sábado, 8 de setembro de 2012

O "Milagre Econômico" da Ditadura


Um milagre para poucos  
Durante o período de maior repressão no regime militar, os indicadores mostravam uma economia saudável e em ritmo de crescimento acelerado no Brasil. O País vivia o momento mais próspero em termos de crescimento. O milagre econômico, que teve início em 1969 e auge em 1973, foi conduzido pelo general Emílio Garrastazu Médici.

O ministro da Fazenda, Antônio Delfim Netto, era chamado de “czar da economia”. A classe média era adulada com os bons indicadores e com o enriquecimento do País a olhos vistos. O milagre era uma moeda-de-troca: o governo oferecia prosperidade no lugar de liberdade individual e política.

O País chegou a crescer 7% ao ano, mas o preço disso foi alto. A conta seria cobrada nas décadas seguintes. Por causa do autoritarismo na condução da política econômica – que atendeu aos interesses imediatos dos generais de manter uma “ilha de prosperidade num mar de depressão” –, o Brasil não pisou no freio no momento em que a economia mundial se recolhia em conseqüência da crise do petróleo. O resultado disso foi um endividamento externo enorme, que transformou os anos 80 em “década perdida”.

Logo após o golpe de 1964, quando os militares derrubaram o presidente João Goulart e o marechal Castelo Branco assumiu o poder, a economia brasileira estava em crise. A inflação era crescente e o País precisava de um ajuste, feito em quatro anos pelo novo regime. “É mais fácil exigir sacrifícios quando você tem um governo forte do que quando se está numa democracia. O governo militar não precisava explicar nada para ninguém, era só fazer o ajuste”, afirma Jorge Nogueira, chefe do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB).

Economia ajustada, chegou a hora de crescer. O foco do governo era o investimento na infra-estrutura. Os setores de telecomunicações, energia elétrica e petroquímica se desenvolveram. O governo incentivava o consumo, com financiamentos de até 60 meses. “Com as decisões rápidas e fechadas do governo militar, o Brasil cresceu rápido como um foguete”, diz Jorge Nogueira.

Política econômica foi “mãe” da classe média

A política econômica da ditadura privilegiou alguns setores. Empresários que apoiavam o regime militar receberam incentivos. De um modo geral, a situação econômica melhorou para todos, mas de forma desigual. A classe média cresceu. Ricos ficaram muito mais ricos. Pobres ficaram apenas menos pobres. Segundo o professor da UnB, o regime militar estimulou a desigualdade. A classe média foi a “filha querida” do governo.

O entusiasmo com o bom desempenho da economia fez com que o governo militar tomasse a decisão errada quando o mundo enfrentou a primeira crise do petróleo. No final de 1973, o preço do barril do petróleo subiu excessivamente. Em 1979, houve outro choque nos preços do combustível. Todos os países retraíram sua economia, com exceção do Brasil. O grande problema é que o País precisa de capital externo para continuar crescendo. Como não havia mais investimentos, o governo optou pelos empréstimos.

“Os militares, dentro de uma euforia, resolveram manter o desenvolvimento tomando emprestado os chamados petrodólares, que estavam abundantíssimos e a juros baixos”, conta João Paulo de Almeida Magalhães, integrante do Conselho Federal de Economia e pesquisador do Instituto de Estudos Políticos e Sociais. Mas os juros eram flutuantes e ficaram muito altos. “O País ficou muito vulnerável. O aumento das taxas de juros internacionais fez a dívida explodir e o Brasil parar de crescer”, afirma Paulo Vizentini, historiador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O final do governo militar ficou marcado pela crescente dívida externa e inflação galopante. Além da responsabilidade de redemocratizar o País, o governo civil herdou uma economia decadente, distante do milagre vivido anos antes.

Enquanto os brasileiros comemoravam o fim da ditadura no País, em 1985, a equipe econômica do presidente José Sarney se preocupava com o controle da inflação. Ao assumir a Presidência, depois da morte do presidente Tancredo Neves, Sarney lançou o Plano Cruzado e congelou preços e salários.

 
Jornal Estado de Minas, 28 de março de 2004.

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