão Invisível", isto é, pelas leis naturais do mercado. Essas leis eram a livre concorrência e a competição entre os produtores as quais determinavam o preço das mercadorias e eliminavam os fracos e os ineficientes. Assim, o próprio mercado regulamentava a economia, trazendo a harmonia social, sem a necessidade da intervenção da autoridade pública.
Smith ensinava que a produção nacional podia crescer através da divisão do trabalho, criando especializações capazes de aumentar a produtividade e fazer baixar o preço das mercadorias. Em seu livro, A. Smith defendeu as leis de mercado, o fim das restrições às importações e dos gastos governamentais improdutivos. 0 Estado deveria intervir somente para coibir os monopólios que impediam a livre circulação das mercadorias. As funções do Estado seriam garantir a lei, a segurança e a propriedade, além de proteger a saúde e incentivar a educação.
Fonte: ?

A REVOLUÇÃO CIENTÍFICA DO SÉCULO XVII


              A partir do século XVI, a ciência passou por grandes mudanças. Muitas teorias, até então aceitas por todos, começaram a ser questionadas. Foram realizados importantes avanços científicos em vários campos. Os trabalhos de Copérnico, Galileu e Kepler revolucionaram a astronomia; os de Fermat e Descartes, a matemática; os de Newton, a física. O surgimento de novos instrumentos técnicos, como o telescópio e o microscópio, facilitou o desenvolvimento das ciências. Porém o mais importante é que nesse período foram estabelecidas as bases do método científico atual. A partir dos estudos de Descartes e de Locke, o empirismo e a sistematização passaram a ser considerados os pilares da ciência moderna.
              Durante o período medieval, poucos avanços na área científica foram realizados. Na Europa, em particular na Península Ibérica, apenas os árabes conservavam amplos conhecimentos técnico-científicos. O Renascimento trouxe um novo impulso para as pesquisas científicas. Racionalismo, experimentação, naturalismo e postura crítica substituíram os princípios determinados pelos "doutores" da Igreja, marcados pelo teocentrismo e forte misticismo (fé como principal instrumento de conhecimento).

Galileu Galilei (1564-1642)

            Galileu foi um físico e astrônomo italiano que se dedicou principalmente a examinar os astros, estabelecendo comparações entre o geocentrismo de Ptolomeu e o heliocentrismo de Copérnico.Suas observações lhe permitiram verificar que a Terra girava em torno do Sol, confirmando o heliocentrismo. Naquele tempo, porém, a Igreja Católica não admitia essas teorias, pois considerava que a Terra era o centro do universo. A Inquisição obrigou Galileu a negar publicamente suas descobertas. Após essa humilhação, diz-se que acrescentou em voz baixa: "Eppur si muove" ("E, no entanto, se move"). Foi o inventor do telescópio e do termômetro.


Descartes(1596-1650)

              René Descartes, considerado o "pai da filosofia moderna" e precursor do racionalismo, foi um filósofo e matemático francês que se dedicou, sobretudo, a assentar as bases de uma ciência universal. Para tanto, realçou o valor da ordem e das medidas. A aritmética e a geometria seriam os fundamentos dessa nova ciência, entendida como "matemática universal". Descartes estabeleceu a necessidade de duvidar (dúvida metódica) de qualquer fato, inclusive quando parece evidente, até ser comprovado pelo método científico. Seu método filosófico foi edificado a partir de importante conclusão: "Penso, logo existo".

Veja esse vídeo:


 O desenvolvimento das ciências
Durante os séculos XVI e XVII foram realizados importantes avanços no campo científico. Apesar desses progressos, muitas idéias medievais foram conservadas. A aplicação dessas pesquisas à vida cotidiana só culminou no final do século XVIII com a invenção da máquina a vapor e o início da Revolução Industrial. Até esse momento, poucas pessoas se beneficiavam dos conhecimentos científicos.
Nos séculos XVII e XVIII, a influência do racionalismo de Descartes chegou até a medicina. Multiplicaram-se os estudos de anatomia e os conhecimentos sobre o corpo humano e seu funcionamento avançaram muito. Na realidade, essas pesquisas não permitiram melhorar de imediato o tratamento dos doentes, porém, os estudos dessa época foram essenciais para que, a partir do século XIX, a medicina científica pudesse se consolidar.

