quarta-feira, 3 de março de 2021

I- O poder local dos coronéis


Durante toda a República Velha - de 1889 a 1930 - as mes­mas oligarquias mantiveram o domínio político no país Isso só foi possível porque a oposição foi mantida longe de poder. Para tanto, o governo contava com a ajuda dos coro­néis, os grandes proprietários de terra que controlavam a vida dos municípios.

Figura respeitada e temida no interior do país, o coronel tinha à sua volta numerosos dependentes: empregados, tra­balhadores da vizinhança e moradores da cidade (pequenos comerciantes, delegado, padre etc.). Era ele quem conseguia emprego, nomeações, proteção contra a ação da justiça e con­tra inimigos. Em troca, o coronel exigia da "sua gente" fideli­dade total, especialmente nas eleições, quando todos deveri­am votar nos candidatos indicados por ele.

O eleitor era pressionado de diversas formas, desde o su­borno com favores e presentes até a ameaça física. Como o voto era aberto, sabia-se no ato da votação qual era a escolha do eleitor . Tornava-se quase impossível contrariar a von­tade do coronel. O chamado voto de cabresto (voto forçado) e o clientelismo (as relações de dependência e troca de favores entre o coronel e os eleitores) garantiam a vitória eleitoral das oligarquias e a sua manutenção no poder.

Quanto maior o número de votos obtidos para a oligarquia, maior era o prestígio do coronel junto ao governo estadual, que em troca concedia-lhe favores e liberava verbas para o mu­nicípio . O controle de um grande "curral eleitoral" era a base do poder político dos coronéis e, para muitos, a única força que possuíam, já que nem todo coronel era rico. Se o eleitora­do fosse pequeno, usavam-se artifícios para aumentá-lo: obri­gavam-se os eleitores a votar em duas ou mais seções, conta­vam-se os votos de pessoas falecidas, davam-se títulos a me­nores de 21 anos e a analfabetos etc. .

No caso de um candidato "indesejável" ser eleito, havia ainda outro recurso para eliminá-lo: a Comissão de Verifica­ção dos Poderes ["^j. Ela tinha a função de apurar a veracida­de do resultado das eleições e podia impedir a posse de um candidato eleito, em caso de fraude ou irregularidade. Durante a República Velha, a comissão foi usada para a "degola" (im­pedimento) dos candidatos eleitos da oposição. Só eram reconhecidos e empossados os candidatos oficiais.

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