quarta-feira, 9 de março de 2016

O requerimento de 1513

Da parte do rei, Dom Fernando, e de sua filha, Dona Juana, rainha de Castela e de Leão, domadores de povos bárbaros, nós, seus servos, notificamos e fazemos saber a vocês, da melhor maneira que podemos, que Deus nosso Senhor, uno e eterno, criou o céu e a terra, e um homem e uma mulher, de quem nós e vocês e todos os homens do mundo foram gerados e são descendentes, bem como todos que vieram depois de nós. Porém, devido à multidão de descendentes que geraram esse homem e essa mulher nos mais de cinco mil anos desde que o mundo foi criado, foi necessário que alguns homens fossem para uma região e outros para outra, e que se dividissem em muitos reinos e províncias, visto que em uma só não se podiam sustentar e conservar.

De todos esses povos Deus nosso Senhor designou um homem, chamado São Pedro, para ser senhor de todos os homens do mundo e para que a ele todos obedecessem; para que fosse dirigente de toda a raça humana onde quer que vivessem os homens, debaixo de qualquer lei, fé ou crença. A ele Deus deu o mundo por reino e jurisdição, e mandou que tomasse assento em Roma, como lugar mais adequado de onde pudesse reger o mundo e julgar e governar todos os povos, fossem cristãos, muçulmanos, judeus, gentios ou de qualquer outra fé ou crença. A esse deu-se o título de Papa, porque quer dizer admirável, grande pai e governador de todos os homens.

Os que viviam naquele tempo obedeceram a este São Pedro e tomaram-no por senhor, rei e dirigente do universo, e aqueles que depois de São Pedro foram eleitos ao pontificado têm recebido a mesma consideração. Assim tem permanecido até o dia de hoje, e assim permanecerá até que acabe o mundo.

Um dos pontífices passados que sucedeu São Pedro nessa dignidade e nesse trono na qualidade de senhor do mundo doou estas ilhas e estas terra firmedo mar Oceano aos ditos Rei e Rainha e aos seus sucessores, com tudo que contém estes territórios, como está registrado em certos documentos que discorrem sobre o que foi dito, e que vocês poderão examinar caso desejarem.

Portanto, em virtude da mencionada doação, suas majestades são reis e senhores destas ilhas e desta terra firme. Algumas ilhas, e na realidade praticamente todas que têm sido notificadas desta maneira, têm recebido suas majestades como reis e senhores, e os têm obedecido e servido como súditos devem fazer: servindo com boa vontade e sem nenhuma resistência e portanto sem atraso, assim que foram informados dos fatos acima mencionados. Esses povos obedeceram e acolheram do mesmo modo os religiosos que suas altezas lhes enviaram para pregar e ensinar a nossa Santa Fé; todos eles de sua livre vontade e de bom grado, sem prêmio nem condição alguma, tornaram-se cristãos e assim permanecem, e suas majestades os acolheram com alegria e benignidade, e em conformidade mandaram que fossem tratados como os demais súditos e vassalos – sendo que vocês estão sujeitos e são obrigados a fazer o mesmo.

Pelo que, da melhor maneira que podemos, rogamos e requeremos que vocês entendam bem o que dissemos, e que tomem para entendê-lo e deliberar sobre ele o tempo que for justo; que reconheçam a igreja como senhora e dirigente do mundo universo, e ao Sumo Pontífice, chamado Papa, em seu nome, e ao Rei e à Rainha Dona Juana, nossos senhores, em sua condição de dirigentes e reis destas ilhas e terra firme, por virtude da mencionada doação, e que consintam e deem ocasião para que esses padres religiosos declarem e preguem o que acima foi dito.

Se concordarem em fazer aquilo a que estão sujeitos e obrigados, estarão fazendo bem. Suas altezas, e nós em seu nome, os acolheremos com todo amor e caridade, e deixaremos livres e sem escravidão a vocês, a suas mulheres e filhos e às suas terras, para que façam delas e de vocês mesmos o que bem entenderem e quiserem, e não os obrigarão a tornarem-se cristãos – a não ser que, informados da verdade, queiram converte-se à nossa santa Fé Católica, como têm feito quase todos os habitantes das ilhas vizinhas. Além disso, suas majestades lhes darão privilégios e regalias e lhes concederão inúmeros benefícios.

Se assim não fizerem, ou se maliciosamente adiarem a decisão, certifico que com a ajuda de Deus entraremos poderosamente no seu território, faremos guerra contra vocês de todos os modos e maneiras possíveis, e os sujeitaremos ao jugo e à obediência da Igreja e de Suas Majestades. Tomaremos como escravos a vocês, suas mulheres e seus filhos, e como tais os venderemos e disporemos deles do modo que ordenarem Suas Majestades, e tomaremos os seus bens, e a vocês faremos todos os males e danos de que formos capazes, como a vassalos que não obedecem nem querem receber ao seu senhor, mas o resistem e contradizem. E com a presente declaramos que as mortes e danos que de tudo isso resultarem serão culpa de vocês e não de Suas Majestades ou nossa, nem desses cavalheiros que nos acompanham. E de que diante de vocês dissemos e requeremos essas coisas pedimos que firme por escrito o presente escrivão, e que sejam testemunhas os demais presentes.

Fonte:http://www.baciadasalmas.com/requerimiento


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