Fonte:?

domingo, 17 de fevereiro de 2013

A Primeira Guerra Mundial




O SÉCULO XX : A ERA DOS EXTREMOS

Vivi a maior parte do século XX, devo acrescentar que não sofri provações pessoais.
Lembro-o apenas como o século mais terrível da História”.
Isaiah Berlin, filosofo, Grã-Bretanha.
“ Se eu tivesse de resumir o século XX, diria que despertou as maiores esperanças já concebidas pela humanidade e destruiu todas as ilusões e ideais.”
Yehudi Menuhin, músico, Grã-Bretanha


          A denominação Era dos extremos, dada pelo historiador Eric Hobsbawm, cabe perfeitamente ao século XX. Foi o século do surgimento de novas tecnologias, como a aviação, da conquista do espaço, da TV, da internet, que permitiram a  diminuição constante da distancia  entre as regiões do mundo.  Foi o período do aumento da produção industrial e  alimentícia, o que não impediu que o século XXI iniciasse com milhões de pessoas passando fome. 
No século XX houve um grande aumento populacional(já somos mais de três bilhões de habitantes na Terra), assim como o predomínio da vida urbana sobre a rural.
Foi a era de duas guerras mundiais, e outras inumeráveis localizadas, que provocaram a morte de mais de 180 milhões de pessoas. Foi o século das bombas atômicas, das armas biológicas, do genocídio de judeus e de curdos, do terror da Guerra Fria e do pavor provocado pelo terrorismo. 
  Daí a importância de se conhecer o processo histórico do ultimo século, além do seu reflexo e influência sobre o presente. É através desse conhecimento que poderemos compreender muito do que vivemos e acreditamos hoje, seja progresso ou retrocesso. Ou como nos diz poeticamente Carlos Drumonnd de Andrade, entenderemos o homem presente: “O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,a vida presente”.


A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL (1914-1918)

Começamos nossa viagem pelo século XX com a guerra que deu início de fato ao século. A Grande Guerra foi diferentes das que haviam existido até então, pois foi um  conflito bélico generalizado que envolveu todas as grandes potências do mundo de então, e resultou numa completa mobilização econômica, tecnológica e militar. Quando a guerra se iniciou todos os países esperavam que a guerra fosse breve e que ao final seriam beneficiados. Como veremos o resultado não foi bem esse.
A Primeira  guerra possuía vários antecedentes, dentre eles destacamos os seguintes: A disputa entre França e Alemanha pela região de Marrocos na África, a chamada Questão Marroquina (1904);  a corrida imperialista sobre a Ásia e a África que provocava problemas entre as nações européias, principalmente no tocante à divisão das áreas coloniais.  Esse imperialismo provocou o rompimento do equilíbrio europeu, quando a Alemanha terminou seu processo de unificação e desponta como potência, que passando a exigir uma redivisão de mercados e colônias.
Outro fator importante para se entender a guerra era a rivalidade industrial, naval e bélica entre Inglaterra(que havia se industrializado primeiro) e Alemanha. Esse clima de rivalidade provocou uma corrida armamentista,  que se caracterizou pela busca de fabricação e compra pelos países europeus de tanques de guerra, encouraçados, submarinos, aviações, etc., como forma de se preparar para uma possível guerra, era a chamada  Paz Armada.
Os países acabaram se unindo através de uma política  de Alianças. De um havia a  Tríplice Aliança: Alemanha, Áustria-Hungria e Itália, e do outro lado a Tríplice Entente: Inglaterra, França e Rússia. A aliança era para defesa mútua dos participante.

