terça-feira, 20 de novembro de 2012

Dia Nacional da Consciência Negra


O dia 20 de novembro é denominado o Dia Nacional da Consciência Negra. É uma referência à morte de Zumbi, o então líder do Quilombo dos Palmares, em 1695. Zumbi é visto como um dos símbolos de resistência negra à escravidão.  Essa data é marcada por várias críticas e oposições, já que muitos a consideram desnecessária, pois vivemos em um país plurirracial, e ao se estabelecer um dia para celebrar uma raça, estaríamos fomentando o preconceito racial. Minhas reflexões a seguir tentarão compreender a importância de uma data como essa para os brasileiros.

A primeira questão a se colocar é que se há uma data especifica para se pensar nacionalmente a questão racial negra é porque ela não está resolvida. Ainda hoje, os dados estatísticos apontam que a população negra brasileira tem mais dificuldade de inserção no mercado de trabalho, menor grau de escolarização e pouco acesso aos bens culturais. Esse fato é inegável. O argumento de que esse problema é simplesmente social, pois fruto da má distribuição de renda histórica em nosso país não me parece correto, pois pode ser entendido como um reforço à discriminação racial, já que os negros e pobres sofrem duplo preconceito, ou seja, além do preconceito de classe, o negro pobre ainda enfrenta o preconceito racial.

Os mais de 300 anos de escravidão em nossa sociedade estabeleceram e congelaram os papeis sociais entre brancos e negros, estigmatizando determinadas funções como sendo de pretos e outras de brancos. Naturalizou-se assim a ideia de que existe um lugar para os negros, e se eles ficarem quietinhos ali não sofrerão discriminação. Quando o negro ousa abrir a boca, “O branco cala ou deixa a sala com veludo nos tamancos”, afirma a música “Respeitem meus cabelos, branco”, de Chico Cesar. Não se estabelece o diálogo, pois a questão é rebaixada como algo de menor importância, chamada de “mimimi”.

É interessante notar que quando se fala no 13 de maio, que é o dia da Lei Áurea, há pouca resistência a ele. Ora, a ideia de que a escravidão no Brasil chegou ao fim devido à bondade da princesa Isabel não atormenta às elites culturais e econômicas do país. Mas o 20 de novembro é problemático para esses setores, pois ele coloca os negros como protagonistas de sua história, já que é a memória da resistência negra que é resgatada.  Como afirma o historiador Mário Maestri, “se apurarmos o ouvido, escutaremos os atabaques chamando às armas, anunciando a chegada dos negreiros malditos. Sentiremos a reverberação dos tam-tans lançados do fundo da história, lembrando às multidões que labutam, hoje, longuíssimas horas ao dia, não raro até a morte por exaustão, por alguns punhados de reais, nos verdes canaviais dessas terras que já foram livres, que a luta continua, apesar da já longínqua morte do general negro de homens livres.”

O Dia Nacional da Consciência Negra é importante para refletirmos sobre como a sociedade tem lidado com o racismo, já que o mito da democracia racial nos impede até de discutirmos o assunto. Penso que, em uma sociedade igualitária de fato não seria preciso o estabelecimento de dia do negro, do índio, da mulher, do combate à homofobia etc. Mas enquanto tais questões não forem resolvidas, o debate tem que ocorrer e todos nós temos um dever moral de nos posicionarmos quanto a esse problema.

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