Um problema sério naquela época( e que durou praticamente durante todo o século XX) foi a chamada  Questão Balcânica, provocada pela diversidades de nacionalidades na região dos Balcãs. A Rússia defendia o pan-eslavismo (unificação dos eslavos balcânicos), apoiava a Sérvia (encabeçava o movimento pan-eslavista balcânico) e desejava dominar a região do mar Negro ao mar Egeu através dos estreitos de Bósforo e Dardanelos. Do outro lado, a Alemanha defendia a Áustria-Hungria e planejava construir a estrada de ferro Berlim-Bagdá para barrar o avanço russo e ter acesso às áreas petrolíferas do Golfo Pérsico, ameaçando os interesses ingleses nessa região. Já a Sérvia pretendia construir a Grande Sérvia na região.

            A causa imediata da guerra foi o assassinato do herdeiro do trono austro-húngaro Francisco Ferdinando. Em resposta ao assassinato de Francisco houve a invasão da Sérvia pelos austro-húngaros provocando uma declaração de Guerra. A Rússia se envolveu no conflito (pan eslavismo) e logo em seguida a Alemanha também declarou guerra contra a Rússia ficando ao lado da Áustria - Hungria (pan germanismo). A Alemanha declarou guerra também contra a França e invadiu a Bélgica. Em resposta a esta invasão a Inglaterra declarou guerra contra a Alemanha. As alianças destes países fora do continente europeu foram inevitavelmente arrastadas para dentro do conflito.
· Fases:
- Guerra de Movimento: 1914.  Caracterizada por um rápido e constante avanço das tropas e tomadas de território inimigo. Os alemães invadiram a Bélgica, derrotaram os franceses e caminharam rumo a Paris. Logo de imediato, a capital e o governo francês foram transferidos para a cidade de Bordeaux e os franceses conseguiram conter os ataques dos alemães, que recuaram a ofensiva em setembro de 1914.

- Guerra de Posição ou de Trincheiras: 1915-18. Foi a época em que ocorreram as maiores estratégias militares (os avanços dos exércitos custavam milhares de vidas). Nesse momento, teve início a chamada guerra de trincheiras, quando os exércitos se enterraram em valas com a finalidade de proteção.

· 1917: Foi o ano da reviravolta da guerra, em que a tríplice aliança começa a ser vencida.
Tratado de Brest-Litovski:
- retirada da Rússia da guerra devido à revolução socialista.
Nesse mesmo ano,  o afundamento de navios norte-americanos pelos alemães leva os EUA a entrar na guerra .O poderio industrial, humano e bélico norte-americano possibilitou a retomada da ofensividade aliada e várias vitórias militares.
· Armistício de Compiegne:
- assinado com a Alemanha.
- pôs fim a Iª Guerra Mundial.
 TRATADOS DE PAZ:
O presidente americano propôs uma “paz sem vencedores”, os  14 Pontos de Wilson. A possibilidade de paz foi inviabilizado por acordos paralelos e por pressão da França e da Inglaterra.  Em 1919 foi assinado com a Alemanha o Tratado de Versalhes que  considerou a Alemanha culpada pela guerra, punindo-a com a cessão de territórios: devolução da Alsácia-Lorena e perda das colônias.   Foi obrigada a pagar indenizações aos vencedores e se desarmar.
O Tratado também  oficializou a criação da Liga das Nações com o objetivo de  manter a paz mundial.  A Liga nasceu falida devido à ausência dos EUA, Alemanha e Rússia.
Outro tratado assinado foi o  de Saint-Germain , assinado com a Áustria.  Ele desmembrou o Império Austro-Húngaro e fez surgir novos paises como a Polônia, Tchecoslováquia, Hungria e Iugoslávia.
Os tratados de paz provocaram revanchismo e descontentamento além da progressiva degradação dos ideais liberais e democráticos. Houve um fortalecimento do nacionalismo e a crise econômica gerou desemprego na Europa e o seu declínio no cenário internacional, com  a  ascensão dos EUA como potencia. Podemos afirmar que as questões não resolvidas da Primeira Grande Guerra levaram o mundo novamente a uma guerra global, em 1939.